quinta-feira, novembro 24, 2005

FELIZ ANIVERSÁRIO



Parabéns a vocês
Nestas datas queridas.
Muitas felicidades,
Muitas letras de vida.
Hoje e amanhã são dias de festa,
Lêem os nossos olhos.
Para os meninos Ramalho e Eça
Muitos livros de palmas!



Nestes dias de festa, 24 para Ramalho e 25 para Eça, aqui ficam umas pequenas prendas, retiradas de “As Farpas”.


“A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. (…) O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. (…) A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretárias para as mesas dos cafés.”

“Desprezam-se os padres e despreza-se o culto, o que não impede que a propósito de qualquer coisa se exija o juramento! A religião ficou sendo um artigo de moda. (…) é um bom-tom aristocrático. (…) Aceitam Deus como um chic. (…) O povo, esse reza. É a única coisa que faz além de pagar. (…) A classe eclesiástica não significa a realização de uma crença; é ainda uma multidão de desocupados que querem viver à custa do Estado. (…) o clero inteligente e sincero tem uma missão difícil: não é fortificar a religião, é extinguir o beatério!”

“Com uma política de acaso, com uma literatura de retórica e de cópia, com uma legislação desorganizada, não se pode deixar de ter uma moralidade decadente. (…) nunca temos por isso a atitude da nossa consciência, temos a atitude do nosso interesse. (…) Lentamente o homem perde também a individualidade do pensamento.”

“A câmara não tem justiça. Se alguma coisa decide na sua pequenina área de alterações pequeninas não é no terreno da justiça, é no interesse político. Quem ignora os exemplos? A enumeração deles fatigaria Homero.”

“De modo que, se um homem pudesse apresentar-se ao chefe do estado com os seguintes documentos:
Espírito de tal modo bronco que nunca pôde aprender a somar;
Estupidez tão espessa que nunca pôde distinguir as letras do A B C;
Reprovação sucessivas em todas as matérias de todos os cursos;
O chefe do estado tomá-lo-ia pela mão e dir-lhe-ia, sufocado em júbilo:
- Tu Marcellus est! Tu serás presidente do conselho!”

“Há só um ponto negro que assusta o discurso da coroa: é a questão de fazenda [discussão do orçamento]. No entanto, com a impassível insistência duma criança, o discurso da coroa, cada vez que aparece em público, promete resolvê-la! (…) O homem político – simples influente eleitoral, mero candidato a deputado – lisonjeia, mente, difama, atraiçoa. Na política portuguesa raros dão um passo que o não conquistem por algum destes vícios. (…) uma coisa que concorre para que a nossa diplomacia seja soturna, é o horror que o país tem a ser representado por homens inteligentes.”

“Na sociedade, nas salas, nos teatros e nos passeios, dais os privilégios das vossas atenções, das vossas cortesias às eminências da toilette, às superioridades dos penteados, aos rastros mais cintilantes das mais longas caudas de cetim.”

“… nós somos o país dos tristes, dos cismáticos, dos piegas, dos choramingas. Isto procede de sermos o país dos mandriões e dos ignorantes…”

“… quanto mais conhecemos os homens mansos, mais estimamos os bichos bravos.”

“Conversar para o português é um perigo, uma dificuldade, um transe: é o antigo Cabo das Tormentas; (…) Conversar! Falar! Entreter! Mover o alado e fino batalhar das ideias, ter opiniões, traits, ditos: todo o português imagina que esta maravilha só se pode dar nos romances de franco. Daí vem o velho hábito elegante de se encostar, o português, o indígena, à ombreira da porta, com aspecto fatal. Conversar! Os homens tremem e as senhoras empalidecem.”

“A moda começa por ter isto de absurda: é que não é ela que é feita para o corpo – é o corpo que tem de ser modificado para se ajeitar nela. (…) A moda destrói a beleza e destrói o espírito. Um figurino decretado e seguido – mata as originalidades do gosto.”

1 comentário:

Vagabundo disse...

Ás Fárpas!!!!!

"Leitor querido—Depois de uma longa abstenção de tres mezes—os mezes do verão—As Farpas voltam a apparecer no teu banquete ao mesmo tempo a que recomeçam a servir-se tambem as ostras.

Á similhança dos mariscos, qu não é bom comerem-se nos mezes que não teem r, estas paginas condimentosas e estimulantes, se abusasses d'ellas no tempo quente, amigo, far-te-hian, talvez, furunculos".
Vol XX 1873