quarta-feira, junho 29, 2005

É tudo nosso

Uma certa manifestação pretendia chamar a atenção para a necessidade de devolver o país aos portugueses. (Isto soa a slogan de alguma coisa). Porque grande parte dos problemas advêm dos imigrantes. A certa altura fazem um minuto de silêncio pelos compatriotas mortos na África do Sul.
Alguém faz o favor de explicar a essa gente que os emigrantes portugueses são lá imigrantes! Que África do Sul não fez parte do império, apesar de ser um destino preferêncial, e que há muito África é "soberana" seja lá o que isso se traduza na prática em termos políticos, porque económicamente são outras as pendências...
Que são trabalhadores honestos... pensei que os recursos os recursos naturais e os postos sócio-económicos que se reclamavam para os de aqui fossem deles- os meus manos- por direito!
M. Q.

Tiago Monteiro

A vitória de T.M. dá um novo significado á anedota do: .... fiquei em 3º lugar! E quantos eram? Seis!
Não me levem a mal, não se trata de ser um dos Velhos do Restelo, nem a maledicência típica da "aldeia portuguesa"... eu agora até sigo os resultados da Formula1! E o gajo é giro! E simpático! E anda a fzer o que todos fazem: explorar os laços com a terrinha. É o mercado!
M.Q.

Ideias

No outro dia apercebi-me que há espaço para um canal temático de teatro, principalmente com as produções portuguesas, mas com pouca revista que as repetições da TVi já enchem! Com peças estrangeiras aqui representadas ou não. Se quiserem pode não ter um horário completo. Mas acho que há lugar!
M.Q.

Errata

Não estive muito atenta à programação televisiva mas parece que falhei a profecia, o que muito me agrada, porque um outro canal foi capaz de fazer algo que não pensava ver: a repetição da série "Até amanhã camaradas" e até exibiram filmes baseados na sua obra- que desconhecia. O que falta é fazerem um documentario/filme sobre a fuga.
M. Q.

Para quem já cá não anda:

Voltei! Seguramente gostariam de ler que andei em profunfas reflexões sobre as últimas pelejas e que surgiria dessas mesmas reflexões qual Fénix das cinzas renascida -muito gostaria eu que existisse esta ave- mas não: volto igualzinha, casmurra e cheia de defeitos, mas com a consciênciencia que desagrada.
De facto não temos leitores, para além de uns bons amigos; ultrapassada a desilusão inicial continuamos, porque nós as duas divertimo-nos para além disso, com a simples exposição de ideias! Das nossas ideias -disparatadas, aqui falo apenas no meu nome- que não pretendem ser verdades inabaláveis, ideias que servem pra expor alguma situação menos boa -afinal sou uma idealista-, ideias que servem como desabafos ou confissões... Falo sobre assuntos que não domino, certo, síndrome do cidadão mediocre que assola o mundo, sejam condescendentes com o bobo da corte.
Não tinha consciência de que o que desagaradava era o estilo da rubrica, talvez porque não o expressou directamente e se insurgia contra ela ou o que ela defendia!? Também não tenho que concordar, já aqui disse que somos responsáveis pelo que escrevemos e independentes! Já que não nos consultamos previamente; é sempre uma surpresa, talvez por isso funcione sem leitores, entre outras coisas como: uma megalomania qualquer e uma veia de escritora/humorista frustarada, mas feliz -passe o paradoxo.
Foi insultado porque insultou; porque não conseguimos estabelecer uma comunicação nos mesmos canais-deturpação de ideias. Agora, é certo, que é livre de ir, ficou porque quis. Não nos está a fazer um favor, nós conseguimos (sobre)viver enquanto nós as duas quisermos. Acho que a razão pela qual ficou tanto tempo, é pelo espaço concedido traduzido em respostas -não necessariamente boas ou correctas; os blogues são "objectos" individuais e pessoais e este não respeita muito essa característica. Quem somos nós? Já respondi, duas pessoas que iniciaram um projecto conjunto-não necessariamente bom e que se divertem a faze-lo! E você?
P.P.: Agradece-se aos leitores (gostei do isentismo da Cristina) que saíram em nossa defesa, que por acaso também são amigos e os únicos dois frequentadores assíduos. Ah ah ah.
Manuela Queirós

quinta-feira, junho 16, 2005

Sem título (não me lembrava de nada de jeito)

