ESPARSA AO DESCONCERTO DO MUNDO
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais mo espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pra mim
Anda o mundo concertado.
Luis Vaz de Camões.
Era este o poema que trazia comigo por outras razões quando me lembrei que não poderiamos deixar passar o dia em branco. Gosto muito deste. Que ninguém me venha dizer que é de esquerda, pelo amor "de Santa Maria Madalena", não é provocação, são apenas versos.
M.Q.
1 comentário:
Em homenagem ao maior dos Poetas portugueses, a primeira estrofe de uma das suas composições que me é mais querida:
«CANÇÃO X.
Vinde cá, meu tão certo secretário
Dos queixumes que sempre ando fazendo,
Papel, com quem a pena desafogo!
As sem-razões digamos que, vivendo,
Me faz o inexorável e contrário
Destino, surdo a lágrimas e a rogo.
Deitemos água pouca em muito fogo;
Acenda-se com gritos um tormento,
Que a todas as memórias seja estranho.
Digamos mal tamanho
A Deus, ao Mundo, à gente e, enfim, ao vento
A quem já muitas vezes o contei,
Tanto debalde como o conto agora;
Mas, já que pera errores fui nacido,
Vir este a ser um deles não duvido.
Que pois já de acertar estou tão fora,
Não me culpem também se nisto errei.
Sequer este refúgio só terei:
Falar e errar, sem culpa, livremente.
Triste quem de tão pouco está contente!»
Luis de Camões, Obras Completas (Edição Hernâni Cidade), Sá da Costa
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