sábado, junho 04, 2005

RESPONDÍVEL

1. Sobre as Conferências Democráticas do Casino


Quando decidimos criar um espaço virado para a literatura, o grande desafio foi encontrar um título adequado. Teria, pois, de girar em torno da nossa causa farpeana (olha, olha, quem diria, um neologismo!!!) e dos nossos mentores. Foi, então, que nos lembrámos de Conferências do Casino XXI, uma vez que se enquadrava perfeitamente com a temática que iríamos abordar. Porém, surgiu um problema: teria Ramalho Ortigão participado nas Conferências? Apesar de tudo indicar que sim, porque foi um homem próximo da Geração de 70 e porque partilhava as mesmas ideias dos conferencistas, não tínhamos a certeza.
Obviamente, era necessário investigar e foi o que fiz. Bastou uma rápida consulta à Diciopédia da Porto Editora para tirar as dúvidas. Tanto no artigo sobre as Conferências, como no artigo sobre Ramalho é referido que este escritor tomou parte integrante do movimento, que visava uma lufada de ar fresco nas letras portuguesas. Retiro a seguinte citação, como prova: “… logo com a sua actividade de jornalista se integrou na acção do grupo que promoveu e realizou as Conferências Democráticas do Casino.”
Não obstante o facto de não ter assinado a proclamação, em que se exprimia a finalidade das Conferências, de se ter batido em duelo com Antero de Quental por causa da Questão Coimbrã e de ser um pouco mais conservador do que os seus pares, não tenho dúvidas de que a sua pena encontrou-se com as grandes ideias daquele grupo.
Qual foi exactamente o seu contributo? Quais as suas acções? Quais os seus passos no seio daquele movimento? Não sei. É uma questão de investigar melhor, consultando bibliografia mais específica. Por isso, Filipe, daqui a algum tempo, dar-te-ei uma reposta mais apropriada. Se quiseres, também podes ajudar! Sabes que és muito bem-vindo!






2. Sobre os economistas em “A deficiência portuguesa”

De facto, depois de reler algumas vezes aquela farpa, reconheço que não ficou bem explícito que não me referia à população portuguesa de economistas, mas sim aos economistas que têm responsabilidades governativas e àqueles que, por estarem perto do governo, deviam aconselhar melhor os ministros, quando estes se preparam para uma qualquer intervenção no país. Por outras palavras, refiro-me aos senhores directores e presidentes e vice-presidentes e executivos e mais uma data de cargos que não se sabe exactamente para o que servem da Caixa Geral de Depósitos e do Banco de Portugal, que não fazem nada e ainda são bem pagos. Se algum dia, o Hélder do Praça da Alegria perguntar a uma criança o que ela quer ser, quando for grande, não se admirem se obtiver como resposta a seguinte frase: “Quero ser presidente reformado da Caixa Geral de Depósitos!” Como diria Garrett, “Um lugar magnífico! Verdadeiramente dos rendosos e pouco trabalhosos!”
Diz o nosso amigo, que anda por aí, que rigorosamente o défice ainda não atingiu os 6%, que, se nada mudar, esse número só será uma realidade em Dezembro. Se o diz com tanta certeza, quem sou eu para não acreditar. Mas o que ouvi o presidente do Banco de Portugal dizer não foi nada disso, por isso baseei os meus comentários nas suas declarações. Aliás, ao contrário do que possa pensar, só dou palpites na minha área de formação. Nas outras áreas, faço comentários e reflexões como cidadã preocupada com o rumo ziguezagueante do país.


3. Sobre merda e neologismos

Lá vou eu contar, outra vez, a história da merda… Há muito, muito tempo, quando os Romanos governavam a Terra, usavam, para se entenderem uma língua (nada morta, porque o português, o castelhano, o italiano, o francês e o romeno não são mais do que a sua natural evolução), chamada Latim. Ora, qual era a palavra mais comum para designar excremento e estrume? Merda! É verdade, apesar da sua evolução semântica ter um carácter pejorativo, trata-se de uma palavra bastante erudita! Por isso, recebamos todos a merda de braços abertos!
Confesso que, às vezes, fico um pouco triste com as conclusões que se tiram sobre o que escrevo. Devem-me imaginar de cabelos brancos, com um olhar carrancudo e uma régua na mão, pronta a zurzir em quem foge ao Classicismo! A imagem não podia ser mais errada. Gosto dos meus amigos já mortos e bolorentos, porque são rigorosos e conhecem a língua como ninguém. “Haja rigor” alguém, que anda por aí, disse e eu concordo plenamente. Mas também não sou uma conservadora caduca e gosto de inovação, de preferência, quando é bem feita. Assim, gosto muito mais daqueles livros poeirentos do que algumas modernices, que se arvoram em grandes pioneiras de uma nova literatura. Podem crer que vou a correr para os primeiros, mesmo sendo alérgica ao pó! Posso mesmo afirmar que, nestas coisas, não há coincidências!
E adoro neologismos. Um dos melhores neologistas da actualidade é Mia Couto, um escritor moderno, sem pó e sem bolor, divertido, interessante e, sobretudo, inteligente naquilo que faz.

4. Sobre os poemas que recebemos
A todos os que nos lêem, aqui fica o convite: podem enviar os poemas, as frases, as prosas que quiserem. Não os vamos colocar no “Conferências do Casino XXI”, porque é um espaço só nosso, mas estarão sempre disponíveis nos vossos comentários.
Devo dizer que foi bonito ver que, após a “publicação” de um pequeno poema, recebemos logo outros. Na realidade, ninguém fica indiferente a uns versos, não é?