Pensei em fazer um grande texto sobre os últimos acontecimentos. Pensando melhor, acho até que não vale a pena. Não me apetece alimentar mais polémicas, porque, se o fizer, todo o espírito do "blog" perder-se-á. Nós gostamos de escrever, pois é uma forma de descomprimir e de nos divertirmos. Quem quiser lê, quem não quiser não lê. Têm todos direito a expressar a opinião, mas nós também temos todo o direito ao contraditório (parece que isto anda na moda) e, doa a quem doer, eu nunca deixarei de usufruir do meu direito.
No entanto, não poderia de dizer que Álvaro Cunhal, apesar das polémicas e de não concordar com muito do que defendia, merece toda a minha admiração por uns pequenos grandes detalhes: lutou afincadamente pela liberdade e foi sempre um anti-fascista.
Maria Ortigão

PONTAPÉS NA GRAMÁTICA E NÃO SÓ X


1. Insigne professora de Metodologia do Ensino de Português da Faculdade de Letras do Porto:
“— Vou contar o que me aconteceu ontem a mim própria!”

Comentário: Há pessoas que só olham para o seu umbigo!

Conselho

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro

2. Insigne professora de Metodologia do Ensino de Português da Faculdade de Letras do Porto:
“— Está in ou line?”

Comentário: Eu diria que está completamente out off line!

Paisagem

Entre pinheiros três casas.
Uma azenha parada.
Uma torre erguida
de fraga em fraga
contra o céu de cal.
E um silêncio talhado
para o voo de um moscardo
alastra de casa em casa
sobe à torre abandonada
e sobe a azenha parada
tomba desamparado.

Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas

3. Amiga, durante uma viagem de carro:
“— Se estiver muito vento, diz, que eu apago os vidros!”

Comentário: Se o vidro for apagado, não vai entrar ainda mais vento?

Lisboa

Alguém diz com lentidão:
«Lisboa, sabes…»
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus
e degraus até ao rio.

Eu sei. E tu, sabias?

Eugénio de Andrade, Poesia

4. O meu pai, falando sobre a sua vida no ultramar:
“— Fui para a aviação aérea!”

Comentário: Sempre foi um verdadeiro cabeça-no-ar, o meu papá!


As amoras

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez
não goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade, Poesia




Maria Ortigão

RAIS PAT’À MINHA SORTE!

Nota de abertura: Esta farpa foi escrita antes da polémica estalar.

1. Ainda sobre as Conferências Democráticas do Casino
Agora estou com um grave problema. Como eu e o Filipe nos encontrámos ontem e já conversámos, não me apetece estar aqui a repetir tudo o que lhe disse, pois já não há elemento surpresa. Porém, a polémica ainda não terminou por aqui.

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, Coração do Dia

Deixo, apenas, alguns dos pontos, que, para mim, são mais importantes:
a) É obvio que não consultei só uma Enciclopédia;
b) A Diciopédia foi o único “livro” que me deu uma resposta clara. Perante a afirmativa que recolhi, penso que a atitude mais correcta não seja a de bater com o pé no chão, dizendo que não, que está errada, mas a de tentar procurar e perceber por que razão há alguém que, pelos vistos, fez um comentário diferente. É por isso mesmo que, neste momento, estou a tomar algumas providências (que frase tão ministerial!!!);
c) Gloriosa Faculdade de Letras do Porto? Está bem, tem algumas coisas boas, nomeadamente a biblioteca. Mas confesso que aprendi muito mais num ano fora dela do que em quatro lá dentro. Não, é mentira! Aprendi que dar duas horas de aulas sentado, com um olhar distante e sempre com um tom de voz de fastio; ou ler, durante as mesmas duas horas, uma resma de folhas amarelas (também há a variante em “post-it”!); ou assassinar textos é altamente anti-pedagógico e é preciso gostar muito daquilo para aguentar certas aulas. Felizmente, houve excepções; infelizmente, não foram muitas.

