quinta-feira, dezembro 29, 2005

AUTO DA BARCA DAS PRESIDENCIAIS (parte II)


Vem o Fidalgo Mário Soares e, chegando ao batel infernal, diz:

Fidalgo: Esta barca onde vai ora,
que assi está cheia de galões?

Diabo: Vai pera a ilha sem eleições
e há-de partir logo ess’ora.

Fidalgo: Pera lá vai a senhora?

Diabo: Senhor, a vosso serviço.

Fidalgo: Parece-me isso cortiço…
Nas minhas inúmeras viagens
vi muito melhor do que isso!

Diabo: Porque a vedes lá de fora.
Fidalgo: Porém, a que terra passais?

Diabo: Para o Inferno sem eleições, senhor.

Fidalgo: Terra é bem sem-sabor.

Diabo: Quê? E também cá zombais?

Fidalgo: E passageiros achais
pera tal habitação sem presidenciais?

Diabo: Vejo-vos eu em feição,
pera ir ao nosso cais…

Fidalgo: Parece-te a ti assi!...

Diabo: Em que esperas ter guarida?

Fidalgo: Que leixo na outra vida
quem vote sempre em mim.

Diabo: Quem vote sempre em ti?!...
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
E tu fizeste campanha a teu prazer,
cuidando cá guarecer
por que votam lá por ti?!...
Embarcai. Hou! embarcai,
que haveis de ir à derradeira.
Mandai meter a tartaruga,
que assi passou vosso pai.

Fidalgo: Quê? Quê? Quê?
Assi lhe vai?

Diabo: Vai ou vem, embarcai prestes!
Segundo lá escolhestes,
assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes,
haveis de passar o rio.

Fidalgo: Não há aqui outro navio?

Diabo: Não, senhor, que este fretastes,
e primeiro que espirastes
me deste logo sinal.

Fidalgo: Que sinal foi esse?

Diabo: Do que vós vos contentastes.

Fidalgo: A estoutra barca me vou.
Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou!
(Par Deos, aviado estou!
Cant’a isto é já pior…)
Que giricocins, salvanor!
Cuidam que não tenho idade
pera ser mais repeitado?

Anjo: Que quereis?

Fidalgo: Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso eleitoral
é esta em que navegais.

Anjo: Esta é; que demandais?

Fidalgo: Que me leixeis embarcar.
Sou o melhor dos candidatos,
é bem que me recolhais.

Anjo: Não se embarcam convencidos
neste batel divinal.

Fidalgo: Não sei porque haveis por mal
que entre a minha senhoria…

Anjo: Pera a vossa sede de poder
mui estreita é esta barca.

Fidalgo: Pera senhor de tal idade
nom há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!

Anjo: Não vindes vós de maneira
pera ir neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
a tartaruga entrará,
os bilhetes de viagens acomodar-se-ão,
e o rabo caberá
e todo o vosso senhorio.
Vós ireis mais espaçoso
com convencida senhoria,
cuidando que éreis o melhor
o pobre povo queixoso não ouvistes
e por isso levastes;
e porque, de mentiroso,
afirmastes que não vos recandidatáveis
e fizestes de nós ursos
que temos de ouvir os vossos discursos.
Não tivestes pejo
em passar por cima do teu amigo
só porque gostais mais do vosso umbigo.

Diabo: Às eleições, às eleições, senhores!
Oh! que maré tão de prata!
Um ventozinho que mata
e valentes candidatos!

Diz cantado:
Vós estais doidinhos para lixar o povo;
para lixar o povo estais doidinhos.

Fidalgo: Ao Inferno todavia!
Inferno há i pera mi?
Ó bochechas! Enquanto me recandidatei
não cuidei que o i havia.
Pensava que era fixe;
não, que era fixíssimo;
Folgava dizer mal do Cavaco
e não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos
Essa barca sem vitórias eleitorais.

Diabo: Embarque a vossa gordura,
que cá nos entenderemos…
tomarês um par de remos,
veremos como remais,
e, chegando ao nosso cais,
todos bem vos apoiaremos.

Fidalgo: Esperar-me-ês vós aqui,
tornarei à outra vida
ver minha Brigada do Reumático querida
que está muito triste por mi.

Diabo: Que está muito triste por ti?

Fidalgo: Isto bem certo o sei eu.

Diabo: Ó candidato sandeu,
o maior que nunca vi!...

Fidalgo: Como pod’rá isso ser,
que m’apoiava sempre?

Diabo: Quantas mentiras ouvias,
e tu… morto de prazer!...

Fidalgo: Pera que é escarnecer,
que não havia outro que mais adorassem?

Diabo: Assi tires tu a sesta, amem,
como te tinha querer!

Fidalgo: Isto quanto ao que eu conheço…

Diabo: Pois estando tu espirando,
estava a Brigada apoiando
outro candidato de menos preço.

Fidalgo: Dá-me licença, te peço,
que me recandidate às eleições de 2011.

Diabo: E o povo, por não te ver,
despenhar-se-á dum cabeço.
Quanto o povo hoje rezou,
antre seus gritos e gritas,
foi dar graças infinitas
a quem o desassombrou.

Fidalgo: Cant’a ele, bem chorou!

Diabo: Nom há i choro de alegria?

Fiadalgo: E as lástimas que dizia?

Diabo: Era tudo uma grande mentira.
Entrai! Entrai! Entrai!
Ei-la prancha! Ponde o pé…

Fidalgo: Entremos, pois que assi é.

Diabo: Ora, senhor, fazei uma sesta,
passeai e discursai.
Em tanto vinrão mais candidatos.

Fidalgo: Ó barca, como és ardente!
Maldito quem em ti vai!

Diz o Diabo à Page Joana Amaral Dias:

Diabo: Nom entras cá! Vai-te d’i!
A tartaruga é cá sobeja:
cousa que esteve nas mãos de uma bloquista
nom há-de embarcar aqui.
Cousa que assistiu ao fim
da amizade entre Soares e Alegre
não pode ir neste palanquim…
Às eleições, às eleições, bons candidatos,
que queremos votar!
Chegar a elas! Chegar a elas!
Muitas e de boa mente!
Oh! Que campanha tão valente!

Segundo lá escolhestes,/ assi cá vos contentai: de acordo com a vida levada na terra, a alma será castigada ou recompensada;
Não, senhor, que este fretastes,/ e primeiro que espirastes/ me deste logo sinal: quando o Fidalgo morreu, já se sabia que iria para o Inferno;
Do que vós vos contentastes: actos ilícitos e pecaminosos do Fidalgo;
Cant’a isto é já pior…: inquietação do Fidalgo face ao silêncio com que é acolhido pelo Anjo;
Que giricocins, salvanor!: que anos, meu Deus!;
atavio: apetrechos.


Maria Ortigão

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Não sei se alguém já se lembrou...?

... mas a culpa de Soares ter voltado ao activo é do partido Socialista que adiou a idade da reforma! Só falta explicar ao Sr. que já passou da idade; é natural que tenha problemas de memória principalmente quando se confunde 81 com 18.
M.Q.

Conversas reais

Num café... ouve-se o ruído da rua.

Interveniente número um pergunta:
- O que é isso, campanha para as Presidenciais?

Número dois responde:
- Não, é do circo! a diferença não é muita.

Número um:
- pois não, os palhaços é que são diferentes!


M.Q.

sábado, dezembro 24, 2005

ADAPATAÇÃO LIVRE DA HISTÓRIA DO NATAL



Só para provar que os homens são parvos, eis a história do maior logro de sempre que atesta a superioridade feminina.
Tudo começou quando Maria revelou a sua gravidez a José, dizendo que ia ter um filho imaculada e divinamente concebido. Apesar de tudo, louvável a atitude de José ao aceitar e criar como sua uma criança não biológica. Já não se fazem homens como antigamente!
Na verdade, o que aconteceu foi que, durante uma noite, no banco de trás da carroça de um qualquer pastor abastado (já naquela altura, havia quem tivesse bombas com dois cavalos), Maria teve o azar de usar um preservativo defeituoso. Como a Igreja Católica é contra a utilização de tais métodos contraceptivos e, na impossibilidade de processar a marca dos preservativos, aceitou uma história que ratifica a omnipotência de Deus.
Naquele tempo, o mau funcionamento do Estado obrigava um cidadão a deslocar-se muitos quilómetros para se recensear na cidade de nascimento, por isso, José e Maria partiram. Durante a viagem de regresso, José teimou em não parar para perguntar o caminho para uma estalagem, a fim de descansarem. Assim, tiveram de passar a noite numa gruta. E nasceu Jesus.
Estando a experimentar as maravilhas do turismo rural, a família escapou à cruel decisão do rei da Galileia. A felicidade dos jovens teria sido interrompida por um louco governante, ciente de uma profecia que vaticinava o nascimento do Salvador. Por isso, e com medo de perder o seu poder e de não conseguir continuar a distribuir “jobs for the boys”, mandou matar todos os varões até três anos de idade.
Entretanto, na Lapónia, o Pai Natal queixa-se por ter de tanto trabalhar um só dia por ano. Mal sabia ele que tal paraíso também existe nas repartições de finanças portuguesas. A bem dizer, queixa-se sem razão, porque por detrás de tão grande sucesso está a Mãe Natal que se encarrega da gestão da fábrica de brinquedos. E ainda é uma extremosa esposa que lhe passa a ferro o fato e lhe enche o enorme bandulho.
Bem, chegou a hora de começar a distribuir os presentes. O Pai Natal aparelha o trenó e dá início à volta ao mundo num dia. E houve um incapaz muito apreciado que demorou mais 79!
Os três Reis Magos ficaram pior que estragados com as prendas que o Natal lhes trouxera. Ouro, incenso e mirra? Que coisa mais fora de moda! Até parece que a nobreza já não tinha montanhas de ouro, de incenso e de mirra. Não se podiam ficar, por isso decidiram ir atrás daquele velhote, patrocinado pela Coca-cola.
Quando olharam pelas vidraças dos seus palácios, ainda foram a tempo de ver o rasto que o nariz brilhantemente vermelho da rena Rodolfo deixava na noite escura. Aquilo é que era um bebedolas! O Rodolfo, sempre que podia, metia o focinho na garrafeira da Lapónia e era carraspana atrás de carraspana. Tinha tido sorte até agora, uma vez que nunca fora apanhado por nenhuma brigada de trânsito aéreo.
Aproveitando, então, a luz de uma das renas do Nicolau, os três Reis Magos montaram nos seus camelos e seguiram o trenó. No entanto, não conseguiram apanhá-lo e viram-se, de repente, numa terra distante. Reparam que os pastores locais iam ver uma criança que tinha nascido há pouco. Gente pobre gosta muito destas lamechices, pensavam os Reis. Até que tiveram uma brilhante ideia. O que se faz com as prendas que recebemos e das quais não gostámos? Oferecem-se a outros na primeira ocasião que tivermos. Foi assim que os Reis Magos seguiram os pastores até ao local, onde tinha nascido a criança.
Quando chegaram, deram o ouro, o incenso e a mirra à família. Como era pobre, devia gostar. Os nobres só se arrependeram de uma coisa: não terem chegado mais cedo para ajudar a escolher um nome mais engraçadito para o puto. Jesus! Por amor de Deus, esse nome nunca há-de pegar!

