terça-feira, junho 27, 2006

MUNDIAL



1. A time to make friends? Are you sure?

O lema do Mundial 2006 ficou um pouco desajustado durante o jogo violento que opôs Portugal à Holanda. Assim, aqueles 90 minutos foram:
- a time to make hematomas;
- a time to make colecção de cartões amarelos e vermelhos;
- a time to make Cristiano Ronaldo chorar;
- enfim, a time to make má figura.
O problema é que estas atitudes poderão ter consequências trágicas.
Por um lado, com tantos jogadores castigados e/ou em vias de o ser, provavelmente, Scolari terá mesmo de convocar Quaresma. Porém, o seleccionador não deve ceder na sua teimosia, daí que Carlos Alberto Carriço, médio atacante do União de Xabregas de Baixo, esteja já se sobreaviso.
Por outro lado, pôr o menino bonito da equipa portuguesa a chorar foi uma atitude muito arriscada por parte do holandês que cometeu a falta. É bom que ele tenha um esconderijo, pois uma revolta feminina liderada por Merche Romero, está a ser preparada. São milhares de mulheres histéricas, com sede de vingança, tendo à cabeça uma apresentadora com Portugal no coração e habituada à peixeirada. Senhor, jogador holandês, fuja como se o diabo o perseguisse!

2. Calções
Mas vamos falar de coisas mais interessantes e mais importantes: os calções dos jogadores. Isto do “hip hop” estar a influenciar a moda é muito mau. Todas as selecções vestem os jogadores com calções bastante compridos e largos, o que não permite ver as boas… trocas de bola!
Antigamente é que era! Os calções eram curtos, justos e até tinham umas rachinhas laterais, o que permitia ver as boas… técnicas dos jogadores! Há que fazer alguma coisa a bem das boas… jogadas!

Maria Ortigão

OUTRO PRESO POLÍTICO


1. Rambo português

Há umas semanas atrás, um dos líderes de um movimento fascista, xenófobo e racista (eles preferem nacionalista!) foi detido na sequência de uma reportagem televisiva. Através das câmaras da RTP, entrámos em casa do senhor, onde pudemos ver uma vasta colecção de livros alusivos ao nazismo, observar atentamente as suas tatuagens com cruzes suásticas e admirar as suas armas. Tratava-se, portanto, de um homem ecléctico: era apreciador da leitura, de História, de Arte (nomeadamente pintura corporal) e sabia manejar graciosamente carabinas e bestas (pensava que já não usavam disto desde a Batalha de Aljubarrota!).
Não era apenas um homem culto, mas também tinha um enorme coração, pois, segundo palavras do próprio, ele e os seus amigos estavam dispostos a vir para as ruas com o arsenal deles e proteger Portugal (sabe-se lá do quê). Oh, que bom! Senti-me muito mais segura e até já estava a reprimir uma lagrimazita de emoção perante tão grande demonstração de altruísmo!

2. A queda do Rambo
Mas o pior aconteceu. Tanta bondade foi reprimida pela polícia. O senhor foi detido, porque não teria licença de porte para algumas armas e porque não conseguiu fugir a tempo para o Brasil. No entanto, ainda ouvimos umas poucas palavras do nosso candidato a Rambo. Disse ele que pensava que vivia numa democracia (afinal, ele gosta de democracia?), só que este regime era opressor e limitava a liberdade. Nem vale a pena analisar este discurso, pois, sendo ele um admirador de Hitler, em matéria de opressão e de falta de liberdade, é um especialista.

Maria Ortigão

O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS

Orgulhoso com a sua atitude, um miúdo diz-me:
— Ando a ler o “Diário de Anne Frankenstein”!


Maria Ortigão

O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS

Doíam-me os ouvidos, por isso, uma criança aconselhou-me:
— Tem de ir ao… – passado algum tempo – médico dos ouvidos!

Maria Ortigão

O MELHOR DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS


Eu estava cansada. Reparando em mim, uma miúda recomendou-me praia. Retorqui, dizendo que só se fosse no Havai, mas que tinha alguns problemas com aviões, pelo que outro miúdo sugeriu:
— Então, vá de carro!