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade, Poemas



2. Ainda sobre alguém, que anda por aí
Ó homem, pare, de uma vez por todas, de subverter o que escrevo! A minha farpa sobre Belmiro de Azevedo, não tinha nada que ver com política, nem com esquerda nem com direita. Era, apenas e só, um texto satírico, com o objectivo de fazer rir.
O senhor está constantemente a ver esquerdalhada em tudo o que escrevo. A caça às bruxas já terminou! Eu nem sequer me interesso por política em termos ideológicos, não tendo, por isso, um partido. Interesso-me, sim, pelas acções que os partidos tomam ou não fôssemos nós governados por eles.
Começo a ter medo de escrever. Se algum dia, colocar no “blog” um texto com a palavra “Ah!”, parece que já estou a ver o seu comentário inflamado: “Eu já desconfiava, mas agora tenho a certeza, porque essa exclamação é típica de uma esquerda radical, sem visão, que quer esfrangalhar os país…”
Resumindo, não procure o Wally onde ele não está. Já percebi que sou o seu saco de boxe preferido, mas bata quando tiver razões para isso. Quando não as houver, não as invente!

Andanças do Poeta

Pelo céu cor de violeta,
que lindo,
que lindo vai o poeta.

Pôs uma camisa branca
e sapatos amarelos,
as calças agarradinhas
são da feira de Barcelos.

Pelo céu vai o poeta.
Sobe, sobe de bicicleta.

Eugénio de Andrade, Aquela Nuvem e Outras

E digo-lhe mais, aqui a “esquerdóide”concorda plenamente com as medidas que o PSD e/ou a direita têm para a educação portuguesa. Só não percebi a que diz respeito ao concurso de professores. Se se acabar o concurso, como se vai colocar o enorme número de professores? Qual é a alternativa? Por que razão o governo de coligação não as implementou?

Não quero, não

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Quero um cavalo só meu
seja baio ou alazão,
sentir o vento na cara,
sentir a rédea na mão.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Não quero muito do mundo:
quero saber-lhe a razão,
sentir-me dono de mim,
ao resto dizer não.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Eugénio de Andrade, Aquela Nuvem e Outras

P.S.: Antes que se tirem conclusões precipitadas e disparatadas, quero informar que a inclusão de poemas de Eugénio de Andrade no meio dos textos é arbitrária, não tem nenhuma ideologia escondida. É simplesmente a minha maneira de homenagear o poeta.

Maria Ortigão

quarta-feira, junho 15, 2005

Palavras para quê?*

Lá fui eu consultar o dicionário, muito gosto eu deste livrinho, embora prefira o antigo suporte de páginas amarelecidas- e não me falem em desactualização que isso resolve-se, e encontrei:
hagiografia
do Gr. hágios, santo + graph, r. de graphein, descrever
s. f.,
estudos de textos que relatam a vida dos santos;
descrição.
O Filipe escreveu:
«... os grandes homens nunca são tão maus quanto os pintam os adversários, nem tão bons quanto os pintam os aliados. No caso de Cunhal, é certo que haverá muito de condenável na sua vida.(...) »
António-é verdade Feliz Dia, atrasado- obrigada por ter aumentado o meu vocábulário, você tem mesmo um problema com a esquerda, um caso agudo de alergia, ou algo assim. Fora os outros por mim diagnósticados! Cunhal faz parte da história, e confesso uma admiração enorme-romântica ou não- por todos aqueles que viveram na clandestinidade.
«Mexia ... destacado jovem intelectual da Direita portuguesa» memos gostando de algumasa crónicas!
À cris e ao Filipe, a Bomba teve já uma rubrica de etimologia, daí a (leve) referência.
M.Q.
P.P.: p titulo foi escolhido antes de ler o seu texto.

terça-feira, junho 14, 2005

E EU SEM SABER DE NADA!