Manuela Queirós
Maria Ortigão



domingo, dezembro 18, 2005

So porque eu gosto mais de J. Palma...

[...como é que era?...] aquando da explicação acerca do É tão bom: "...a malta dos 25, na frente dos concertos começou a pedir, em estado natural sem (ingerir) químicos..." Alguém explica ao sr. Godinho que a Adrenalina é uma substância quimica, natural que altera o estado de espírito, consciência?!
M.Q.

Coincidência/ (subconsciente?!)

estar a ler o Evangelho segundo Jesus Cristo, de Saramago, quando Cavaco se habilita a um novo cargo político(?!)
M. Q.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

DIÁRIO DE UMA UTENTE DOS SERVIÇOS DA SEGURANÇA SOCIAL, A SAGA CONTINUA…


14 de Novembro de 2005


Querido Diário, voltei ao local do crime. Sim, pela tua expressão horrorizada sei que já percebeste que fui aos eficazes, eficientes, rápidos, absolutamente competentes e extraordinariamente simpáticos (nota, amigo pautado e de capa dura, que estes adjectivos, que acabei de rabiscar, saíram assim, PUFF, sem meditar) Serviços Sociais.
Mas por que motivo me fui lá enfiar outra vez, perguntas tu, temendo que eu ande sob o efeito de narcóticos. Sossega, pequeno caderno, não é nada disso que tu estás a pensar. No entanto, o que nós não fazemos pela nossa mãe? Não a podia deixar ir sozinha àquele antro de perdição.
Pois bem, a minha mãe ia dar, como faz todos os meses, a sua contribuição para a Segurança Social. Quando chegou a sua vez, o senhor que a atendia disse-lhe que não podia aceitar o pagamento, porque a minha mãe, segundo as informações que tinha no computador, já não pagava desde Março de 2003. Ah! Ah! Ah! Para além de eficazes, eficientes, rápidos, absolutamente competentes e extraordinariamente simpáticos são danados para a brincadeira, os doidivanas! Foi, então, que eu reparei que o senhor não se ria. Quer dizer que, apesar de a minha mãe, efectivamente, ter as contas em dia, como o comprovam os recibos que tem em casa e de ter, naquele momento, o recibo do mês anterior à frente do nariz do funcionário, estava a ser dada como devedora ao Estado. E mesmo que fosse devedora ao Estado, só se lembravam de avisar dois anos e nove meses depois?!
Tivemos de ir ao departamento de informações para saber o que fazer. Havia trinta pessoas à frente e eu sem livro. Ou via o “Natal dos Hospitais” sem som ou lia as revistas “Maria”, ou seja, encontrava-me num dos círculos do inferno de Dante.
Muito tempo depois e com o cérebro um pouco vegetalizado, chegou a nossa vez. Foi-nos dito exactamente o mesmo, que a minha mãe era uma caloteira do caraças e que para tentar regularizar a situação havia que fazer uma reclamação por escrito, acompanhada de fotocópias de todos os recibos dos pagamentos feitos a partir de Março 2003. Tentar regularizar a situação? Tentar? Quem desregularizou a situação foram vocês, seus anormais! Vocês é que têm não de tentar regularizar a situação, mas de a resolver e ponto, palermas acéfalos! É óbvio que houve um erro no sistema informático ou um da vossa equipa de totós introduziu mal os dados e só agora é que repararam na “situação desregularizada”. Já agora, porquê chamar “situação desregularizada” e não “erro crasso desta cambada de pategos que não percebe nada do que anda a fazer”? É que se insistem com a “situação desregularizada”, ainda se pensa que basta comer uns iogurtes com “bifidus activo” que se regulariza num instante! Bando de parvalhões que nem para arrumadores de carros serviam.
Não, amigo Diário, não disse nada disto, mas vontade… ah, a vontade… Apenas esboçámos um sorriso amarelo e a afirmar que trataremos de tudo o mais rapidamente possível.



Maria Ortigão


PESSOA MADRUGADOR(A)


No passado dia 30 de Novembro, recordou-se (acho de muito um gosto empregar-se a palavra “celebrar”) a morte do poeta Fernando Pessoa.
Nesse dia, consultei a programação dos canais televisivos e foi com grande espanto e igual dose de alegria que verifiquei que a RTP1 ia transmitir três programas dedicados a Pessoa, totalizando cinco horas de emissão contínua. Isto, sim, é serviço público! O problema é que os tais programas iam para o ar entre a 1 hora e as 6 horas da manhã!!! Certamente que mochos, morcegos e outros animais nocturnos ficaram contentes. Isto, não, não é serviço público.
Só me restava gravar os programas, mas nem tinha cassete com tanto tempo de duração nem sequer tinha disponibilidade de ir comprar outra com mais minutos de gravação. Tive de fazer uma opção: gravar uma hora da parte final do primeiro programa, o segundo completo e a primeira meia hora do terceiro. Era o que se podia arranjar.
Finalmente, chegara o momento de visionar o que tinha gravado. Os programas eram de há vinte anos atrás, mas a cavalo dado não se olha o dente e a qualidade é o mais importante. Foi muito interessante assistir, no meio dos depoimentos de académicos e estudiosos pessoanos, às histórias da meia-irmã Teca e de uma sobrinha-neta, porque incidiram mais sobre o homem do que sobre o poeta. No homem divertido, atencioso e carinhoso para com os mais pequenos da família, mas também no homem solitário, carregando para sempre a sua inseparável dor de pensar.
O terceiro era um programa realizado por Luís de Sttau Monteiro. Lá interessante devia ser, pela meia hora que vi. Só vi, porque o áudio estava em péssimas condições, não se conseguindo perceber. E o mais interessante é que ninguém da RTP fez nada, não houve interrupção para tentar restaurar a boa sonoridade. Suponho que foi assim até ao final. Se calhar, pensaram que, como não devia estar vivalma a ver televisão àquela hora, não precisavam de se preocupar.
Não percebo por que razões não passaram aqueles programas a horas mais visíveis ao comum dos portugueses. Dedicam dias inteiros a transmissões apimbalhadas sobre o dia do idoso, do voluntário, do bombeiro e não sei mais o quê e esquecem um dos maiores poetas portugueses. Está bem que aquelas transmissões têm o bem-haja de angariar fundos e de chamar a atenção para questões importantes, mas a quantidade de músicos e músicas de qualidade infra é insuportável. Acaso as “poesias” de Mónica Sintra e os peitos da cabritinha de Quim Barreiros são mais solidários que os escritos de Pessoa?
Como é Natal, aqui ficam uns docinhos.

Maria Ortigão

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Fernando Pessoa

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.

E toda agente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo arrefece
Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa



O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS


Perguntei a um adolescente de 13 anos o que gostaria de ser quando fosse grande. Sei que a pergunta não prima pela originalidade, sobretudo, depois de Hélder Reis do “Praça da Alegria” a fazer sempre que encontra uma criança. E tendo em conta que ele visita muitas escolas e instituições para os mais pequenos…
Tentando afastar “grandes momentos televisivos” da cabeça, à minha pergunta o miúdo respondeu nestes termos:
— Não quero fazer nada!
Não é enternecedor, quando os “piquenos” respondem de todas as maneiras menos daquelas que nós gostaríamos?
Em seguida, expliquei-lhe que teria de ter um trabalho não só para se realizar materialmente, porque, afinal, precisava de dinheiro para comprar o pão do dia-a-dia; como também para se realizar pessoalmente, porque, afinal, nem só de pão vive o homem.
O rapaz ficou um tempo a pensar. “Já vejo luz ao fundo do túnel”, pensava eu. Só não sabia que o túnel levar-me-ia às mais obscuras trevas, pois deparei-me com a seguinte afirmação:
— Quero ser como o Alexandre Frota!
Independentemente do que os pedagogos e todas as teorias educacionais possam dizer, este miúdo deve ser espancado violenta e ferozmente!

Maria Ortigão



AUTO DA BARCA DAS PRESIDENCIAIS (parte I)


Auto das Presidenciais adaptado por Maria Ortigão por contemplação da estranhíssima e muito interessante campanha eleitoral, e representada por seu mandado ao poderoso e mui alto regime D. Democracia, rainha de Portugal com este nome.
Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a umas eleições, as quais per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa para o paraíso, e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
O primeiro interlocutor é um fidalgo que chega com uma page, que lhe leva um rabo mui comprido, muitos bilhetes de viagens e uma tartaruga. E começa o arrais do inferno ante que o Fidalgo venha.

Diabo: Às eleições, às eleições, houlá!
que temos gentil campanha eleitoral!
- Ora venha o candidato presidencial!

Companheiro: Aí vem, aí vem!

Diabo: Bem está!
Vai tu, muitieramá,
atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
para a gente que vinrá.
Às eleições, às eleições, hu-u!
Asinha, que se quer eleger!
Oh, que tempo de votar,
louvores a Berzebu!
- Ora, sus!, que fazes tu? eia! vamos!
Despeja todo esse leito!

Companheiro: Em boa campanha! Feito, feito!

Diabo: Abaxa má-hora esse cu!
Faze aquela urna eleitoral
E alija aqueles boletins.

Companheiro: Ô!-ô! vota! Ô!-ô!, ins! ins!

Diabo: Oh, que campanha esta!
Pões bandeiras, que é festa.
Debates altos! Sondagens a pique!
- Ó poderoso dom Mário Soares,
cá vindes vós? Que cousa é esta?

Continua…

Scilicet: isto é;
Muitieramá: em muito má hora
atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
para a gente que vinrá: o Diabo ordena que se arranje espaço para os candidatos presidenciais que estão a caminho.
Asinha: depressa
sus!: eia!, vamos!

