14 de Novembro de 2005
Querido Diário, voltei ao local do crime. Sim, pela tua expressão horrorizada sei que já percebeste que fui aos eficazes, eficientes, rápidos, absolutamente competentes e extraordinariamente simpáticos (nota, amigo pautado e de capa dura, que estes adjectivos, que acabei de rabiscar, saíram assim, PUFF, sem meditar) Serviços Sociais.
Mas por que motivo me fui lá enfiar outra vez, perguntas tu, temendo que eu ande sob o efeito de narcóticos. Sossega, pequeno caderno, não é nada disso que tu estás a pensar. No entanto, o que nós não fazemos pela nossa mãe? Não a podia deixar ir sozinha àquele antro de perdição.
Pois bem, a minha mãe ia dar, como faz todos os meses, a sua contribuição para a Segurança Social. Quando chegou a sua vez, o senhor que a atendia disse-lhe que não podia aceitar o pagamento, porque a minha mãe, segundo as informações que tinha no computador, já não pagava desde Março de 2003. Ah! Ah! Ah! Para além de eficazes, eficientes, rápidos, absolutamente competentes e extraordinariamente simpáticos são danados para a brincadeira, os doidivanas! Foi, então, que eu reparei que o senhor não se ria. Quer dizer que, apesar de a minha mãe, efectivamente, ter as contas em dia, como o comprovam os recibos que tem em casa e de ter, naquele momento, o recibo do mês anterior à frente do nariz do funcionário, estava a ser dada como devedora ao Estado. E mesmo que fosse devedora ao Estado, só se lembravam de avisar dois anos e nove meses depois?!
Tivemos de ir ao departamento de informações para saber o que fazer. Havia trinta pessoas à frente e eu sem livro. Ou via o “Natal dos Hospitais” sem som ou lia as revistas “Maria”, ou seja, encontrava-me num dos círculos do inferno de Dante.
Muito tempo depois e com o cérebro um pouco vegetalizado, chegou a nossa vez. Foi-nos dito exactamente o mesmo, que a minha mãe era uma caloteira do caraças e que para tentar regularizar a situação havia que fazer uma reclamação por escrito, acompanhada de fotocópias de todos os recibos dos pagamentos feitos a partir de Março 2003. Tentar regularizar a situação? Tentar? Quem desregularizou a situação foram vocês, seus anormais! Vocês é que têm não de tentar regularizar a situação, mas de a resolver e ponto, palermas acéfalos! É óbvio que houve um erro no sistema informático ou um da vossa equipa de totós introduziu mal os dados e só agora é que repararam na “situação desregularizada”. Já agora, porquê chamar “situação desregularizada” e não “erro crasso desta cambada de pategos que não percebe nada do que anda a fazer”? É que se insistem com a “situação desregularizada”, ainda se pensa que basta comer uns iogurtes com “bifidus activo” que se regulariza num instante! Bando de parvalhões que nem para arrumadores de carros serviam.
Não, amigo Diário, não disse nada disto, mas vontade… ah, a vontade… Apenas esboçámos um sorriso amarelo e a afirmar que trataremos de tudo o mais rapidamente possível.
Maria Ortigão
4 comentários:
Inspira... expira... inspira... expira... Estás melhor? Mais calma?
Agora, mãos à obra: a reclamação por escrito! Aproveita a inspiração do post, mas não te esqueças de expirar de vez em quando...
Eu, pessoalmente, ando numa de aproveitar essas histórias das reclamações escritas! Goza o momento!
Gostei das adjectivações e definições!
Gostei das adjectivações e definições!
É o que dá o excesso de Estado. Numa empresa privada, umas reclamações fariam com que o sentido de exigência e a concorrência agissem. Mas como os funcionários públicos têm a Constituição a protegê-los, façam pouco ou façam muito, nada lhes acontece. Como melhorar?: privatizar boa parte dos serviços de estado. Melhor mercado e mais mercado!
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