Auto das Presidenciais adaptado por Maria Ortigão por contemplação da estranhíssima e muito interessante campanha eleitoral, e representada por seu mandado ao poderoso e mui alto regime D. Democracia, rainha de Portugal com este nome.
Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a umas eleições, as quais per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa para o paraíso, e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
O primeiro interlocutor é um fidalgo que chega com uma page, que lhe leva um rabo mui comprido, muitos bilhetes de viagens e uma tartaruga. E começa o arrais do inferno ante que o Fidalgo venha.
Diabo: Às eleições, às eleições, houlá!
que temos gentil campanha eleitoral!
- Ora venha o candidato presidencial!
Companheiro: Aí vem, aí vem!
Diabo: Bem está!
Vai tu, muitieramá,
atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
para a gente que vinrá.
Às eleições, às eleições, hu-u!
Asinha, que se quer eleger!
Oh, que tempo de votar,
louvores a Berzebu!
- Ora, sus!, que fazes tu? eia! vamos!
Despeja todo esse leito!
Companheiro: Em boa campanha! Feito, feito!
Diabo: Abaxa má-hora esse cu!
Faze aquela urna eleitoral
E alija aqueles boletins.
Companheiro: Ô!-ô! vota! Ô!-ô!, ins! ins!
Diabo: Oh, que campanha esta!
Pões bandeiras, que é festa.
Debates altos! Sondagens a pique!
- Ó poderoso dom Mário Soares,
cá vindes vós? Que cousa é esta?
Continua…
Scilicet: isto é;
Muitieramá: em muito má hora
atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
para a gente que vinrá: o Diabo ordena que se arranje espaço para os candidatos presidenciais que estão a caminho.
Asinha: depressa
sus!: eia!, vamos!
Maria Ortigão
1 comentário:
Venha daí a continuação...
Enviar um comentário