quinta-feira, junho 16, 2005

RAIS PAT’À MINHA SORTE!

Nota de abertura: Esta farpa foi escrita antes da polémica estalar.

1. Ainda sobre as Conferências Democráticas do Casino
Agora estou com um grave problema. Como eu e o Filipe nos encontrámos ontem e já conversámos, não me apetece estar aqui a repetir tudo o que lhe disse, pois já não há elemento surpresa. Porém, a polémica ainda não terminou por aqui.

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, Coração do Dia

Deixo, apenas, alguns dos pontos, que, para mim, são mais importantes:
a) É obvio que não consultei só uma Enciclopédia;
b) A Diciopédia foi o único “livro” que me deu uma resposta clara. Perante a afirmativa que recolhi, penso que a atitude mais correcta não seja a de bater com o pé no chão, dizendo que não, que está errada, mas a de tentar procurar e perceber por que razão há alguém que, pelos vistos, fez um comentário diferente. É por isso mesmo que, neste momento, estou a tomar algumas providências (que frase tão ministerial!!!);
c) Gloriosa Faculdade de Letras do Porto? Está bem, tem algumas coisas boas, nomeadamente a biblioteca. Mas confesso que aprendi muito mais num ano fora dela do que em quatro lá dentro. Não, é mentira! Aprendi que dar duas horas de aulas sentado, com um olhar distante e sempre com um tom de voz de fastio; ou ler, durante as mesmas duas horas, uma resma de folhas amarelas (também há a variante em “post-it”!); ou assassinar textos é altamente anti-pedagógico e é preciso gostar muito daquilo para aguentar certas aulas. Felizmente, houve excepções; infelizmente, não foram muitas.

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade, Poemas



2. Ainda sobre alguém, que anda por aí
Ó homem, pare, de uma vez por todas, de subverter o que escrevo! A minha farpa sobre Belmiro de Azevedo, não tinha nada que ver com política, nem com esquerda nem com direita. Era, apenas e só, um texto satírico, com o objectivo de fazer rir.
O senhor está constantemente a ver esquerdalhada em tudo o que escrevo. A caça às bruxas já terminou! Eu nem sequer me interesso por política em termos ideológicos, não tendo, por isso, um partido. Interesso-me, sim, pelas acções que os partidos tomam ou não fôssemos nós governados por eles.
Começo a ter medo de escrever. Se algum dia, colocar no “blog” um texto com a palavra “Ah!”, parece que já estou a ver o seu comentário inflamado: “Eu já desconfiava, mas agora tenho a certeza, porque essa exclamação é típica de uma esquerda radical, sem visão, que quer esfrangalhar os país…”
Resumindo, não procure o Wally onde ele não está. Já percebi que sou o seu saco de boxe preferido, mas bata quando tiver razões para isso. Quando não as houver, não as invente!

Andanças do Poeta

Pelo céu cor de violeta,
que lindo,
que lindo vai o poeta.

Pôs uma camisa branca
e sapatos amarelos,
as calças agarradinhas
são da feira de Barcelos.

Pelo céu vai o poeta.
Sobe, sobe de bicicleta.

Eugénio de Andrade, Aquela Nuvem e Outras

E digo-lhe mais, aqui a “esquerdóide”concorda plenamente com as medidas que o PSD e/ou a direita têm para a educação portuguesa. Só não percebi a que diz respeito ao concurso de professores. Se se acabar o concurso, como se vai colocar o enorme número de professores? Qual é a alternativa? Por que razão o governo de coligação não as implementou?

Não quero, não

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Quero um cavalo só meu
seja baio ou alazão,
sentir o vento na cara,
sentir a rédea na mão.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Não quero muito do mundo:
quero saber-lhe a razão,
sentir-me dono de mim,
ao resto dizer não.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Eugénio de Andrade, Aquela Nuvem e Outras

P.S.: Antes que se tirem conclusões precipitadas e disparatadas, quero informar que a inclusão de poemas de Eugénio de Andrade no meio dos textos é arbitrária, não tem nenhuma ideologia escondida. É simplesmente a minha maneira de homenagear o poeta.

Maria Ortigão

5 comentários:

Anónimo disse...

No que me tocsa, só tenho uma palavra: O-r-g-h-l-h-o.