Maria Ortigão

quinta-feira, dezembro 01, 2005

FENÓMENO DO ENTRONCAMENTO


Não queria acreditar no que via. Simplesmente, não podia ser verdade. O problema tinha de estar em mim: precisava urgentemente de óculos; estava a ser vítima de uma alucinação; andava a beber iogurtes líquidos a mais, logo os meus níveis de lactosemia estavam muito altos; ou era tudo obra do Demo.
Pois estes dois, que ainda não sei se a terra há-de comer, vislumbraram um adulto a conduzir o seu veículo automobilizado. E, enquanto se afadigava entre o volante e as mudanças, transportava no colo um bebé com não mais de cinco meses de idade.
Como esta situação custa a ser compreendida, vou tentar explicar melhor o inexplicável. Assim, uma criança de meses não estava a ser transportada, num carro, nem no cesto de bebé nem numa cadeirinha, colocada no banco traseiro. Estava, sim, no colo do adulto que conduzia o carro!!!
Até hoje, prefiro acreditar que, naquele momento, me rebentou uma veia na cabeça, o que me perturbou a visão.

Maria Ortigão

quarta-feira, novembro 30, 2005

Notas (negativas)

-Não gostei de ver o Soares "histérica" na TVI (há muito tempo eu sei) clamando a falta de curriculo do Professor Cavavo.
- Do Soares apelando à luta, mobilização, preciso do vosso apoio...
- Não gosto de ver os jornalistas perdendo tempo com perguntas de intriga acerca de relações partidárias. Já sabemos que ele não vai responder. Da agressividade do tom e rapidez com que se colocam as questões numa tentativa- vã- de ser a jornalista dura que nada deixa escapar e que coloca o dedo na ferida.
Sra.: (e Srs.) alguém acha que em condições normais, isto é, se Alegre fosse o candidato oficial do PS, sem sequer rumores de um Soares pronto a avnaçar, ele seria tão mediático, estaria tanta gente na expectativa...? Já alguém falou no "síndrome do coitadinho, vitima"?! Se o PS subestimou Alegre?!. Quem lhe escreve as perguntas?!

Manuela Queirós.

Retoma económica é:

pagar 4,10€ para medir a tensão numa consulta de cardiólogia externa num hospital central...

Manuela Queirós.

Em um dia 30 de Novembro morre Fernado Pessoa, desculpas para ler uns poemas.

Já aqui dissemos que preferimos datas de Nascimento, mas la fui à net, ler uns poema, e, decidi: de forma um tanto... aleatória, baseada em "títulos" sem mais do que duas leituras, publicar os seguintes:


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,


Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.


Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <>
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa




Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.


Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?


Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.


Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!

Alberto Caeiro



O amor é uma companhia


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.


Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.


Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro

(Manuela Queirós.)


terça-feira, novembro 29, 2005

O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS

Após a leitura de um conto, a criança prepara-se para responder a algumas perguntas de interpretação. A primeira era: “Identifica a heroína do conto.” O rapaz, de rosto horrorizado, pergunta:
— Quê? O conto mete droga?


Maria Ortigão

sábado, novembro 26, 2005

Já aqui falei disto

http://560.adamastor.org/

M.Q.

Happy Birthday Mr. Writter, Happy Birthday to you -(atrasado)

Para lembrar tão assinaláveis datas aqui fica:
« (...) -O materialismo, guiado de um lado pelas conquistas das ciências físicas e naturais e de outro lado pelo relaxamento dos costumes comtemporâneos e pela depressão sucessiva e assustadora da moral, vai comendo no campo da filosofia o espaço não já muito vasto em que residia a fé. (...) O homem, que segundo todas as probabilidades , não poderá nunca prescindir do maravilhoso, desse atractivo supremo da sua imaginação, irá então naturalmente buscar ao espiritismo, modificado e aperfeiçoado pela ciência futura, a teoria de uma tal ou qual sobrevivência que o lisonjeie, (...) »
Manuela Queirós partilhando trecho d' O mistério da estrada de Sintra. Eça em colaboração com Ramalho.

quinta-feira, novembro 24, 2005

FELIZ ANIVERSÁRIO



Parabéns a vocês
Nestas datas queridas.
Muitas felicidades,
Muitas letras de vida.
Hoje e amanhã são dias de festa,
Lêem os nossos olhos.
Para os meninos Ramalho e Eça
Muitos livros de palmas!



Nestes dias de festa, 24 para Ramalho e 25 para Eça, aqui ficam umas pequenas prendas, retiradas de “As Farpas”.


“A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. (…) O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. (…) A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretárias para as mesas dos cafés.”

“Desprezam-se os padres e despreza-se o culto, o que não impede que a propósito de qualquer coisa se exija o juramento! A religião ficou sendo um artigo de moda. (…) é um bom-tom aristocrático. (…) Aceitam Deus como um chic. (…) O povo, esse reza. É a única coisa que faz além de pagar. (…) A classe eclesiástica não significa a realização de uma crença; é ainda uma multidão de desocupados que querem viver à custa do Estado. (…) o clero inteligente e sincero tem uma missão difícil: não é fortificar a religião, é extinguir o beatério!”

“Com uma política de acaso, com uma literatura de retórica e de cópia, com uma legislação desorganizada, não se pode deixar de ter uma moralidade decadente. (…) nunca temos por isso a atitude da nossa consciência, temos a atitude do nosso interesse. (…) Lentamente o homem perde também a individualidade do pensamento.”

“A câmara não tem justiça. Se alguma coisa decide na sua pequenina área de alterações pequeninas não é no terreno da justiça, é no interesse político. Quem ignora os exemplos? A enumeração deles fatigaria Homero.”

“De modo que, se um homem pudesse apresentar-se ao chefe do estado com os seguintes documentos:
Espírito de tal modo bronco que nunca pôde aprender a somar;
Estupidez tão espessa que nunca pôde distinguir as letras do A B C;
Reprovação sucessivas em todas as matérias de todos os cursos;
O chefe do estado tomá-lo-ia pela mão e dir-lhe-ia, sufocado em júbilo:
- Tu Marcellus est! Tu serás presidente do conselho!”

“Há só um ponto negro que assusta o discurso da coroa: é a questão de fazenda [discussão do orçamento]. No entanto, com a impassível insistência duma criança, o discurso da coroa, cada vez que aparece em público, promete resolvê-la! (…) O homem político – simples influente eleitoral, mero candidato a deputado – lisonjeia, mente, difama, atraiçoa. Na política portuguesa raros dão um passo que o não conquistem por algum destes vícios. (…) uma coisa que concorre para que a nossa diplomacia seja soturna, é o horror que o país tem a ser representado por homens inteligentes.”

“Na sociedade, nas salas, nos teatros e nos passeios, dais os privilégios das vossas atenções, das vossas cortesias às eminências da toilette, às superioridades dos penteados, aos rastros mais cintilantes das mais longas caudas de cetim.”

“… nós somos o país dos tristes, dos cismáticos, dos piegas, dos choramingas. Isto procede de sermos o país dos mandriões e dos ignorantes…”

“… quanto mais conhecemos os homens mansos, mais estimamos os bichos bravos.”

“Conversar para o português é um perigo, uma dificuldade, um transe: é o antigo Cabo das Tormentas; (…) Conversar! Falar! Entreter! Mover o alado e fino batalhar das ideias, ter opiniões, traits, ditos: todo o português imagina que esta maravilha só se pode dar nos romances de franco. Daí vem o velho hábito elegante de se encostar, o português, o indígena, à ombreira da porta, com aspecto fatal. Conversar! Os homens tremem e as senhoras empalidecem.”

“A moda começa por ter isto de absurda: é que não é ela que é feita para o corpo – é o corpo que tem de ser modificado para se ajeitar nela. (…) A moda destrói a beleza e destrói o espírito. Um figurino decretado e seguido – mata as originalidades do gosto.”

quinta-feira, novembro 10, 2005

O ÁS DO VOLANTE


Então não é que um moçoilo foi apanhado cerca de sessenta vezes a conduzir sem carta!? Que comentário se pode fazer a tão inusitado facto?
Obviamente, o sósia do Tiago Monteiro foi presente a tribunal. Mas eu penso que, em vez de o levar à avaliação de um juiz, deveria era ser visto por um júri do Guiness, dada a quantidade de vezes que foi apanhado em falta. Era mais uma oportunidade para inscrever o nome de Portugal no “Livro dos Records”, actividade muito em voga ultimamente.
De seguida, era necessário assegurar-lhe uma consulta no psiquiatra, porque alguma coisa não funciona bem naquela cabecita. Afinal, quem é que no seu perfeito juízo continua a conduzir depois de ser apanhado tantas vezes? Lá diz o provérbio “Na primeira, quem quer cai; na segunda, cai quem quer; na sexagésima, só cai quem quiser.”

Maria Ortigão

O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS

— Como se chama quem trabalha num moinho?
Responde a criança:
— Pedreiro!

Realmente, às vezes, o pão é tão duro que mais parece uma pedra!
A resposta desta criança reflecte bem a mudança dos tempos. Com a perda de alguns dos tradicionais lugares de trabalho, como o moinho, perdem-se outras tantas profissões e consequentemente as palavras que os designam. Há-de haver um tempo, em que, àquela pergunta, a criança responderá: “São os senhores do supermercado!”

Maria Ortigão

domingo, outubro 30, 2005

Penso que...

a entrada em museus deveria ser gratuita (pelo menos) para estudantes. (E que tal terceira idade?) Mostrava-se o cartão e: " sim, sr. faça usufruto de toda a cultura que temos para si". Acaso não é uma parte importante da educação... formação pessoal... assistir à exposições? Pelo menos poderiam colocar mais um dia de utilização gratuita durante a semana; porque eu n gosto das confusões matinais dominicais que acontecem em Serralves, todos ao molho... (E SÓ AOS DOMINGOS DE MANHÃ?) Isso: a cultura, as visitas aos museus que tanto gostam de apregoar que os portugueses não frequentam mas que os números mostram que têm aumentado, isso, também não conta para que Portugal fique bonito nas estatísticas desta nossa União?!
My favorite spot: http://www.cpf.pt gosto da mística do lugar, da história, gosto das escadas, do átrio... uma amante da liberdade como eu não deveria preferir uma cadeia... amo fotografias... espero que não seja só porque a entrada é gratuita. Sempre que tenho tempo, este lugar acolhe-me.
M.Q.