Ausentei-me por uns dias e, de repente, há uma revolução. Tão grande que eu até cancelei o que ia colocar no "blog" e vou refazer o que escrevi. Para já, faço algumas considerações.
O único comentário decente que eu vi em toda a carreira do "FarpasXXI" foi o do Filipe, tentando analisar a situação de um ponto de vista imparcial.
Se o senhor António se sente insultado, não faz ideia de como nos sentimos aos ler os seus textos. Se não gosta do nosso "blog", pode sempre deixar de o ler. Pessoalmente, não me importo com o número de visitantes, afinal, "FarpasXXI" só tem quatro meses de existência.
Nós escrevemos o que queremos e da maneira que queremos. Vai haver sempre gente que vai gostar e gente que não vai gostar.
Voltarei...

segunda-feira, junho 13, 2005

Efemérides

Nasce em Lisboa, no largo de São Carlos, a 13 de Junho de 1899 Fernando António Nogueira de Seabra Pessoa.
Biografia retirada do Livro do Desassossego, Visão.
Por isso fui à procura de algo... do Mestre. Eis, senão, quando me apercebo que, o que mais gosto é de: Bernardo Soares*, ajudante de guarda livros na cidade de Lisboa. Assim que fui à procura do ortónimo e gostei mais deste, livre de provocações:
António de Oliveira Salazar
António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, com os diabos!
Parece que já choveu…

Coitado
Ddo tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho…

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
D Tiraninho!
O meu vizinho
Etá na Guiné,
E meu padrinho
N Limoeiro
Aui ao pé,
Ms ninguém sabe por quê.

Mas,enfim, é
Ceto e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do Tiraninho
Não bebe vinho
Nem até
Café.
Fernando Pessoa, Poemas satíricos e de humor.
* Que é tudo Pessoa... que fiz bem em procurar... não interessa!
M.Q.

Haja paciência

Ouça lá, alguém que anda por aí, lí e relí o post e não vejo onde "se fala numa censura do CDS-PP à masturbação masculina". Há um título e a parte que o autor mais gostou, e que eu gostei também- pela ideia estapafurdia, não com alguma pretensão moral. Bolas! Não era essa a intenção- censurar a masturbação! Você deturpa mesmo aquilo que lê. Ou então sofre mesmo de analfabetismo funcional, sim, porque má vontade contra nós tem mesmo, ou contra a nossa esquerda!
Lí e relí para que esta minha irritação não fosse infundada; não me venha fazer queixas "magoado" pelo tom. Irra!
M.Q.
Post Post: Reacção emocional, conscientemente publicada.

A questão pertinente da semana...

A Cristina questionou:
Razões para não votar no Menezes novamente?
Ó meus amigos, aquela célebre frase de que precisa de ganhar bem, para comprar muita roupa, porque se têm muitos compromissos oficiais... Chega e sobra! A Câmara falida! A proliferação de rotundas. (A negociata com o FCP e o centro de estágio?)
Já sei que alguém -e não pretendia referirme ao António, mas como não há mais ninguém- vai já corrigir a frase deturpada pela memória, e quem sabe alguma animosidade.
À Favor:
Há as praias de que tanto gostamos e usufruimos, a requalificação/ criação do Cais de Gaia- que parece andar menos concorrido. As novas estradas- que para mim são um mamarracho de engeheria- mas se já vou gostando da casa da música... -tudo pode acontecer.
Mas ficamos a espera dos prós e contras.
M.Q.