5. Sobre alguém, que anda por aí
Ó senhor Santana Lopes, mui muito nos apraz a sua visita! Quando disse que ia andar por aí, nunca imaginámos que o aí fosse aqui, no nosso humilde “blog”.
Então, e como vão as coisas? Bem, esperamos! Afinal, o túnel do Marquês vai ou não vai? Os seus pequenos estão bem? Soubemos que foi operado recentemente… está a recuperar bem, não está? Olhe, o que se quer é muita paz e saudinha! Sem isso, não se faz nada!
Vá lá, seja bem-vindo (outra vez!).


Maria Ortigão


6 comentários:

Anónimo disse...

Maria, não posso crer em duas coisas:
1) Que tenhas consultado a diciopédia, e, pelos vistos, pouco mais;
2) Que confundas as confer~encias do casino, acontecimento pontual, com algo muito mais vasto que foi a acção de uma geração.

Provas:

Título das confer~encias do Casino:
1- O espírito das confer~encias do casino (ANTERO DE QUENTAL)
2- Causas da ddecadência dos Povos peninsulares (ANTERO DE QUENTAL)
3- A Literatura Portuguesa (AUGUSTO SOROMENHO)
4- A Literatura Nova(EÇA DE QUEIRÓS)
5- O Ensino (ADOLFO COELHO)

Anunciadas:

6- Os Historiadores Críticos de Jesus (SALOMÃO SÁRAGGA)
7- O Socialismo (BATALHA REIS)
8- A República (ANTERO DE QUENTAL)
9- A Instrução primária (ADOLFO COELHO)
10- Dedução Positiva da Ideia Democrática (Augusto Fuschini)

Ou seja, como até um analgfabeto pode ver: NADA DE RAMALHO.

Fontes: "Do Tíbur ao Cenáculo", recolha de Textos, Porto, Porto Editora, 1981 e a sempre essencial História das conferências do Casino, de António Salgado Júnior.

Este comentário indignou-me e magoou-me por duas coisas:
a) Porque revela uma falta de rigor pouco comum em ti e numa licenciada na gloriosa FLUP

b)Porque tem um tom pessoal que julgo que não merecia.
Dixit.

Anónimo disse...

Se não querem perder leitores, ou se os querem ganhar, dois conselhos: mais rigor e menos azedume.

Filipe Alves Moreira

Anónimo disse...

Julgavam que a Direita ia deixar a Esquerda a pregar no deserto? Não, minhas amigas, a Esquerda não pode pregar no deserto. É bom que tenha quem a ouça. Quem lhe responda. Quem lhe faça ver, como há anos num célebre debate pela presid~encia francesa, que ela (Esquerda) não tem o monopólio do coração. A paisagem de "farpas xxi" desolava-me: tanta Esquerda e tão poucos comentários! Então, já que ando por aí, continuo a andar por aí...

Anónimo disse...

P.S ao senhor Filipe Moreira: força. Não se deixe intimidar pela superioridade moral que, muito humildemente, "farpas xxi" patentea. Mas não se irrite. Não vale a pena. Faça como eu: ande por aí.

Anónimo disse...

Grande Filipe!...

Anónimo disse...

Sobre As Farpas (as genuínas) e Ramalho:

"Ramalho começou com Eça As Farpas, que se destinavam a castigar este mundo aberrante. Depois, Eça partiu para Cuba e Ramalho mudou de plano. À sua consciência de mestre-escola não chegava rir das extravagâncias e misérias do país. Com Eça, As Farpas não haviam sido didácticas. Quando as continuou sozinho, Ramalho decidiu instruir os seus compatriotas, a fim, evidentemente, de os salvar.
Encontrou, ao princípio, uma pequena dificuldade. Para ensinar precisava antes de saber e ele não sabia nada ou quase nada. (...)
Ramalho foi o primeiro a conseguir burlar a saloiice indígena desta maneira fácil. Não percebera frequentemente o que tinha lido; só raras vezes era capaz de medir o alcance do que escrevia; tomava de página para página posições teóricas incongruentes ou contraditórias; aceitava, como a própria evidência, coisas absurdas; e, segredo da arte, vendia
lancinantes banalidades, à custa de citações e pompa verbal. Com ele aprendi, cedo e em definitivo, a não levar a sério uma das grandes pragas do meu século: os mentores, divulgadores e animadores culturais, espécie que se reproduz hoje com incrível rapidez e aterroriza o público inocente com as mesmas técnicas e a mesma íntima desvergonha.(...)
As Farpas, com a sua prosa rufante e as suas prosápias, demonstram, em última análise, a necessidade prosaica de uma educação formal. Por elas, descobri pouco a pouco a diferença entre falar fluentemente sobre um assunto e falar informadamente sobre um assunto. O azar do autodidacta é o de que ele, como jamais estudou nada do princípio ao fim, com alguma ordem e alguma minúcia, não sabe em que consiste isso de saber. Imagina que sabe, porque se adquiriu duas frases e duas opiniões, em dois autores notórios, cujos méritos, aliás, não pode sequer avaliar.
Infelizmente, as frases, as opiniões e os autores,-longe de lhe revelarem o que quer que seja sobre a realidade contribuem normalmente para impedir que ele a veja. Transformam-se até na sua única realidade, um emaranhado de palavras sem referência exacta ou sentido reconhecível. Muita gente se enganou sobre o Portugal dos anos 1870 e 1880. Mas ninguém como Ramalho fez dele um diagnóstico tão irrelevante e sugeriu reformas tão frívolas.
É certo que, apesar de camadas e camadas de erudição espúria, permaneceu a vida inteira conservador e autoritário, e que esse fio acaba por impor às Farpas um módico de coerência. A coerência que o homem «moderno., que ele desejava ser, precisamente rejeitava. A sua «cultura« traiu-o, assim, no essencial. Exibiu a sua ignorância e negou as suas pretensões. É o destino da improvisação."

Vasco Pulido Valente