Ainda na sequência do circo exageradamente montado à volta do Mundial de futebol e da nossa selecção, queixava-me a um grupo de amigos da demasiada importância que se dava ao futebol. Parecia que a salvação da pátria estava nos pés dos jogadores e deles dependia o nosso futuro. Tinha ouvido (nem imagens conseguira ver) que Francis Obikwelo vencera uma prova de um campeonato de atletismo (já nem sei onde) com uma excelente marca. Ou seja, tratava-se de uma óptima notícia para o país que não foi devidamente aprofundada, porque estava tudo mais ocupado a tentar saber se já não havia borbulhas na cara de Cristiano Ronaldo.
Na sequência, alguém disse:
— O Obikwelo não é propriamente português!
Claro, tem toda a razão! Se, ao menos, Obikwelo tivesse nascido numa aldeia remota da Beira Interior como o português Deco… De facto, não há quem tenha percurso de vida mais lusitano do que aquele jogador.
Quando nasceu, a madrinha deu-lhe o nome da organização que defende os direitos do consumidor português. Depois, aos seis anos de idade, o pequeno Deco já levava um rebanho de ovelhas a pastar na serra. Carregava um cestinho, no qual acomodava o almoço: pão saloio com um bocado de morcela no meio, regado com um bom tintol!
Foi, mais ou menos, por esta altura que uma equipa de reportagem da TVI o descobriu e deu a conhecer ao país o quanto aquele miúdo gostaria de deixar a vida de pastor para jogar futebol num dos três grandes.
Apesar de Obiwelo e Deco não terem nascido em Portugal, são duas pessoas que optaram por envergar a camisola das quinas e as vitórias dos dois deviam ser comemoradas de maneira igual.
Maria Ortigão