Divulgação cultural:

http://www.cinanima.pt ou www.mutlimeios.pt, ainda não há resumos o q é uma chatice porque quem não conhece nomes não pode escolher conforme duração ou nacionalidades... Mas o importante é que está aí um significativo acontecimento cinematográfico neste deserto.
M.Q.

terça-feira, outubro 25, 2005

M. FUN


Não é segredo para ninguém que eu gostaria muito que o próximo Presidente da República fosse Manuel Alegre. Que bonito que era termos um presidente poeta!
Fiquei a saber que um dos responsáveis pela campanha do meu candidato será Pacman, vocalista dos “The Weasel”. Penso que será uma parceria interessante, porque, de maneiras diferentes, são ambos mestres da língua e no modo como a exploram. E o facto de Manuel Alegre contar com uma personalidade que é um ícone para a juventude portuguesa, pode aproximá-lo daqueles para quem já é um “cota”.
Tenho a certeza de que Pacman vai operar um rejuvenescimento na imagem do poeta.
Para começar, há que actualizar um nome tão banal, como é o de Manuel Alegre, para algo mais sonoro, mais moderno do género M. Fun. Será mais emocionante, na abertura de um discurso, ouvir-se dizer: “Iô, iô, iô! M. Fun ‘tá na área!”
A indumentária também deverá ser diversificada. Nada de fatos e gravatas pesadões. A partir de agora, só bonés com pala ao lado, camisolas de basquetebol, calças de gancho descido e chapas ao pescoço.
Nos discursos, usar e abusar de calão, de “iôs” e evitar palavras com mais de cinco sílabas.
Para já, Pacman tem vindo a modificar algumas composições poéticas de M. Fun, para as tornar mais interessantes. Vejamos como ficou “Trova do vento que passa”:

Som do people que passa

Pergunto ao people que passa
novas do meu cota
e o people cala a desgraça
o people nada me desboca;

Iô, iô, iô

Pergunto às damas que levam
tanto hip hop à flor das águas
e as damas não me sossegam
levam hip hop deixam mágoas.

Iô, iô, iô
(…)

Ninguém diz puto de novo
se novas vou pedindo
nas mãos vazias do people
manquei minha gera florindo.

Iô, iô, iô

E a night está a bombar por dentro
do people do meu cota
peço novas ao people
e o people nada me desboca.

Iô, iô, iô
(…)

Mas há sempre uma light
dentro da própria desgraça
há sempre um man que semeia
hip hop no people que passa.

Iô, iô, iô

Mesmo na night mais bera
em tempo de servidão
há sempre um man que resiste
há sempre um man que diz não.

Iô, iô, iô
Hãhã, hãhã

Maria Ortigão



PONTAPÉS NA GRAMÁTICA E NÃO SÓ XVI


1. Apresentadora do programa “Quem Quer Ganha”, falando com uma telespectadora ao telefone:
“— Poderia baixar o som do volume do televisor?”

Comentário: Compreende-se. O som da área é muito mais suportável.


2. Amiga:
“— No segundo ano da faculdade, que ninguém me chame semipu… Quero ser pu… por inteiro!”

Comentário: Isto é que é uma mulher de tomates!

3. Eu:
“— Já viste os suspensórios daquele carro?”

Comentário: Se algum dia me acontecer algo com o carro, está visto que preciso de ligar à Marta.


4. Amiga:
“— Estás a brincar ou estás a gozar?”

Comentário: Que reinação!

Maria Ortigão

ELEIÇÕES À PORTA – O QUE FAZER?


Ainda bem que, em Portugal, há eleições livres, o que quer dizer que vivemos numa democracia. Mas as campanhas e as pré-campanhas, cada vez mais pré e cada vez mais agressivas, cansam-me tanto!
Estamos quase a entrar na pré-campanha para as presidenciais e o “lixo” das autárquicas está a ser limpo a um ritmo muito lento. Sempre que saio e entro em casa ainda tenho de me deparar com a face risonha do eleito presidente da Junta de Freguesia. Deve ser de propósito para prolongar o sabor da vitória! Só faltava virem tirá-lo do poste telefónico às tantas da noite e fazer um barulhão como quando o colocaram lá.
Contudo, como eu não estou para suportar mais semanas de grandes cartazes, pequenas cartas recebidas na caixa do correio, promessas vãs… Decidi que vou emigrar para um país que viva em ditadura, durante o próximo período. Assim, não corro o risco de aturar campanhas, pois não há eleições.
Posto isto, só falta decidir o país contemplado. Cuba? Não, como a Manuela me fez ver, não passaria por um alonga campanha, mas teria de ouvir os longos discursos de Fidel Castro. Enfim, era pior a emenda que o soneto.
Se for para algum país islâmico, daqueles bem fundamentalistas, teria de usar toneladas de roupa para ficar bem tapadinha. Além disso, não gosto de calor e, por lá, as temperaturas são muito elevadas.
África? Não basta o calor, ainda tem humidade, o que me deixa o cabelo muito volumoso e frisado.
Afinal, o destino de sonho está mais perto do que eu pensava. Vou já começar a fazer as malas. Pessoal, até breve! Rumarei à Madeira!

Maria Ortigão



segunda-feira, outubro 24, 2005

Rabiscos...

Estava eu parada mais uma vez por causa das inumeras obras realizadas na estrada quando me apercebi que um cartaz de campanha do Bloco estava pintado de branco, aí pensei: finalmente estão a tirar os cartazes! Mas o meu cérebro, esse maravilhoso mundo de sinapses presenteia-me com o seguinte:
«... os cartazes depois deveriam servir para alguma coisa, já que somos obrigados a aturá-los; olha que bem ficavam um grafittis aí- eu sou adepta da modalidade quando exercida em condições- foi aí que vi o fogo-de-artificio provocado por tais ligações químicas, a Manuela que não se conforma em desperdiçar 5€ em tais elementos resolveu: que nas próximas autárquicas vai embelezar todos essas figuras-a expressão cabeça de cartaz acenta-lhes que nem uma luva- vou-me divetir à grande!»
Vandalismo não, liberdade artística!
Me aguardem de marcador em punho!
M.Q.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Eu e as autárquicas...

Uma série de apontamentos:
- Não concordo com a expressão "ganhamos ou perdemos" câmaras. Sei que é gíria, que há coisas mais importantes, mas devia ser: fomos eleitos para os cargos que nos propusemos ou não! Ganhamos! Da-lhes mesmo ar de quem está aí pelas "oportunidades de carreira", para não ser ofensiva.
- As reações do Valentim deram-me uma ideia engraçada: os dirigentes políticos deveriam "soprar ao balão" e fazer controlo anti-dopping; já se sabe que no seu caso é tudo (anti-) natural.
- Jorge Coelho, numa tentativa de desdramatizar, dizia: o PS obteve resultados parecidos com os de 2001, resultados esses que levaram à fuga de A. Guterres!, lembram-se? (É claro que o caso não se põe nesta legislatura q ainda começa, era o que mais faltava, andarem a brincar ao "demito-me por tudo e por nada"; sejam homens, cumpram os seus desígnios).
- Manuel Maria Carrilho: «... acho que é nosso dever votar...» (eu não votaria num candidato que não tem certeza acerca da pedra basilar da democracia).
- Que eu saiba só se deve buzinar em caso de emergência, o que dizer à noite? Eu conheço gente que não aceitam que se buzine num casamento porque acham foleiro- todos de acordo-, mas essa mesma gente não se coibe de buzinar que se farta nas caravanas políticas e nas comemorações nocturnas. À quem me quiexo?
- Para saber resultados das câmaras (algumas claro, que o Menezes nem teve direito a total cobertura- será porque davam a vitória como adquirida?) é preciso estar com- muita!- atenção à t.v.- que aquilo é tudo muito confuso. Para saber os resultados da sua "freguesia" basta esperar pelas buzinadelas e vir à janela! «ouvir os cães que ladram enquanto a caravana passa».
- Quanto aos brindes, já disse, acho absolutamente desnecessários. Era bonito q todos se juntassem e decidicem que não davam nenhuns, que apenas partilhariam a sua memsagem política.
- Sou contra também o "circo que entretem o povo"- conjustos musicais, arma-se o arraial e já está-algumas delegações nem aparecem. Não há uma entidade que delimite as actividades partidárias de campanha, não deveriam ser acções de instrução?
- Abomino: aclamar dirigentes, bandeiras, palmas e cânticos; recepçõe e séquitos.
- Discursos interrompidos por vocalizações de siglas partidárias.
- Não percebo porque no domingo, numa freguesia populosa e fortemente automobilizada, onde as secções de votos estão concentradas num único local, e que detem um posto da GNR não havia quem organiza-se o trânsito/estacionamento ou estabelecessem um percurso circular de sentido obrigatório, fechando alguns sentidos nalgumas ruas. Não me levem a mal, eu acho que a GNR deve servir para coisas mais importantes que ordenar o estacionamento, mas há pequenos caos que podem ser evitados.
- Abomino que na segunda rodada de cartazes de campanha apareçam mulheres, só para mostrar a presença feminina.
Conclusões:
Situações de privilégios monetários e outros, imunidades... são resquícios daquele poder caciquista, terra-tenentista, como quiserem, de elites que não souberam limpá-lo de seus defeitos e que soube muito bem conservar suas falhas como porta de saída de emergência. Não houve ninguém que chegasse ao poder e achasse vergonhoso os balúrdios que auferem e propusessem uma redução, nem mesmo os de esquerda! Daí que o limitação de mandatos só surja agora e como forma de retirar certas figuras do poder.
Não se deveria introduzir uma obrigatoriedade de dar baixa nos cadernos eleitorais de idosos que não se possam deslocar ou que tenham capacidades para votar? Todos esses contam como abstenção?
Também não percebi, ainda, porquê numa sociedade altamente burocratizada como esta-onde o que não falta são documentos identificativos- temos de ter cartões eleitorais não deveria chegar ser maior de idade- num aparente juizo perfeito- e apresentar o B.I.- q penso ser o docuemnto máximo? Naturamente há obrigatoriedade de actualizar os dados e de ter atenção as datas de término de validade. Ainda que a obrigatoriedade de inscrição nas juntas continue a vigorar o B.I. deveria servir. Impressionante como num país com tão maus resultados na matemática se gosta de estatísticas!
Há figuras que pelo seu mediatismo não podem ser levadas à serio, o caso do M. M. Carilho, pré-conceito eu sei, mas é assim que pensa a "arraia miúda" e, é assim que trabalham os dirigentes de campanhas. Assim, o (F.) Assis não era concorrência para o (R.) Rio.
Notas "engraçadas": Sim, que isto de ficar horas agarrada a televisão para ser informada tem que ter as suas benesses...
Carilho não saber da mulher no momento dos agradecimentos.
Carrilho fazer menção à JS (com os seus rídiculos cantos) e quando o Carmona "aparece" tem a sua juventude em coro futebolístico adaptado.
Sócrates foi inteligente ao dizer que ler nas entrelinhas era oportunismo político.Os jornalistas como sempre podiam fazer melhores questões.
E pergunto:
- Pode-se usar patentes militares depois da expulsão do exército? Li q "o major" tinha sido expulso, já na altura, por situações dúbias: ficar com ganhos/sobras, comissões...
M. Q.

terça-feira, outubro 11, 2005

ELEIÇÕES: PARA QUANDO O SOSSEGO?


