«Revolucionario ou reformador- o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo o revolucionário, todo o reformador, é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível.
[Ébrias de uma coisa incerta, a que chamaram «positividade»,] essas gerações criticaram toda a moral, esquadrinharam todas as regras de viver, e, de tal choque de doutrinas, só ficou a certeza nenhuma, e a dor de não haver essa certeza. Uma sociedade assim indisciplinada nos seus fundamentos culturais não podia, evidentemente, ser señao vítima, na política, dessa indisciplina; e assim foi que acordámos para um mundo ávido de novidades sociais, e com alegria ia à conquista de uma liberdade que não se sabia o que era, de um progresso que nunca definira.»
Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego, nsº 160 e 175.
M.Q.
1 comentário:
Sempre penetrante, este Pessoa-Soares. Porque, antes de tentarmos mudar o mundo, devíamos tentar mudar a nós mesmos. Mas é difícil, e, como o amor à humanidade é sempre abstracto, lá vamos nós, carregados de defeitos e erros, de sacola às costas para reformar a humanidade. Patético. E nada como a prosa de Soares para o notar.
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