Maria Ortigão

quinta-feira, junho 15, 2006

A PRAGA DO FUTEBOL




1. Pandemia da bola

Eu até gostava de futebol, mas confesso que, mesmo antes da competição começar, já estava enjoada de bola. É publicidade, é programação especial de horas e horas com o Toy a jurar que é português (nós acreditamos, por isso, NÃO CANTE MAIS!), são roupas com as cores nacionais, são bandeiras por tudo quanto é lado… enfim, dá vontade de começar a detestar o futebol.
Portugal parece um país terceiro mundista que, no meio de tanta pobreza intelectual e monetária, só encontra motivos para sorrir através do futebol. É triste, porque também temos outros e bem melhores motivos para nos sentirmos satisfeitos. Assim, de repente, não me lembro de nenhum… mas deve haver um!
Já que os portugueses querem apoiar fanaticamente a selecção, pelo menos podiam colocar as bandeiras de forma correcta nas janelas. Aqui vão umas indicações:
- não convém o vermelho estar do lado esquerdo de quem olha;
- não convém deixar o escudo de pernas para o ar;
- convém deixar o escudo de pernas para o ar e ter o vermelho do lado esquerdo.

2. Transmissões televisivas
“Na, na, na, está na SIC o Mundial!” diz o hino daquela estação de televisão. Aos “nas” só falta o til. Reparem: O Mundial está na SIC? Nã, nã, nã! Pois é, o Mundial não está na SIC, porque a SIC não está a transmitir a esmagadora maioria dos jogos. Quer dizer, tanta publicidade, tanta algazarra, tanta canção a prometer-nos glória e o que realmente interessa neste campeonato de futebol – ver uma data de homens em calções e esperar que eles tirem a camisola quando marcarem um golo – fica relegado para quem tem Sport TV. É injusto! Quase não vou poder ver a selecção italiana. Ó raça abençoada, vê-se bem que Vénus vos protege desde Eneias!

3. Os nossos jogadores
Das inúmeras e esgotantes reportagens que se fizeram à volta dos nossos jogadores, houve uma que me interessou. No meio dos penteados dos jogadores, do número que calçam, das tatuagens (não estou a hiperbolizar nada, pois os aspectos que enunciei foram mesmo alvo de tempo de antena alargado), ouvi atenta o que alguns Tugas levaram na mala para a Alemanha.
CDs, DVDs, PSPs (não a polícia, mas a “Playstation”) e PCs (não os comunistas, mas o computador) foram objectos de eleição. Então, e os livros? Os LVs (LêVês; como todas as outras coisas tinham iniciais, fiz uma pequena adaptação) são essenciais em qualquer mala de viagem.
Tenho a certeza de que se lessem mais, os pontapés na gramática dos jogadores deixariam de ser tão certeiros. Por exemplo, o Petit já não diria no final de um jogo com o Barcelona que “os árbitros costumam favorecer os clubes mais grandes!”; também o Ricardo Costa, emocionado com a convocatória, já não diria que “o seleccionador sabe o que eu vale!”
Leiam, meninos, leiam! E tirem as camisolas quando marcarem um golo!

4. Candidatos a campeões do mundo
Brasil, Argentina, Itália… são algumas das eternas equipas à conquista da taça. Mas desenganem-se, porque há uma selecção muito mais perigosa: Trindade e Tobago. Se a Sérvia e Montenegro ainda fosse um país seriam outro grande candidato ao título.
Como jogam com dois países ou regiões, têm o dobro de hipóteses de vencer. Assim, nas primeiras partes, entram os trindaleses… trindalenses… e, nas segundas partes, os tobagueses… tobaguenhos… ora aí está, passam despercebidos, ninguém se lembra deles, porque também não sabem nomeá-los e, pimbas, já empataram com a Suécia.
Se o nosso país se chamasse Portugal e as Berlengas, o Mundial estava no papo!

5. A fuga dos deputados
No próximo 21 de Junho, a selecção portuguesa joga num dia da semana, pelo que os nossos ilustres deputados já declararam que não comparecerão na Assembleia da República, porque querem assistirem ao jogo. O presidente da República disse que não vê inconveniente nesta falta colectiva. Está tudo parvo ou quê?
Considero esta atitude altamente insultuosa a qualquer cidadão de bem. Ainda se o futebol resolvesse os nossos problemas na saúde, na educação e no desemprego, justificava-se a falta, mas como a bola não nos dá de comer (excepto aos jogadores, dirigentes e árbitros, através dos dirigentes) é triste deixar de lado as responsabilidades só por causa de um jogo. São os efeitos da tal pandemia terceiro mundista que nos vai inundando. Isto para não falar daquela tarde em que picaram o ponto e baldaram-se!
Se Portugal passar a fase de grupos, os deputados vão continuar a faltar? Espero bem que não, porque não é para isso que eu contribuo para os salários deles.
Aliás, tendo os deputados um trabalho importante para o país e podendo faltar por causa de um jogo de futebol, eu também posso faltar ao meu trabalho. Todos podem faltar. É isso mesmo! Portugueses e portuguesas, lanço um apelo ainda mais generalizado do que o das bandeiras nas janelas: vamos todos, sem excepção, faltar ao trabalho, paralisar e país e, desta maneira, custar milhões de euros ao Estado nesse dia. Não se preocupem que o Estado não vai reparar no buraco, pois será um entre muitos e estará tudo ocupado a ver o jogo.
O problema das faltas dos deputados tem, ainda, outra vertente: eles são um pouco totós! Em vez de faltarem às reuniões da Assembleia, podiam aproveitar para aprovar medidas impopulares. Enquanto o resto do país estava a fazer figas para que o Paulo Ferreira ficasse em tronco nu (pronto, admito, não é o resto do país, sou só eu!), podiam subir impostos, avançar com as centrais nucleares e reduzir o salário mínimo. Ninguém notava. Por estes dias, ninguém liga à política, logo os deputados podiam lançar imensos decretos. Só que nem para isso servem!
Maria Ortigão