Anónimo disse...

Repito: o-r-g-u-l-h-o.

Anónimo disse...

O anónimo sou eu. Esqueci-me do nome...

Anónimo disse...

Eu já disse à Maria que gosto de fazer de advogado do diabo, sobretudo quando me deparo com injustiças. Ponhamo-nos no lugar dos professores: alunos que não vão além da "Bola" ou da Sophia de Mello Breyner; alunos que faltam ou chegam tarde; alunos que não lêem os textos que se lhes pede; alunos que usam os professores como álibis. Perante isto, que motivação? "Gloriaosa"? Sim. Repito: Gloriosa.

Anónimo disse...

A propósito de polémicas em blogues, leiam este último "post" da Coluna Infame, blogue que acabou na sequência de uma polémica com os "débeis mentais" do Bloco:

«Preferíamos, como compreenderão, não ter que escrever este post, mas ele torna-se por várias razões inevitável.

Os blogs são um fenómeno fascinante, com inúmeros pontos de interesse, e com grandes virtualidades. Trazem também consigo, como tudo, alguns perigos. Um dos maiores perigos é a imediata concretização em texto de uma ideia, de uma frase, de uma emoção. Isso é em si mesmo gerador de perplexidades e disparates, mas ainda se agrava quando se trata de responder a polémicas, quase em tempo real, quase como se tratasse de uma discussão de viva voz. É normal que os bloguistas mais opinativos e turbulentos, como é manifestamente o nosso caso, escrevam por vezes textos ou frases de que se arrependeram posteriormente, mas como se sabe a etiqueta própria dos blogs é contrária (e com razão) ao apagar de posts. Assim como todos nós, particularmente em discussões, temos frases infelizes, o mesmo se passa aqui.


Os três responsáveis por esta Coluna têm as mesmas ideias políticas, mas nem sempre estão de acordo em tudo. Somos três pessoas, aliás de personalidades bem diferentes, e alguns são os pontos de divergência entre nós. Mas a regra tem sido a de sermos solidários mesmo com os posts com os quais não concordamos (e houve uns tantos). Mas desta vez a decência exige que nos distanciemos do post que o João Pereira Coutinho aqui escreveu hoje sobre o Daniel Oliveira.


Somos amigos do João, mas também conhecemos e estimamos o Daniel, e consideramos que a «provocação» do Daniel a que o João respondeu era isso mesmo, uma provocação, igual às várias que todos os dias lemos noutros blogs. Aliás, raro é o dia em que não nos chamam fascistas, em posts, comentários ou mails. Sabendo que isso para grande parte da esquerda inclui toda a direita, não ligamos muito, ou raramente. E o post do Daniel no Blog de Esquerda era até algo inócuo nessa matéria, sendo por isso desproporcional a resposta do João. Um blog de polémicas, como este em parte é, convida ao sangue-frio, à capacidade de encaixe, à ironia e à auto-ironia. Quebrámos duas ou três vezes essa regra, e em todos os casos a nossa violência verbal não foi causada pela discussão de ideias mas por comportamentos das pessoas visadas, fora dos blogs. O nosso registo mais comum, como sabe quem nos tem visitado desde Outubro de 2002, é a ironia e o humor, sem põr de lado a vivacidade argumentativa.


O ideal seria apagar o posts do João, mas isso, como dissemos, não se deve fazer, quer porque vários pessoas já o leram quer porque é desonestidade intelectual. Tentámos falar com o João, e ainda não conseguimos. Mas queremos, desde já, lamentar o sucedido, e pedir ao Daniel Oliveira desculpa pela nossa parte. O facto de termos laços mais fortes de amizade com o João do que com o Daniel (que conhecemos há menos tempo e de quem discordamos em quase tudo), não impede o nosso entendimento de que o post do Daniel não tinha mal nenhum e o post do João cometeu excessos de linguagem e outros.


Pela nossa parte, continuaremos a polemizar ideias e concepções do mundo, mas não entraremos na perigosa espiral de agressão e linguagem que nós próprios já experimentámos.


Para citar uma frase que está muito em voga, apelamos à serenidade de todos, mesmo dos nossos amigos mais próximos.


Pedro Lomba


Pedro Mexia