1. Cinco dias antes das eleições


Conselho de amiga: se querem manter a sanidade mental, não saiam de casa dias antes de qualquer eleição. É que, lá fora, encontram uma selva e nós, os eleitores, somos a presa. De facto, os partidos e os respectivos candidatos aproveitam para queimar os últimos cartuchos e andam, quais baratas tontas, de um lado para o outro completamente frenéticos.
Ora, eu, a Manuela e outros amigos cometemos o grave erro de pormos os pés fora de casa, nesta altura.
No percurso, feito de automóvel, encontrámos uma caravana de um partido. Ele era carros que nunca mais acabavam, buzinadelas insistentes, apitos, bandeiras, palavras de ordem, música em altos berros… E nós, parados, à espera que acabassem de passar. Até que o candidato parou de propósito para nos deixar seguir a marcha. O que eles não fazem para nos caçar mais uns votos!
Pensávamos, com alívio, que o pior tinha passado. Todavia, o mundo é cruel! Mais à frente encontrámos a caravana rival. Como um azar nunca vem só, ficámos imediatamente atrás do camião de caixa aberta que fechava o cortejo e… prova cabal de que Deus não existe… a rua era de sentido único, logo, não podíamos ultrapassar. Infelizmente, esta caravana andava a passo de caracol, parava para dar brindes aos transeuntes e nós certamente que passámos como apoiantes daquela candidatura. Que vergonha!
Mas há mais… O camião de caixa aberta levava um grupo de pessoas a gritar, a apoiar, a cantar, a incentivar ao voto no candidato… Eu resolvi não me ficar e, tal como já tinha feito com a caravana anterior, também gritei as minhas palavras de ordem: “Ladrões! O que vocês querem é o dinheiro dos pobres!” A Manuela estava muito preocupada, porque pensava que, por minha causa, ainda íamos todos para a esquadra. Não percebo a razão. Então, se eles podem gritar mentiras (vulgo promessas), que mal tem em eu dizer verdades?
Não resisto a contar só mais um episódio com o objectivo de aliviar (sim, esta é a palavra mais correcta!) a tensão. No aglomerado de pessoas que se encontrava no camião, destacou-se um rapazito que confirmou que isto de andar em campanha pode dar grandes apertos (outra palavra muito bem escolhida!). O “piqueno”, sentindo o chamamento da Mãe Natureza e não o podendo ignorar mais, não teve outro remédio senão expelir do seu corpo o líquido sobejo. Pois foi ali mesmo, do alto do camião para a estrada, que o moçoilo completou mais um ciclo do corpo humano. Achei o momento artístico, na medida em que me fez lembrar aqueles belos repuxos de água, nos quais um menino nu dá o seu contributo para o pequeno lago. Também foi interessante a atitude da (suponho) progenitora. Procurando dar alguma privacidade a tão íntimo acto e procurando, ao mesmo tempo, evitar qualquer salpico indesejável, colocou a bandeira do partido a servir de guia ao repenicado jacto. Ah, as crianças…

2. Um dia antes das eleições

Devia ser dia de reflexão todos os dias. Quem é que já não estava farto de comícios e cartazes? Contudo, para mal dos nossos pecados, as presidenciais são daqui a poucos meses e nem vamos ter tempo para respirar.
Tinha-me apercebido de que esta campanha, que agora termina, havia sido muito aparatosa, porque cada vez se vêem mais cartazes, panfletos, brindes, músicos para animar as festas… Afinal, estamos ou não em crise? Foi, então, que vi, na comunicação social, quanto os partidos gastaram. Assim como a santa Fatinha nem sequer conseguiu pronunciar a infame cor, eu também não consigo escrever o número consumido. Mais estupefacta fiquei, quando soube que cada português contribuiu, em média, com cinco euros para aquele número! Eu dei cinco euros para aquele folclore todo? Sinto-me tão enganada, tão usada, tão revoltada! Para as campanhas arranja-se logo dinheiro, pelo contrário para pôr aquecimento numa escola ou para tapar um buraco do saneamento (só para citar alguns exemplos) é um “Ai, Jesus!”, porque não há dinheiro, estamos de tanga. Pois é, a crise não toca a todos!
Além disso, se o período de campanha eleitoral é de duas semanas imediatamente anteriores ao escrutínio, só deveria ser ocupado esse tempo, ou seja, era bom que se acabasse com a pré-campanha. Quinze dias chegam e sobram para os políticos apresentarem as suas propostas. Era melhor para todos, pois, assim, poupava-se dinheiro, os políticos não se cansavam tanto e, sobretudo, não nos cansavam tanto.



3. Na noite das eleições: a vitória dos três mosqueteiros

Fátima Felgueiras, Isaltino Morais e Valentim Loureiro conquistaram as suas câmaras. Só faltou o d'Artagnan Avelino Ferreira Torres.
Aqueles mosqueteiros são a prova de que o crime compensa. Mas, enfim, estamos em democracia e foi o povo que os elegeu. Ao contrário de alguns analistas políticos, não considero que a população daquelas localidades seja a grande culpada por eleger pessoas que estão a contas com a Justiça. O problema está no sistema (espero que Dias da Cunha não se importe que eu esteja a usar a sua palavra preferida) que permite que arguidos se candidatem a um cargo de responsabilidade.
Fátima Felgueiras teve a distinta lata de, no seu discurso vitorioso, falar de ética e moral. Se calhar, comprou-as nalguma loja brasileira e pensa que ninguém sabe o que são! Para além disto, a sua candidatura chamou-se “Sempre presente”! Os dois anos que esteve foragida, no Brasil, foram uma ausência presentificada ou uma presença na ausência ou uma aupresência?
Valentim Loureiro, depois de ter mostrado muito mau feitio para com o pobre do homem que lhe tentava arranjar um microfone, abriu-se num sorriso e fez um discurso digno de um militar que tinha acabado de tomar pela força o poder, num qualquer país do hemisfério Sul.
No entanto, o melhor da noite ficou a cargo de Rui Rio, que teve a honra de nos presentear com a sua melodiosa voz, cantando “A Portuguesa”.
Como dizem os títulos de algumas cartas electrónicas, isto é “Portugal no seu melhor”!


Maria Ortigão

Heróis e sociedades

«Revolucionario ou reformador- o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo o revolucionário, todo o reformador, é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível.
[Ébrias de uma coisa incerta, a que chamaram «positividade»,] essas gerações criticaram toda a moral, esquadrinharam todas as regras de viver, e, de tal choque de doutrinas, só ficou a certeza nenhuma, e a dor de não haver essa certeza. Uma sociedade assim indisciplinada nos seus fundamentos culturais não podia, evidentemente, ser señao vítima, na política, dessa indisciplina; e assim foi que acordámos para um mundo ávido de novidades sociais, e com alegria ia à conquista de uma liberdade que não se sabia o que era, de um progresso que nunca definira.»
Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego, nsº 160 e 175.
M.Q.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Razões pelas quais eu adoro o seu génio:

«O Savedra do "Século" tinha-lhe dito: o amigo é o nosso Shakespeare! O Bastos da "Verdade" tinha afirmado: és o nosso Scribe! Houve uma ceia. E tinham-lhe dado uma coroa.
- E serviu-lhe-acudiu Julião.
- Perfeitamente; um bocadinho larga..
(pág. 423)
O mesmo parente.
M.Q.

O que Eça escreveu:

«-A que horas queria você que chegassemos? Às horas da tabela, talvez! Doze horas de atraso, essa bagatela! Em Portugal é quase nada...
- Houve algum transtorno? ...
(...)
- O transtorno nacional! Descarrilou tudo!»
(pág. 446)
«Mas quem diabo se lembra de vir a Portugal? Estrangeiros? É justamente o que me espanta! - E encolhendo os ombros com rancor: - É o clima, é o clima que os atrai! O clima, este prodigioso engodo nacional! É um clima pestifero. Não há nada mais reles do que um bom clima!... »
(pág. 447)
in "O Primo Bazilio", E. Queirós.
M.Q.

Urge

proteger-nos da publicidade, sem eliminar a possibilidade que "não-registados" comentem na blogosfera.
M. Q.

terça-feira, outubro 04, 2005

ESTÁ AQUI UM MAU AMBIENTE!


1. Estamos a derreter


O pólo Norte está a derreter e com fortes probabilidades de desaparecer nos próximos anos, muito por culpa dos gases nocivos, que são lançados para a atmosfera e que provocam e agravam o efeito de estufa. Desaparecendo aquela mancha de gelo, desaparecem os animais que lá habitam. Para além disso, os raios solares deixam de ser reflectidos no gelo e passam a aquecer directamente as águas, o que está na base do aumento de furacões e tempestades tropicais.
Por sua vez, com mais gelo derretido, o nível do mar aumenta, ameaçando as zonas costeiras. De facto, há um ano e meio, pude observar, “in loco”, algumas praias muito danificadas. No distrito de Aveiro, o areal está a desaparecer e o mar começa a engolir a terra envolvente, “construindo” falésias que ameaçam ruir a qualquer momento.
Todas estas alterações estão também na origem de secas em alguns pontos do globo (nós, portugueses, sabemos bem o que é) e chuvas torrenciais noutros.
O que foi escrito até agora está de acordo com as declarações de dois cientistas, chefes de uma vasta equipa norte-americana de analistas ambientais.
Para mais informações, recomenda-se o visionamento de episódios de “National Geographic” e “Hora Discovery”, repletos de depoimentos de cientistas.



2. Poupar água

Pois é, agora que vivemos uma seca, é que nos lembramos de poupar água. Apesar de tudo, mais vale tarde do que nunca.
Não sei se já alguém se lembrou disto, mas aproveito para deixar aqui um método que eu e a minha família adoptamos para poupar água e consequentemente na carteira. Assim, sempre que é necessário abrir a torneira e deixar correr a água até que saia quente (para lavar os dentes, para tomar banho, para lavar a louça…), em vez de a deixarmos sumir-se pelo cano abaixo, deita-se para um balde. Eu, que só tomo banho de água bem quentinha, consigo encher mais de meio balde!
Depois, a água armazenada é utilizada para lavar a casa de banho ou o chão da cozinha, para regar as plantas, enfim, para tudo aquilo que é necessário um pouco de água.
Acreditem, resulta mesmo!