Manifesto

Lá porque nos insurgimos contra uma guerra (neste caso o Iraque- 'tou tão farta disto!) baseada em mentiras fomos promovidas a porteiras de campo de concentração na Sibéria. Fomos sempre brindadas com "os piores" adjectivos. Sou acima de tudo sonhadora, utópica mesmo, ainda que a ideia da palavra e o conceito remetam para impossíveis.
-Que o sonho não constrói, é preciso medidas concretas!
- O que seria de nós sem o sonho?!
«... I wish i was a neutron bomb... for one i could go off (...) i wish i was a messenger and all the news was good...» Pearl Jam. Just Rock!
O texto de Antonio Barreto faz uma constatação de factos acerca da Educação; muito bem, conclusões aceites; até algumas sugestões como «Fim do concurso nacional de professores-falta a alternativa, o que falta mesmo é a garantia de honestidade para contratações-, Privatização considerável das escolas»- já referi a importância de maior autonomia e de integração da comunidade... a tal competição saudável é louvável... mas o que defendo sempre é a igualdade (de oportunidades até), liberdade... o que mais abomino é a ideia de que uns são de factos melhores que outros- por isso não sou monárquica- (em condições desiguais ainda por cima, sem os mesmos recursos- qualquer pessoa sabe que essa experiência está viciada à partida), abandonar a ideia de poder construir uma sociedade sem "senhores"... Texto repetitivo com fraco vocabulário? É porque a igualdade é mesmo importante!
Li, reli, a secção gramatical da Maria e não percebo a razão de tanto fel. É porque ela goza através dos seus comentários?! Está bem, isso é pouco católico, mas se há uma coisa que nós não somos, muito menos pretendemos ser, é católicas! Já disse à Cristina, não acho, de todo, que a Maria faça do dicionário um bicho-papão. ( Comentário pessoal, talvez despropositado: ) -> Aliás não há livro mais fácil de consultar que um dicionário, já interiorizar a gramática tem outras nuances. As correções são sempre necessárias, passamos a falar melhor, o que nunca pode ser mau. [ É preciso- eis o tom de empreendiento napoleónico- corrigir todos aqueles que ainda dizem "prontos" e "destrocar"]. Pode não se gostar de ser corrigido, mas isso fica entre os dois intervenientes: ou aceitam, proibem ou andam a porrada. Se alguém que anda por aí concorda que não podem ser ignoradas... têm que ser ensinadas. Pode replicar que não é uma secção gramatical educativa, pois de aqui vai a sugestão: Maria, amiga, escolhe uma regra gramatical- de aquelas que a maioria erra- e devasta-a. António: «As preocupações gramaticais da pobre Ortigão aproximam-se visivelmente da loucura.»!!! BUHHH! Mas como sou generosa, e citar Pessoa é sempre bom... eis: « ... a gramática é um instrumento, e não uma lei.» (in Livro do Desassossego, texto 84) É claro que a Maria já a conhece. Mas se querem tanto rigor, não há nada mais rigoroso que o "rigor mortis"* dos cadáveres!
Para mim a arte, manifestações artísiticas,etc., para mim!, não têm direcção; naturalmente que se estamos a combater alguma coisa, são os que se identificam connosco, os que nos tocam, que se aproximam do que sentimos que fica gravado. Não são «tiradas pseudo-revolucionárias com a lagrimazinha ao canto do olho», são versos! Isto é uma verdade: «Ser pobrezinho e honesto,É maior honestidade.» e depois?
M.Q.

* Expressão latina à confirmar.
O dia em que eu nasci, moura e pereça,
Não o queira jamis o tempo dar,
Não torne mais ao mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.


A Luz lhe falte, o Sol se lhe escureça,
Mostre o mundo sinais de acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.


As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida.
Cuidem que o mundo já se destruiu.


Ó gente temerosa, não te eespantes,
Que este dia deitou ao mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!

M.Q.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.


Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.


O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.


E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


M.Q.

Ainda a lírica camoniana (corrente renascentista)

Agora sim, os meus favoritos (3): [retirados dos apontamentos do 12º ano]



Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.


Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.


Mas esta linda e pura semideia,
Que, como um acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha senhora se conforma.


Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

M.Q.


