sábado, junho 04, 2005

CONFERÊNCIAS DO CASINO XXI

Algumas quadras de António Aleixo

‘stá na mão de toda a gente
A felicidade, vê lá!...
E o homem só ‘stá contente
No lugar onde não está.

És rico e sério? Protesto!
Nisso tens facilidade.
Ser pobrezinho e honesto,
É maior honestidade.

É tão engraçada a vida…
Sem que a gente a veja assim,
Volta ao ponto da partida,
Quando está perto do fim.

Se o mundo inteirinho risse,
Não existia amargura;
E o que seria a fartura
Se a fome não existisse?

António Aleixo, Este Livro que Vos Deixo...

2 comentários:

Anónimo disse...

Porque a poesia não são só tiradas pseudo-revolucionárias com a lagrimazinha ao canto do olho:

"Beijos (monólogo)

Beijar - linda palavra!... Um verbo regular
que é muito irregular
nos tempos e nos modos...

conheço tento beijo e tão dif'rentes todos!...
um beijo pode ser amor ou amizade
ou mera cortesia,
e muita vez até, diz~e-lo é crueldade,
é só hipocrisia.

(...)
entre as damas o beijo é praxe estabelecida,
Cumprimento banal - ridículos da vida! -:
- Como passou, está bem? (Um beijo) O seu marido?
(Mais beijos) - De saúde. E o seu, Dona Mafalda?
- Agora menos mal. Faz um calor que escalda,
não acha? - Ai, Jesus, que tempo aborrecido!...

Beijos dados assim, já o poeta o disse,
beijos perdidos são.
(Perder beijos! que tolice!
Por que é que a mim os não dão?)

(...)
Mas o beijo d'amor?
Sossegue o espectador,
não fica no tinteiro;
guardei-o para o fim por ser o «verdadeiro»
(...)"
Mário de Sá-Carneiro, "Beijos", «Obra Poética», Europa- América

P.S a quem quer que leia isto: Postem para aí mais poesia, poesia variada. Minha Nossa Senhora, a Esquerda serve-se de tudo para pregar! A simples diversão também faz parte da vida, e a grande poesia não é comprometida com ideais de nenhuma espécie!

Anónimo disse...

«Quando os teus olhos absorvem
todas as cores da minha
mais íntima tristeza,
e compreendes e calas e prometes
um lugar qualquer na tua alma,
e a tua voz demora a regressar
ao neutro compromisso das plavras,
sei que as tuas mãos ajudariam
a limpar estas lágrimas antigas
por dentro do meu rosto»

Victor Matos e Sá