Maria Ortigão


PONTAPÉS NA GRAMÁTICA E NÃO SÓ XV


1. Entrevistado no “Jornal da Tarde”:
“— Se somarmos todos os ‘itens’ (pronunciado à inglesa ‘aitens’)…”

Comentário: A língua inglesa está cada vez mais presente nas nossas vidas, mas não vamos exagerar. A palavra “item” chega-nos sem alteração ao português, logo, o [i] lê-se sempre [i], nunca [ai]. Temo que, em breve, também teremos o “aidem” e o “in vaitro”!


2. Insigne professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras do Porto:
“— Os índios cultivavam animais!”

Comentário: Professor … para ministro da Agricultura, já!

3. Amigo:
“— Qual é a diferença entre o ‘Calimero’ e a ‘Ovelha Maia’?”

Comentário: Uma simples troca de “mééé´” por “bzzz”!


4. A minha mãe:
“— Não sei a que horas acaba o fim do jogo.”

Comentário: Só no final é que se saberá.

Maria Ortigão

MAIS POLITIQUICES


1. Um Rio descontrolado


Rui Rio, candidato à Câmara Municipal do Porto, foi duramente apupado numa visita a um bairro portuense. Por ter notado um número, na sua opinião, anormal de camisolas e bandeiras do PS nos que o criticaram, resolveu afirmar que o partido rival estaria envolvido nos insultos de que foi vítima. Como já perdi, há muito tempo, a confiança nos políticos, devo dizer que não me espantaria nada que o Partido Socialista andasse realmente a fazer jogo sujo com o intuito de prejudicar a coligação oponente.
No entanto, será que Rui Rio não pensou que a população poderia simplesmente estar descontente com a sua política?

2. Assustamos ou pregamos cartazes?

Passa da meia-noite. As bruxas saíram, há pouco, dos seus repelentes covis e pavoneiam-se nas suas vassouras, prontas para fazer maldades e assustar os pobres mortais. A noite é-lhes propícia com a Lua cheia, uma certa neblina e um piar longínquo de aves de mau agoiro.
As indefesas criaturas humanas, julgando-se a salvo, nas suas humildes casas, dormem o sono dos justos, alheadas ao terror que se aproxima.
Os monstros nocturnos já vêm a caminho, deixando um rasto gelado nos corações de quem os escuta.
De repente, escolhem o alvo e atacam-no sem dó nem piedade. É uma casa familiar sem defesas suficientes para resistir à brutal investida de tais horrores. Os humanos acordam sobressaltados com um barulho que se assemelha a um bater contínuo e portentoso na parede. Parecia que os seres nocturnos esburacam os muros, visando penetrar na habitação e arrancar os seus ocupantes do calor do lar. Entretanto, a pequena família tiritava num abraço impotente. O que é isto? Porquê nós? O que nos querem?
Mas o pai da família, inspirando um sopro de coragem, dirige-se para a porta, enquanto os membros os tentam impedir, implorando-lhe para que não os abandonasse. Tremendo como varas verdes, o homem entreabriu a porta e espreitou… Oh, que visão infernal! Que trevas cortantes! Era… um grupo de três pessoas que pregavam, no poste telefónico, um cartaz de um candidato à Junta de Freguesia. Nesse cartaz, liam-se as qualidades do candidato: “empreendedor, humanista e solidário”. Penso que bastava “barulhento”.

Maria Ortigão

BANDA SONORA ESTOMACAL


Durante um espectáculo (cinema, teatro…), um telemóvel a tocar incomoda muita gente.
Durante um espectáculo (cinema, teatro…), uma pessoa atender o telemóvel, que estava a tocar, incomoda muito mais.
E se durante um espectáculo (cinema, teatro…), um espectador se lembrasse de dar um sonoro e longo arroto? E se eu disser que este cenário hipotético se tornou realidade, durante uma peça de teatro a que assisti?
Respostas possíveis:
a) Nã! ‘Tás a gozar!
b) Acho muito bem que se mostre apreço pela refeição tomada!
c) Ninguém lhe bateu?
d) Se tivesse comido feijoada, podia ter sido muito pior!

Maria Ortigão



E O DIÁRIO CONTINUA…



Ontem, no “Jornal de Notícias”, Manuel António Pina escrevia, no espaço “Por Outras Palavras”, assim:




Aventura no Estado (happy-end)

«Resumo do episódio anterior: para poder receber o que o Estado lhe devia, o herói, vencido a primeira e penosa prova a da entrega do Requerimento, aventurara-se nos labirintos da Segurança Social do Porto em busca do Velo de Oiro, a prometida Certidão!, tendo descoberto, ao fim de mês e meio, que “elas”, de tarde, desligam o telefone e, de manhã, não atendem... O herói continuava a telefonar mas o mais que conseguia, entre piiiiis e música de Vivaldi, era: “A sua chamada encontra-se em linha de espera” ou “Lamentamos mas não foi possível atender a sua chamada”. Até que, um dia, uma voz humana surgiu do outro lado da linha: “Vou ver se encontro alguém…” E pouco depois, finalmente, aparecia Alguém! Mas tudo o que Alguém tinha para lhe dizer era que esperasse… Fizera, pobre dele, a circum-navegação da Segurança Social e voltara ao mesmo sítio, isto é, a sítio nenhum!
Tomou então a mais temerária das decisões e rumou ao Cabo das Tormentas da Rua das Doze Casas, onde naufragam todos os dias as esperanças de milhares de “beneficiários”. Na sala de espera, de papelinho na mão, uma multidão aguardava. Como o poeta, também ele “nunca pensara que a morte tivesse levado tantos”… Dirigiu-se ao balcão e clamou: “Quero o livro de reclamações!” Foi o “Abre-te, Sésamo!” Veio imediatamente um responsável recebê-lo, contando-lhe coisas terríveis da vida daquele lugar do fim do Mundo.
E, de repente, emergindo, como Vénus das águas, de um mar desencontrado de papéis e “dossiers”, apareceu a Certidão!»


Porra! E eu que não me lembrei de pedir o livro de reclamações!


Maria Ortigão

domingo, outubro 02, 2005

Direito de Resposta

Passei agora mesmo pelo vosso blogue, que há muito não visitava, e vi que havia lá um post que me interpela. [Para evitar chatices, respondo aqui.] Antes de mais, gostaria de dizer que subscrevo tudo o que diz o tal de António Pedro Ribeiro, excepto a generalização apressada do termo "Esquerda" que o indivíduo tem por hábito fazer. O resto, subscrevo tudo, sobretudo a arrogância/ignorância dos>comentadores de serviço. Também eu não reconheço a ninguém o direito de dizer que eu não me preocupo com o Futuro do planeta e das gerações vindouras. Por isso, os comentadores que lá comentaram bem podem recolher o dedinho acusatório e inquisitorial. Mas como discutir ideias é sempre bom, cá vai o que acho sobre o que a Manuela diz e pergunta: O problema de Quioto não se compreende sem duas questões prévias:
a) O aquecimento global que actualmente se verifica é fruto da acção humana?
b) Se sim, o protocolo de Quioto é a melhor, ou mesmo a única forma>de o combater? Os ambientalistas "hard" e certa Esquerda respondem, sem vacilar, Sim. O problema, como muito bem diz a Manuela, é que não há "o" estudo que o mostre. Ainda há meses, vi na SIC-Notícias um fulano dizer que uma parte dos cientistas acha que, na realidade, o impacto humano no Clima é pouco, e que estas alterações se devem a mudanças naturais no planeta. Mas se a questão é polémica, o que se devia fazer era investigar, ouvir, e não berrar e acusar. O problema é que, desde certa Esquerda até certos ingénuos, passando pelos comentadores de farpas xxi, o que normalmente se faz é berrar, fazer piadas de taberna, acusar os que poem objecções de serem terroristas do ambiente, insensíveis, etc. Em poucas palavras, distinguir os "bons" dos "maus". É o exercício favorito dos ignorantes e dos cínicos, mas devia ser evitado. Acontece é que uma parte dessa casta tem objectivos bem concretos: atacar os EUA e o Capitalismo. Para isso, o ambiente é só um pretexto e uma arma de arremesso. Ora, o>caso Quioto caiu-lhes como mel na sopa. Começam por atacar a não - assinatura do protocolo, passam dai a generalizações abusivas sobre Bush, depois generalizam abusivamente sobre os EUA, as empresas, etc. O ambiente é só um pretexto nisto tudo. Mas vejamos a questão Quioto. Em primeiro lugar, é verdade o que disse o António Ribeiro. Eu não sei se o tal Celeman e outros que tal faziam ideia, mas é mesmo verdade que Bill Clinton assinou o protocolo, mas não o levou ao Senado. Ou seja, na prática, Clinton apenas fez uma manobra de diversão. Porque competia ao senado uma última palavra. Por isso, mesmo se Bush quisesse, não podia rectificar o protocolo sem que o Senado dissesse também sim. Os sujeitos que gostam de dizer que atacam Bush e não os EUA deviam estar um pouco mais informados sobre o que é e o que não é responsabilidade exclusiva do presidente Americano... Mas ler custa tempo, e "é evidente" que Bush é uma nódoa... Depois, há aqui algo de fundamental. O que, pelo menos uma parte da admnistração republicana, disse, foi que Quioto implicaria demasiados danos na economia americana. Aqui, a retórica dirá: mas o>ambiente, o planeta é mais importante!. Resposta: que fazer dos possíveis desempregados e baixa de produção acarretada hipoteticamente por Quioto? Os "ambientalistas hard" iriam chorar lágrimas por isso? Não. Iam assobiar para o lado. De resto, vários Paises, embora assinando Quioto, parece que o não estão a cumprir. Por que é que os ambientalistas não erguem a voz contra eles? E, bem>vistas as contas, não será preferível, primeiro preparar a indústria, e depois reduzir a emissão de poluentes? O que implica, neste momento, a não assinatura do protocolo. Mas são perguntas, porque eu continuo sem ler Quioto, e aposto um dedo em como nenhuma das pessoas que escreve em farpasxxi, autoras ou comentadores, o leram. Comentários para quê? E que dizer de um acordo que os EUA celebraram com Paises asiáticos sobre a emissão de poluentes? E que dizer da evidência de que as florestas Americanas estão muito melhor preservadas que as Europeias? Isso não interessa? A conclusão a tirar é que Quioto se tranformou numa arma de>arremesso contra Bush. Mas não contem comigo para atiçar dedos inquisitoriais. A mim, Deus não me concedeu o dom de julgar as intenções dos outros, chamando-lhes de insensíveis face às gerações futuras. Se há aí gente a quem Deus concedeu esse dom, que continue assim. O mundo precisa deles. Mas um pouco mais de rigor e atenção, por favor.
F.A.M
Nota: A publicação deste texto foi devidamente autorizada pelo seu autor.

sexta-feira, setembro 30, 2005

O meu fim-de-semana!!!