Futurologia

Quanto apostam, que a RTP repõe a "última entrevista" de Álvaro Cunhal e tem uma grande audiência?
M.Q.

sexta-feira, junho 10, 2005

Verdes são os campos,
Da cor do limão;
Assim são os olhos
Do teu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendeis:
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís Vaz de Camões, Lírica I

Isto é muito bom

Desculpem lá mas não resisti mesmo!

« A masturbação masculina...
... e os espermatozóides desperdiçados ainda vão virar dia de luto nacional - na perspectiva dos popularuchos. Senão, reparem: «O CDS-PP propôs hoje a criação de um "dia mundial da criança por nascer."» Se estes tipos não existissem tinham de ser inventados... ou então criava-se o "Dia Nacional da Ausência do PP para animar as hostes em tempo de crise". Qual Malucos do Riso qual quê?! A malta precisa é desta animação.
Publicado por claudio.vieira.alves em 07:35 PM »

M.Q.

Dia de Camões

ESPARSA AO DESCONCERTO DO MUNDO


Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais mo espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pra mim
Anda o mundo concertado.
Luis Vaz de Camões.
Era este o poema que trazia comigo por outras razões quando me lembrei que não poderiamos deixar passar o dia em branco. Gosto muito deste. Que ninguém me venha dizer que é de esquerda, pelo amor "de Santa Maria Madalena", não é provocação, são apenas versos.
M.Q.

quinta-feira, junho 09, 2005

Boas Iniciativas

(Atrasada)

VIVA Serralves!

VIVA o Cinema Fora do Sitio!

VIVA, VIVA, VIVA!

M&M.

terça-feira, junho 07, 2005

Mea Culpa

imbernar teria passado despercebido se tivesse sido colocada entre-aspas ou em itálico; quem me conhece achou que poderia ter sido piada, mas não: enganei-me, feio. É o que acontece quando se é fluente numa língua e se fala outra!
De qualquer modo, peço ao Filipe, por exemplo, visto que a
bomba-inteligente é muita areia p'ra a minha camioneta, que procure, porque eu acho que essa palavra mesmo que em desuso -ou muitos outros des- deve existir na língua portuguesa- deveria existir. No meu dicionário- que é como quem escreve na minha Pátria, que o pobre tem sido tão vilipendiado- existem as duas formas: hibernar e invernar; Afinal, hiberna-se no inverno. Eu pequei por escrevê-la "à norte" mas reparem que coloquei bem um "M", esta regra gramatical deve ser das primeiras que aprendi, muito gosto eu dela.
M. Q.

sábado, junho 04, 2005

RESPONDÍVEL

1. Sobre as Conferências Democráticas do Casino


Quando decidimos criar um espaço virado para a literatura, o grande desafio foi encontrar um título adequado. Teria, pois, de girar em torno da nossa causa farpeana (olha, olha, quem diria, um neologismo!!!) e dos nossos mentores. Foi, então, que nos lembrámos de Conferências do Casino XXI, uma vez que se enquadrava perfeitamente com a temática que iríamos abordar. Porém, surgiu um problema: teria Ramalho Ortigão participado nas Conferências? Apesar de tudo indicar que sim, porque foi um homem próximo da Geração de 70 e porque partilhava as mesmas ideias dos conferencistas, não tínhamos a certeza.
Obviamente, era necessário investigar e foi o que fiz. Bastou uma rápida consulta à Diciopédia da Porto Editora para tirar as dúvidas. Tanto no artigo sobre as Conferências, como no artigo sobre Ramalho é referido que este escritor tomou parte integrante do movimento, que visava uma lufada de ar fresco nas letras portuguesas. Retiro a seguinte citação, como prova: “… logo com a sua actividade de jornalista se integrou na acção do grupo que promoveu e realizou as Conferências Democráticas do Casino.”
Não obstante o facto de não ter assinado a proclamação, em que se exprimia a finalidade das Conferências, de se ter batido em duelo com Antero de Quental por causa da Questão Coimbrã e de ser um pouco mais conservador do que os seus pares, não tenho dúvidas de que a sua pena encontrou-se com as grandes ideias daquele grupo.
Qual foi exactamente o seu contributo? Quais as suas acções? Quais os seus passos no seio daquele movimento? Não sei. É uma questão de investigar melhor, consultando bibliografia mais específica. Por isso, Filipe, daqui a algum tempo, dar-te-ei uma reposta mais apropriada. Se quiseres, também podes ajudar! Sabes que és muito bem-vindo!






