Pelos vistos, no fim-de-semana passado, houve mais uma migração destas aves, agora contra os homossexuais. E prometem mais manifestações!
Vi algumas imagens que passaram na televisão e, entre o divertida, o pasmada e o preocupada, não resisto a deixar alguns comentários.
1. “80% dos pedófilos são homossexuais” dizia um cartaz
Um dos manifestantes disse que viu esta estatística na Internet, mas não se lembrava das fontes. Estava, pois, muito preocupado por causa das crianças abusadas por “esses anormais”! Então, depreende-se que os restantes 20% de pedófilos são heterossexuais. E esses não os preocupam? Não os preocupam os heterossexuais que maltratam física e psicologicamente os seus filhos, levando-os, em alguns casos, a uma morte prematura?
O problema destas “pessoas”, que formaram a manifestação, é não compreender que independentemente da raça, da religião, da orientação sexual, da educação e das condições económicas e sociais há pessoas boas e honestas e também há pessoas más, capazes de cometer as maiores atrocidades.
2. A indumentária e acessórios
Alguns manifestantes usavam camisolas pretas com a palavra “ódio” inscrita. Vi umas cruzes suástica tatuadas e a saudação nazi. Acho que isto diz tudo sobre o equilíbrio mental daquele aglomerado.
3. Juventude
O que mais me impressionou não foram as barbaridades proferidas (a estupidez é tanta que quase nem se liga), foi quem as proferiu – jovens. Estes jovens tiveram a sorte de crescer em liberdade, não viram os seus direitos mais básicos serem-lhes negados, tiveram acesso à educação, são, portanto, privilegiados em relação aos pais. Não têm razões para serem tão intolerantes e tão idiotas.
Um jovem gestor, todo abetalhado (cabelinho com repas para o lado e camisa aos quadrados) o que até destoava dos seus companheiros de manif, disse que gostava de pôr os seus filhos no ensino público, mas não podia, porque lá ensinam que a homossexualidade é uma coisa normal! Tem toda a razão, o ensino em Portugal está cada vez pior! Onde é que já se viu ensinar-se valores como a igualdade de direitos e a dizer não à discriminação? Valha-nos, por isso, o ensino privado!
Um bebé tinha, no seu carrinho, um cartaz que dizia “Se o meu pai fosse ‘gay’, eu não estava aqui.” Ó filho, se o teu pai fosse minimamente inteligente, tu não estavas aqui (aqui, na manifestação)!
Cá para mim, este bebé e os filhos do gestor correm mais perigo do que se estivessem a cargo de homossexuais.
4. Tanto querem falar…
Das entrevistas recolhidas, sobressaíram duas. Numa, um jovem, à pergunta “Por que motivo está aqui?”, falou, falou, sem nunca concluir uma frase, muito menos um discurso perceptível. O engraçado é que sempre que tentava dizer “homossexuais” não conseguia, não porque sentisse desconforto em proferir a palavra, mas porque simplesmente não a sabia articular, acabando por falar “nos coisos” e “nos maricas”. O homem não deve conseguir articular palavras com mais de três sílabas! Devia ser hilariante se ele tentasse dizer “inconstitucionalissimamente”.
Na outra entrevista, o jornalista aproximava-se das pessoas e elas fugiam, dizendo que não faziam comentários! Então, se foram a uma manifestação fervorosa e publicamente deitar cá para fora o que lhes vai na alma, não era de aproveitar o mediatismo dado pelas câmaras de televisão? Animais estranhos, estas aves raras (ler esta frase com a música do “National Geographic” na cabeça)!
5. Bater “records”
Agora a moda em Portugal é entrar para o “Guiness”. Queriam os lisboetas bater o “record” do maior passeio de cães, quando, no dia anterior, se tinha batido o “record” do maior grupo de cabeças ocas.
Eu até penso que a manifestação contra os homossexuais era um óptimo trabalho para o “Esquadrão G” (ler esta frase com a música do “Esquadrão Classe A” na cabeça, lembram-se?).
6. Mais manifestações
As autoridades portuguesas deram o seu aval à realização de uma marcha contra os homossexuais, mas não deixam os militares manifestarem a sua opinião, esquecendo-se de que, antes de pertencerem aos elementos das forças da ordem, são seres humanos como os outros.
Em contra partida, os militares são autorizados a participar na nova palhaçada da TVI.
Será que eu é que estou maluca ou há qualquer coisa que me escapa?
Maria Ortigão
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