«A Manuela, cá, não se resignou às reuniões de taper-ware e participou numa super-actividade: Challenger 2005 http://altorelevo.org
Tive experiências novas, como a Espeleologia e a oportunidade de pôr em práctica afectos como: - A Escalada (Yuppie!) : na "parede" uma [fácil] prodigiosa revelação; na "rocha natural" a concretização do abstracto e a vontade de fazer melhor, e a Canoagem. Há que agradecer à organização e todos aqueles que nos acompanharam como monitores e demais apoio. Gente que fez muito mais que o seu trabalho, simpaticíssimas pessoas que nos proporcionaram momentos agradáveis. Inclui naturalmente os Bombeiros que estavam a posto por nós e que velaram e lutaram pela "mata" que nos deu guarida.

E uma nota final para o Francisco (fotógrafo) que me chamou a atenção para uma ave que soberanamente cruzava os céus de Valongo: negra, de porte médio (descontar a distância chão/céu). Uma cegonha, disse ele. Apesar do aspecto, duvidoso, lá guardei a imagem na retina; qual não é o meu espanto, quando, domingo à noite, leio na NM- na coluna de Tomás Montemor um VIVA! relativo à actividades relacionadas com a espécie (santa ignorância a minha!) em extinção! Francisco, obrigada.

Agradeço também a quem me fez o convite, e a quem me acolheu.

Saldo: (3 arranhões, 2 nódoas negras) definitivamente positivo!

Mainada, até pr' o ano!»
M.Q.

quinta-feira, setembro 29, 2005

terça-feira, setembro 27, 2005

PIADA


Então, é assim (fórmula muitas vezes usada no início de um chiste): Fátima Felgueiras, presidente da Câmara sua homónima, quando soube que havia uma mandado de captura à sua pessoa – sendo o segredo de justiça quebrado – resolveu dar corda aos sapatinhos e fugir do país. Escolheu, por razões de natalidade, as terras brasileiras para penar o exílio.
Em entrevistas, mostrava-se chorosa e escandalizada por ter sido obrigada a sair da sua santa terrinha, para não sofrer as agruras da prisão e os desmandos da força policial, essa corja que só gosta de perseguir os inocentes. Uma vez que a dita senhora é de uma casta superior à da restante ralé (esmagadora maioria da população portuguesa sem posses para pagar um bilhete de avião e sair do país), nunca se poderia submeter à injusta justiça.
Alguns meses passados, tempo de eleições autárquicas em Portugal, resolve voltar. É detida à chegada e libertada logo a seguir, podendo avançar com a sua candidatura.
Pronto, a piada é ontologicamente esta.

Maria Ortigão

sexta-feira, setembro 23, 2005

Sugestões para a rentabilização do exército

Fiquei sabendo, (que as férias dos outros também são instrutivas!), que na Escócia os caças treinam fazendo razantes aos auto-carros e que na impossibilidade de disparar mísseis tiram fotos! Ora, parece-me que o estado português fazia muito bem (alguém me vai dizer que já o faz) em adoptar o sistema mas com uma mais-valia: a adquisição da respectiva foto «num quartel perto de si» para turista ver.
M.Q.

terça-feira, setembro 20, 2005

MOURINHO SEM AÇÚCAR


Estou muito triste, mesmo muito triste, estou tristíssima. Já sei que pareço os gémeos Dupont e Dupond, mas a verdade é que estou tão triste…
Depois das notícias que davam como certa a presença de Mourinho na telenovela “Morangos com Açúcar”, descobri que, afinal, o treinador português ficou-se pelo anúncio publicitário a um banco.
Estive a seguir atentamente a telenovela para que, quando o treinador português entrasse, eu fosse capaz de o contextualizar. Agora, quero saber quem se vai responsabilizar pelos danos morais que me foram brutalmente causados por ver tantos e tão inexpressivos actores…

Maria Ortigão

DIÁRIO DE UMA UTENTE DOS SERVIÇOS DA SEGURANÇA SOCIAL


7 de Setembro de 2005


Querido Diário, há alguns dias atrás, recebi uma carta da Segurança Social. Como é hábito destes serviços, a missiva vinha redigida num registo linguístico altamente elaborado e composto, que quase obriga o leitor a dividir as orações para conseguir perceber a informação. Por exemplo, em vez de simplesmente escreverem “A casa verde da Rua da Liberdade.”, são capazes de nos presenciar com algo como: “O lugar de recolha e habitação de matiz herbáceo, que nos aparece mapeado junto à Avenida do Livramento e perpendicular à Travessa do Combatente, apelidado justamente de Rua cujo nome é o oposto directo de prisão.”
Após várias leituras, consegui descodificar o conteúdo, mas, nesse mesmo instante, a minha atenção foi desviada para as letras miudinhas que se aninhavam no fim da carta e que contradiziam tudo o que tinha sido afirmado anteriormente, provocando muita ambiguidade.
Estava decidido, Diário, tinha de me deslocar às instalações da Segurança Social. Porém, as da minha área de residência estão em obras, por isso havia que fazer uma viagem maior.
Cheguei, finalmente, ao meu destino. Faltava uma hora para os serviços encerrarem e já não havia senhas à disposição dos utentes. Dirigi-me ao balcão de atendimento, onde me informaram que tinham retirado as senhas, porque estava muita gente à espera para ser atendida até ao fecho do expediente e que o horário de atendimento era das 9h às 16h30m, sublinhando enfaticamente que não fechavam durante a hora de almoço. Oh, que abnegação laboral!
Escusado será dizer que não concordo, amigo Diário, com este tipo de funcionamento. Ora, repara:
- eu cheguei dentro do horário de expediente (não em cima da hora, não cinco minutos antes do fecho, mas uma hora antes), logo, tenho todo o direito de ser atendida, independentemente da quantidade de pessoas que está à minha frente;
- se a política daqueles serviços é não permitir que mais ninguém seja atendido, quando há um grande número de utentes, não faz sentido ter um horário de funcionamento fixo de atendimento, pois hoje pode “fechar” às 15h30m, amanhã às 12h, na próxima semana às 16h… Portanto, ninguém sabe exactamente é que retiram as senhas ao público;
- “Abertura: 9h; Fecho: 16h30m” Tendo em conta que a esmagadora maioria dos trabalhadores exerce a sua profissão das 8h às 17h, quem determinou este horário não deve ser muito esperto!



8 de Setembro de 2005

Querido Diário, decidida a ser atendida, levantei-me cedo e rumei à Segurança Social. Os ponteiros do relógio marcavam 9h10m, quando retirei a minha senha de atendimento. Orgulhosamente, tinha chegado bastante cedo… tal como as 50 pessoas que estavam à minha frente! “Não há problemas!”, pensei, “A senha marca que daqui a uma hora serei atendida e eu venho bem munida!” Assim, com o jornal numa mão e um livro na outra, estava preparada para enfrentar a espera.
30 minutos depois… Já tinha lido a maior parte do jornal.
Uma hora depois… Já tinha lido o jornal todo, incluindo a necrologia.
Uma hora e meia depois… O livro era lido a um ritmo alucinante.
Duas horas depois… Mais de metade do livro já estava lido.
Duas horas e meia depois… Comecei a entrar em pânico, porque o livro estava a chegar ao fim e isso queria dizer que, para me entreter, teria de ouvir as conversas vizinhas.

Nota: Querido Diário, lembra-me que, para esperas deste género, devo levar livros bem grossos, tais como “Os Maias”, todos os volumes da História de Portugal (sem ilustrações) ou a “Bíblia”.

Agastada com a situação, dirigi-me ao balcão de atendimento e fiz ver que a espera estava a ser um “bocadinho” maior do que o previsto. Obtive, então, uma resposta mal-humorada: “Ó menina, há um centro que está encerrado para obras, há pessoal que está de férias, muita gente que também está de férias aproveita para vir cá… Tem de esperar!” Pois, tinha de (des)esperar!
Após três horas, fui chamada. Enquanto me encaminhava para a mesa de atendimento, só pensava: “Ai de ti, se me tentares despachar!” Ao entrar, reparei que as mesas do lado esquerdo tinham empregados, mas as do lado direito estavam vazias. Ou seja, apesar de estarmos ainda em período de férias e de haver um centro de atendimento encerrado, ninguém se preocupou em reforçar o pessoal no sentido de se efectuar um bom atendimento do público. Agora, percebia muito bem por que motivo tinham de retirar as senhas tão cedo!
Felizmente, fui muito bem atendida. A senhora explicou tudo, tirou-me as dúvidas com calma e clareza e disse-me que deveria voltar com os seguintes documentos: impresso, que se levantava no balcão de atendimento, fotocópias do IRS, do bilhete de identidade e do cartão da Segurança Social.
Dirigi-me, de seguida, ao balcão e pedi o tal impresso. A senhora, que lá estava, olhou para a carta que tinha e disse “muito delicadamente”:
— Não precisa do impresso para nada!
— Mas… mas… (é muito irritante esta fraqueza de gaguejar perante situações insólitas!) A sua colega afirmou que era necessário! – balbuciei eu timidamente.
— Pronto! Tome lá! – atirando com o impresso para cima do balcão. E eu lá tomei…

9 de Setembro de 2005

Querido Diário, com os documentos pedidos, rumei, pela terceira vez consecutiva, à Segurança Social. Desta feita, só esperei uma hora. Ena, ena, que sortuda que eu sou!
Quando chegou a minha vez, entreguei os documentos e, qual cereja no topo do bolo, a senhora (não a de ontem) diz:
— Não é necessária a fotocópia do IRS.
— Mas… mas… – lá estava eu a gaguejar outra vez – Ontem, pediram-me para a trazer!
— Só que não é preciso!
Eu só queria sair dali o mais depressa possível antes que perdesse a compostura. Para além de ter sido obrigada a ir lá três vezes, de ter esperado muito tempo para ser atendida, numa sala abafada e cheia de gente barulhenta, de ter despendido 9 euros em transportes públicos, ainda tinha de aturar a incompetência daqueles funcionários que não sabem a quantas andam! Tenho a impressão de que se me dirigisse a um quarto funcionário, era capaz de ter uma quarta versão dos factos. Se me tivessem dito logo que não era necessária a fotocópia do IRS, bastava ir a até uma papelaria da zona, tirava cópia aos outros documentos, voltava à Segurança Social e entregava tudo. De certeza que ia passar lá o resto do dia, mas, pelo menos, resolvia logo as coisas. Que falta de profissionalismo, que falta de respeito, que falta de tudo! Francamente!