2. Sobre os economistas em “A deficiência portuguesa”

De facto, depois de reler algumas vezes aquela farpa, reconheço que não ficou bem explícito que não me referia à população portuguesa de economistas, mas sim aos economistas que têm responsabilidades governativas e àqueles que, por estarem perto do governo, deviam aconselhar melhor os ministros, quando estes se preparam para uma qualquer intervenção no país. Por outras palavras, refiro-me aos senhores directores e presidentes e vice-presidentes e executivos e mais uma data de cargos que não se sabe exactamente para o que servem da Caixa Geral de Depósitos e do Banco de Portugal, que não fazem nada e ainda são bem pagos. Se algum dia, o Hélder do Praça da Alegria perguntar a uma criança o que ela quer ser, quando for grande, não se admirem se obtiver como resposta a seguinte frase: “Quero ser presidente reformado da Caixa Geral de Depósitos!” Como diria Garrett, “Um lugar magnífico! Verdadeiramente dos rendosos e pouco trabalhosos!”
Diz o nosso amigo, que anda por aí, que rigorosamente o défice ainda não atingiu os 6%, que, se nada mudar, esse número só será uma realidade em Dezembro. Se o diz com tanta certeza, quem sou eu para não acreditar. Mas o que ouvi o presidente do Banco de Portugal dizer não foi nada disso, por isso baseei os meus comentários nas suas declarações. Aliás, ao contrário do que possa pensar, só dou palpites na minha área de formação. Nas outras áreas, faço comentários e reflexões como cidadã preocupada com o rumo ziguezagueante do país.


3. Sobre merda e neologismos

Lá vou eu contar, outra vez, a história da merda… Há muito, muito tempo, quando os Romanos governavam a Terra, usavam, para se entenderem uma língua (nada morta, porque o português, o castelhano, o italiano, o francês e o romeno não são mais do que a sua natural evolução), chamada Latim. Ora, qual era a palavra mais comum para designar excremento e estrume? Merda! É verdade, apesar da sua evolução semântica ter um carácter pejorativo, trata-se de uma palavra bastante erudita! Por isso, recebamos todos a merda de braços abertos!
Confesso que, às vezes, fico um pouco triste com as conclusões que se tiram sobre o que escrevo. Devem-me imaginar de cabelos brancos, com um olhar carrancudo e uma régua na mão, pronta a zurzir em quem foge ao Classicismo! A imagem não podia ser mais errada. Gosto dos meus amigos já mortos e bolorentos, porque são rigorosos e conhecem a língua como ninguém. “Haja rigor” alguém, que anda por aí, disse e eu concordo plenamente. Mas também não sou uma conservadora caduca e gosto de inovação, de preferência, quando é bem feita. Assim, gosto muito mais daqueles livros poeirentos do que algumas modernices, que se arvoram em grandes pioneiras de uma nova literatura. Podem crer que vou a correr para os primeiros, mesmo sendo alérgica ao pó! Posso mesmo afirmar que, nestas coisas, não há coincidências!
E adoro neologismos. Um dos melhores neologistas da actualidade é Mia Couto, um escritor moderno, sem pó e sem bolor, divertido, interessante e, sobretudo, inteligente naquilo que faz.

4. Sobre os poemas que recebemos
A todos os que nos lêem, aqui fica o convite: podem enviar os poemas, as frases, as prosas que quiserem. Não os vamos colocar no “Conferências do Casino XXI”, porque é um espaço só nosso, mas estarão sempre disponíveis nos vossos comentários.
Devo dizer que foi bonito ver que, após a “publicação” de um pequeno poema, recebemos logo outros. Na realidade, ninguém fica indiferente a uns versos, não é?

