terça-feira, outubro 04, 2005

E O DIÁRIO CONTINUA…



Ontem, no “Jornal de Notícias”, Manuel António Pina escrevia, no espaço “Por Outras Palavras”, assim:




Aventura no Estado (happy-end)

«Resumo do episódio anterior: para poder receber o que o Estado lhe devia, o herói, vencido a primeira e penosa prova a da entrega do Requerimento, aventurara-se nos labirintos da Segurança Social do Porto em busca do Velo de Oiro, a prometida Certidão!, tendo descoberto, ao fim de mês e meio, que “elas”, de tarde, desligam o telefone e, de manhã, não atendem... O herói continuava a telefonar mas o mais que conseguia, entre piiiiis e música de Vivaldi, era: “A sua chamada encontra-se em linha de espera” ou “Lamentamos mas não foi possível atender a sua chamada”. Até que, um dia, uma voz humana surgiu do outro lado da linha: “Vou ver se encontro alguém…” E pouco depois, finalmente, aparecia Alguém! Mas tudo o que Alguém tinha para lhe dizer era que esperasse… Fizera, pobre dele, a circum-navegação da Segurança Social e voltara ao mesmo sítio, isto é, a sítio nenhum!
Tomou então a mais temerária das decisões e rumou ao Cabo das Tormentas da Rua das Doze Casas, onde naufragam todos os dias as esperanças de milhares de “beneficiários”. Na sala de espera, de papelinho na mão, uma multidão aguardava. Como o poeta, também ele “nunca pensara que a morte tivesse levado tantos”… Dirigiu-se ao balcão e clamou: “Quero o livro de reclamações!” Foi o “Abre-te, Sésamo!” Veio imediatamente um responsável recebê-lo, contando-lhe coisas terríveis da vida daquele lugar do fim do Mundo.
E, de repente, emergindo, como Vénus das águas, de um mar desencontrado de papéis e “dossiers”, apareceu a Certidão!»


Porra! E eu que não me lembrei de pedir o livro de reclamações!


Maria Ortigão

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