terça-feira, outubro 11, 2005

ELEIÇÕES: PARA QUANDO O SOSSEGO?


1. Cinco dias antes das eleições


Conselho de amiga: se querem manter a sanidade mental, não saiam de casa dias antes de qualquer eleição. É que, lá fora, encontram uma selva e nós, os eleitores, somos a presa. De facto, os partidos e os respectivos candidatos aproveitam para queimar os últimos cartuchos e andam, quais baratas tontas, de um lado para o outro completamente frenéticos.
Ora, eu, a Manuela e outros amigos cometemos o grave erro de pormos os pés fora de casa, nesta altura.
No percurso, feito de automóvel, encontrámos uma caravana de um partido. Ele era carros que nunca mais acabavam, buzinadelas insistentes, apitos, bandeiras, palavras de ordem, música em altos berros… E nós, parados, à espera que acabassem de passar. Até que o candidato parou de propósito para nos deixar seguir a marcha. O que eles não fazem para nos caçar mais uns votos!
Pensávamos, com alívio, que o pior tinha passado. Todavia, o mundo é cruel! Mais à frente encontrámos a caravana rival. Como um azar nunca vem só, ficámos imediatamente atrás do camião de caixa aberta que fechava o cortejo e… prova cabal de que Deus não existe… a rua era de sentido único, logo, não podíamos ultrapassar. Infelizmente, esta caravana andava a passo de caracol, parava para dar brindes aos transeuntes e nós certamente que passámos como apoiantes daquela candidatura. Que vergonha!
Mas há mais… O camião de caixa aberta levava um grupo de pessoas a gritar, a apoiar, a cantar, a incentivar ao voto no candidato… Eu resolvi não me ficar e, tal como já tinha feito com a caravana anterior, também gritei as minhas palavras de ordem: “Ladrões! O que vocês querem é o dinheiro dos pobres!” A Manuela estava muito preocupada, porque pensava que, por minha causa, ainda íamos todos para a esquadra. Não percebo a razão. Então, se eles podem gritar mentiras (vulgo promessas), que mal tem em eu dizer verdades?
Não resisto a contar só mais um episódio com o objectivo de aliviar (sim, esta é a palavra mais correcta!) a tensão. No aglomerado de pessoas que se encontrava no camião, destacou-se um rapazito que confirmou que isto de andar em campanha pode dar grandes apertos (outra palavra muito bem escolhida!). O “piqueno”, sentindo o chamamento da Mãe Natureza e não o podendo ignorar mais, não teve outro remédio senão expelir do seu corpo o líquido sobejo. Pois foi ali mesmo, do alto do camião para a estrada, que o moçoilo completou mais um ciclo do corpo humano. Achei o momento artístico, na medida em que me fez lembrar aqueles belos repuxos de água, nos quais um menino nu dá o seu contributo para o pequeno lago. Também foi interessante a atitude da (suponho) progenitora. Procurando dar alguma privacidade a tão íntimo acto e procurando, ao mesmo tempo, evitar qualquer salpico indesejável, colocou a bandeira do partido a servir de guia ao repenicado jacto. Ah, as crianças…

2. Um dia antes das eleições

Devia ser dia de reflexão todos os dias. Quem é que já não estava farto de comícios e cartazes? Contudo, para mal dos nossos pecados, as presidenciais são daqui a poucos meses e nem vamos ter tempo para respirar.
Tinha-me apercebido de que esta campanha, que agora termina, havia sido muito aparatosa, porque cada vez se vêem mais cartazes, panfletos, brindes, músicos para animar as festas… Afinal, estamos ou não em crise? Foi, então, que vi, na comunicação social, quanto os partidos gastaram. Assim como a santa Fatinha nem sequer conseguiu pronunciar a infame cor, eu também não consigo escrever o número consumido. Mais estupefacta fiquei, quando soube que cada português contribuiu, em média, com cinco euros para aquele número! Eu dei cinco euros para aquele folclore todo? Sinto-me tão enganada, tão usada, tão revoltada! Para as campanhas arranja-se logo dinheiro, pelo contrário para pôr aquecimento numa escola ou para tapar um buraco do saneamento (só para citar alguns exemplos) é um “Ai, Jesus!”, porque não há dinheiro, estamos de tanga. Pois é, a crise não toca a todos!
Além disso, se o período de campanha eleitoral é de duas semanas imediatamente anteriores ao escrutínio, só deveria ser ocupado esse tempo, ou seja, era bom que se acabasse com a pré-campanha. Quinze dias chegam e sobram para os políticos apresentarem as suas propostas. Era melhor para todos, pois, assim, poupava-se dinheiro, os políticos não se cansavam tanto e, sobretudo, não nos cansavam tanto.



3. Na noite das eleições: a vitória dos três mosqueteiros

Fátima Felgueiras, Isaltino Morais e Valentim Loureiro conquistaram as suas câmaras. Só faltou o d'Artagnan Avelino Ferreira Torres.
Aqueles mosqueteiros são a prova de que o crime compensa. Mas, enfim, estamos em democracia e foi o povo que os elegeu. Ao contrário de alguns analistas políticos, não considero que a população daquelas localidades seja a grande culpada por eleger pessoas que estão a contas com a Justiça. O problema está no sistema (espero que Dias da Cunha não se importe que eu esteja a usar a sua palavra preferida) que permite que arguidos se candidatem a um cargo de responsabilidade.
Fátima Felgueiras teve a distinta lata de, no seu discurso vitorioso, falar de ética e moral. Se calhar, comprou-as nalguma loja brasileira e pensa que ninguém sabe o que são! Para além disto, a sua candidatura chamou-se “Sempre presente”! Os dois anos que esteve foragida, no Brasil, foram uma ausência presentificada ou uma presença na ausência ou uma aupresência?
Valentim Loureiro, depois de ter mostrado muito mau feitio para com o pobre do homem que lhe tentava arranjar um microfone, abriu-se num sorriso e fez um discurso digno de um militar que tinha acabado de tomar pela força o poder, num qualquer país do hemisfério Sul.
No entanto, o melhor da noite ficou a cargo de Rui Rio, que teve a honra de nos presentear com a sua melodiosa voz, cantando “A Portuguesa”.
Como dizem os títulos de algumas cartas electrónicas, isto é “Portugal no seu melhor”!


Maria Ortigão

3 comentários:

Anónimo disse...

"...a rua era de sentido único, logo, não podíamos ultrapassar."
Ainda bem que costumamos ser nós a conduzir!!! Ó sra. pendura, a rua ser de sentido único não impede a ultrapassagem, o que provavelmente vos impediu foi o facto de só ter uma faixa, certo?

Anónimo disse...

Vocês não "estão a ver", ela gritou mesmo!
Quero os meus 5 euros de volta! E eu que não aceito brindes, acho que vou começar a fazer coleção, dos da minha freguesia e adjacentes.
Ai, o sistema!

Maria Ortigão e Manuela Queirós disse...

Exacto, Cristina, foi uma questão de espaço, infelizmente!


Maria