10 de Setembro de 2005

Querido Diário, não imaginas como é fácil construir uma bomba artesanal! Ah, ah, ah… (ler as gargalhadas com voz cavernosa e algo demente!)…



Maria Ortigão

SINFONIA DA CANA RACHADA


O Benfica tem uma sinfonia. O maestro Vitorino d’Almeida teve tanto trabalho para a compor, quando a coisa era muito mais fácil de se fazer.
Uma vez que o “Glorioso” teve a entrada mais desastrada de sempre na Liga de Futebol, bastava desafinar os instrumentos todos da orquestra e depois pôr os músicos a tocar cada um para o seu lado. Desta maneira, teríamos a banda sonora mais adequada para rever os três primeiros jogos da equipa da Luz.

Maria Ortigão

AVES RARAS II


Pelos vistos, no fim-de-semana passado, houve mais uma migração destas aves, agora contra os homossexuais. E prometem mais manifestações!
Vi algumas imagens que passaram na televisão e, entre o divertida, o pasmada e o preocupada, não resisto a deixar alguns comentários.

1. “80% dos pedófilos são homossexuais” dizia um cartaz


Um dos manifestantes disse que viu esta estatística na Internet, mas não se lembrava das fontes. Estava, pois, muito preocupado por causa das crianças abusadas por “esses anormais”! Então, depreende-se que os restantes 20% de pedófilos são heterossexuais. E esses não os preocupam? Não os preocupam os heterossexuais que maltratam física e psicologicamente os seus filhos, levando-os, em alguns casos, a uma morte prematura?
O problema destas “pessoas”, que formaram a manifestação, é não compreender que independentemente da raça, da religião, da orientação sexual, da educação e das condições económicas e sociais há pessoas boas e honestas e também há pessoas más, capazes de cometer as maiores atrocidades.



2. A indumentária e acessórios

Alguns manifestantes usavam camisolas pretas com a palavra “ódio” inscrita. Vi umas cruzes suástica tatuadas e a saudação nazi. Acho que isto diz tudo sobre o equilíbrio mental daquele aglomerado.

3. Juventude

O que mais me impressionou não foram as barbaridades proferidas (a estupidez é tanta que quase nem se liga), foi quem as proferiu – jovens. Estes jovens tiveram a sorte de crescer em liberdade, não viram os seus direitos mais básicos serem-lhes negados, tiveram acesso à educação, são, portanto, privilegiados em relação aos pais. Não têm razões para serem tão intolerantes e tão idiotas.
Um jovem gestor, todo abetalhado (cabelinho com repas para o lado e camisa aos quadrados) o que até destoava dos seus companheiros de manif, disse que gostava de pôr os seus filhos no ensino público, mas não podia, porque lá ensinam que a homossexualidade é uma coisa normal! Tem toda a razão, o ensino em Portugal está cada vez pior! Onde é que já se viu ensinar-se valores como a igualdade de direitos e a dizer não à discriminação? Valha-nos, por isso, o ensino privado!
Um bebé tinha, no seu carrinho, um cartaz que dizia “Se o meu pai fosse ‘gay’, eu não estava aqui.” Ó filho, se o teu pai fosse minimamente inteligente, tu não estavas aqui (aqui, na manifestação)!
Cá para mim, este bebé e os filhos do gestor correm mais perigo do que se estivessem a cargo de homossexuais.

4. Tanto querem falar…
Das entrevistas recolhidas, sobressaíram duas. Numa, um jovem, à pergunta “Por que motivo está aqui?”, falou, falou, sem nunca concluir uma frase, muito menos um discurso perceptível. O engraçado é que sempre que tentava dizer “homossexuais” não conseguia, não porque sentisse desconforto em proferir a palavra, mas porque simplesmente não a sabia articular, acabando por falar “nos coisos” e “nos maricas”. O homem não deve conseguir articular palavras com mais de três sílabas! Devia ser hilariante se ele tentasse dizer “inconstitucionalissimamente”.
Na outra entrevista, o jornalista aproximava-se das pessoas e elas fugiam, dizendo que não faziam comentários! Então, se foram a uma manifestação fervorosa e publicamente deitar cá para fora o que lhes vai na alma, não era de aproveitar o mediatismo dado pelas câmaras de televisão? Animais estranhos, estas aves raras (ler esta frase com a música do “National Geographic” na cabeça)!

5. Bater “records”
Agora a moda em Portugal é entrar para o “Guiness”. Queriam os lisboetas bater o “record” do maior passeio de cães, quando, no dia anterior, se tinha batido o “record” do maior grupo de cabeças ocas.
Eu até penso que a manifestação contra os homossexuais era um óptimo trabalho para o “Esquadrão G” (ler esta frase com a música do “Esquadrão Classe A” na cabeça, lembram-se?).

6. Mais manifestações
As autoridades portuguesas deram o seu aval à realização de uma marcha contra os homossexuais, mas não deixam os militares manifestarem a sua opinião, esquecendo-se de que, antes de pertencerem aos elementos das forças da ordem, são seres humanos como os outros.
Em contra partida, os militares são autorizados a participar na nova palhaçada da TVI.
Será que eu é que estou maluca ou há qualquer coisa que me escapa?



Maria Ortigão

Zen...

O texto "Apanhado(s)" foi escrito na data atestada por ele mesmo. (Isto soa muito estranho, mas começo a ficar cansada-mental), antes por tanto do meu fim-de-semana Zen! [Me aguarden!] E agora, fruto do tal, escrevo gostei de ler o que escreveu, pricipalmente o último, pelo tom leve; (absolutamente free de todo e qualquer duplo sentido, mesmo com o estrangeirismo).
Obviamente não se pode concordar com: a «manutenção duma situação onde as mulheres são tratadas como gado» já aqui nos insurgimos e até fiz cartazes informativos acerca da condição da mulher afegã aquando do boom mediático.
M.Q.

Estranho...

Fazendo uma relação bibliográfica reparei no seguinte: o livro "Fátima nunca mais" foi escrito por um senhor padre chamado: Mário de Oliveira. E daí? Reparem no binómio Maria/Oliveira (!).
Para quem gosta de forças superiores...
P.P.: Procurei saber se o nome do senhor foi tomado depois da ordenação ou provém da pia batismal, não encontrei; mas também reconheço que abrir duas páginas não é pesquisa suficiente.
E peço desculpa se a utilização do lexema "binómio" estiver incorrecta.
M.Q.

Teoria de conspiração

Começo a achar que dentro dos partidos a um lobby qualquer entre os que decidem os locais estratégicos da colocação dos cartazes da pré-pré-pré-pré-campanha e mecánicos, chapeiros e afins... Então não é, que os cartazes são colocados principalmente em cruzamentos, rotundas... e se um cidadão resolve cumprir o dever de manter-se informado lá se distrai e bate com o veículo automóvel!
M. Q.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Apanhado(s)

... em tempo de rescaldo atear chamas é crime mas...
gostaria de perguntar a F. A. M. se quando fala em estudos «isentos e cientificamente à prova de bala» , tem a noção de que "o" estudo não existe, pelo menos que respeite a segunda qualidade. Isto por princípio. Tal estado de perfeição (a palavra é minha, eu sei) é impossível de alcançar. [Naturalmente que] falo sem saber, não li os estudos ou conclusões. Mas acho que não se pode negar que a acção humana, entenda-se: desenvolvimento industrial e derivados- não construções precárias em morros que provocam tragédias (sempre condenáveis- as construções), causa graves danos e influencia, sim, o ambiente. E mesmo não sendo provado não seria melhor sermos altruistas e procurar conservar a casa que nossos filhos habitarão amanhã? Ah, mas isso custa muito dinheiro; -E não são os E.U.A uma potência, e não é o desenvolvimento de energias alternativas um incentivo ao progresso tecnológico/científico? Desde a primária que ouço e aprendo a importância das energias renováveis, que o petróleo acaba... Tu não?
"O nosso poder cresce mais depressa que a nossa sabeduria", Estrela de pop-Rock e não o Dalai-lama.
Sou arredia às máquinas que os grandes partidos encerram. Por isso o PS por si só não é opção. Uma figura dentro do PS talvez leve o meu voto, mas acho que aprendi que não vale a pena. Obrigada pela lista de outras opções políticas.
O meu post sobre a bomba nuclear pretendia apenas partilhar o testemunho humano do que é sofrer na pele (nunca esta expressão foi tão adequada) «a imbecilidade humana». Não se trata de acusar a matança mas a arma usada, a falta de respeito e consideração. Fiquei a pensar: é certo que não se comemora o fim da guerra, apenas alguns momentos marcantes: desembarques, libertações, bombas... Acho que sendo uma falha é uma questão socio-cultural (não pretendo me desresponsabilizar fazendo como sempre a má-da-fita a sociedade) porque de facto não nos "ensinaram" isso na escola. Mesmo "os telejornais" abrem mais depressa com uma transferência clubística que com uma efeméride dessas.
Quanto ao Ché, não me apanha de certeza con t-shirts e todo o tipo de derivados comerciais. Já manifestei simpatia pela figura romântica, como por qualquer outra figura histórica. Declarei-me sonhadora não ingénua. Já defendi ditadores (do que me arrependo), festejei golpes de estado (um dos mais curtos da história, provavelmente) e penintencio-me por ter acreditado num caudilho. Não vou numa de esquerda porque quero as riquezas dos outros, quero um mundo mais justo; não se condenam os mortos provocados pelos americanos, condenam-se os mortos injustificadamente.
Aproveito para dizer que repudio todos aqueles parvos comentários sobre a tragédia provocada pelo Katrina: «um outro lado da América, a fragilidade, a pobreza, a miseria» essas pessoas só devem conhecer os E.U.A. das comédias românticas passadas em N.Y. Todo e qualquer país tem dois polos. E a comunicação social, que faz que não nos traz novas da reconstrução que impera após o Tsunami?
M.Q.