5. Sobre alguém, que anda por aí
Ó senhor Santana Lopes, mui muito nos apraz a sua visita! Quando disse que ia andar por aí, nunca imaginámos que o aí fosse aqui, no nosso humilde “blog”.
Então, e como vão as coisas? Bem, esperamos! Afinal, o túnel do Marquês vai ou não vai? Os seus pequenos estão bem? Soubemos que foi operado recentemente… está a recuperar bem, não está? Olhe, o que se quer é muita paz e saudinha! Sem isso, não se faz nada!
Vá lá, seja bem-vindo (outra vez!).


Maria Ortigão


NOVO PROGRAMA ESCOLAR – UMA PROPOSTA PARA O FUTURO DE BELMIRO DE AZEVEDO



Numa conferência recente, Belmiro de Azevedo afirmou que os professores portugueses deseducavam e que os jovens não eram preparados para a vida profissional. De uma maneira geral, concordo com estas afirmações. Não sei muito bem onde o empresário queria chegar com aquilo dos professores portugueses deseducarem (hoje em dia, os professores tentam desesperadamente educar!), mas, de facto, os currículos escolares estão desajustados.
Depois de muita insistência, “Farpas XXI” conseguiu aceder ao currículo alternativo, elaborado pela Sonae. Aqui ficam algumas propostas:

- Português:
a) erradicação total do estudo de poemas, essas mariquices que não servem para nada;
b) livro de leitura obrigatória: O Príncipe, de Maquiavel; é importante, desde tenra idade, inculcar, no espírito dos alunos, a máxima: não olhar a meios para atingir os fins;
c) novos dicionários, compostos pelas seguintes palavras: dinheiro, lucro, mais-valia, capital, percentagem, acções; palavras banidas: humanismo, altruísmo, solidariedade, ética, moral.

- Trabalhos Manuais:
a) técnica de repor “stocks” nas prateleiras das grandes
superfícies;
b) técnica de recolha de cestos para compras;
c) formação de operador de telemóveis.

- Latim: consistirá apenas de uma aula de dez minutos, em que os alunos aprenderão, de uma vez por todas, a pronunciar correctamente “optimus”, ou seja, o [p] deve ser pronunciado, porque se trata de uma palavra latina.


- Matemática:
a) resolução intensiva de equações, cujo resultado seja sempre positivo;
b) conteúdo especial: Como enganar o estado, através da declaração de rendimentos?

- Geografia:
a) alunos ricos: realização de trabalhos, ao longo do ano, sobre paraísos fiscais e ilhas igualmente paradisíacas (por exemplo, Bora Bora e Seychelles), onde passarão as férias com o dinheiro ganho à custa dos mais pobres;
b) alunos pobres: realização de trabalhos, ao longo do ano, sobre os países asiáticos e outros subdesenvolvidos, onde se trabalha como escravo, se recebe muito pouco e não há lugar para queixas.

- Educação Física:
a) exercícios localizados nos membros superiores para facilitar a passagem das compras nas máquinas registadoras;
b) aulas de colocação de voz para se atingir aquele timbre especial das meninas, que pedem a alguém que se dirija à informação.

- Filosofia: rapidamente retirada do currículo, porque não gera dinheiro.

Maria Ortigão


CONFERÊNCIAS DO CASINO XXI

Algumas quadras de António Aleixo

‘stá na mão de toda a gente
A felicidade, vê lá!...
E o homem só ‘stá contente
No lugar onde não está.

És rico e sério? Protesto!
Nisso tens facilidade.
Ser pobrezinho e honesto,
É maior honestidade.

É tão engraçada a vida…
Sem que a gente a veja assim,
Volta ao ponto da partida,
Quando está perto do fim.

Se o mundo inteirinho risse,
Não existia amargura;
E o que seria a fartura
Se a fome não existisse?

António Aleixo, Este Livro que Vos Deixo...