CANTORIAS



Talvez na sequência de um grave ataque de loucura, deu-me para ver o “Festival da Canção”. Na verdade, só vi mesmo a final, prova de que provavelmente a minha maluquice ainda terá remédio.

1. Desfile de todas as canções a concurso

Apesar de ser uma competição entre vários países europeus, aquilo parecia mais o Festival da Canção Inglesa. Está bem que ajuda a perceber melhor as letras, mas penso que se perde um pouco da individualidade e riqueza linguística de cada país. Porém, no fundo, no fundo, a letra e a melodia pouco importam actualmente, pois o que está a dar é despir ao máximo as meninas e ter uma coreografia a apontar para o lascivo. Isso é que proporciona pontos.
No entanto, este ano foi diferente, o que muito me agradou. O grupo vencedor, representante da Finlândia, apresentou uma música mais “rock” e indumentária a condizer. Eram os “Lordie” que estavam caracterizados de monstros e vinham vestidinhos dos pés à cabeça.
Até a música era diferente das outras, mais “arrockalhada”, o que muito escandalizou o comentador da RTP, Eládio Clímaco. Ele não percebia como aquela canção estava a receber tantos votos. Dizia frequentemente que era “heavy metal”. Que exagero! Era, apenas, mais forte do que as outras que se pautavam por baladas arrastadíssimas ou por sons mais “pop/hip hop/dança” (mistura muito má!). Tenho a impressão de que um disco dos “Lordie” é um disco de canções de embalar para os “Moonspell”!
O facto é que Eládio estava tão atarantado que, nas despedidas, disse que nos voltaríamos a encontrar em Reiquiavique, na Finlândia.

2. O esquema das pontuações
Finalmente, percebi como se distribuem os pontos pelos países. Também percebi a razão pela qual o nosso país fica quase sempre tão mal classificado. Afinal, não é só porque as canções portuguesas são do piorio (salvo honradíssimas excepções, como os poemas cantados por Simone de Oliveira, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho…). O problema está na geografia. Pelo que me deu a entender, cada um dos países dá maior número de votos aos seus vizinhos. Ora, Portugal só tem um vizinho, a Espanha. Até nisto não fomos bafejados pela sorte, porque os espanhóis preferem todos ter diarreia a votar em nós!

Maria Ortigão

sábado, junho 10, 2006

Porque hoje é dia de (Luis Vaz de)Camões

Poesia, não era de meu agrado. Conheço o que dei na escola ou antes o que me deram. (Mas pretendo comprar a obra completa de aqueles de quem gostei.) Eis o meu favorito, banal; que até já deve ter sido aqui publicado... Repetidos sim, mas o que interessa se eu tenho prazer lendo-os?! O ano passado houve mais aqui.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.



Lembranças, que lembrais meu bem passado,
Pera que sinta mais o mal presente,
Deixai-me, se quereis, viver contente,
Não me deixeis morrer em tal estado.


Mas se também de tudo está ordenado
Viver, como se vê, tão descontente,
Venha, se vier, o bem por acidente,
E dê a morte fim a meu cuidado.

Que muito melhor é perder a vida,
Perdendo-se as lembranças da memória,
Pois fazem tanto dano ao pensamento.


Assim que nada perde quem perdida
A esperança traz de sua glória,
Se esta vida há-de ser sempre em tormento.


Ao desconcerto do Mundo

bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Luís de Camões

sexta-feira, junho 09, 2006

Fora de jogo

Contextualização: Por necessidade, pois o Virgílio Ferreira que me acompanhava nestes dias encontrava-se ausente, e por impulso de consumo, lá comprei a National Geographic. Ainda hesitei, mais futebol?!
Insurjo-me contra todos aqueles que colocam o futebol num altar enquanto derramam verborreia nas páginas de revistas e jornais, ousando descrevê-lo como o resultado de um «bailado-cósmico-supremo». (Terei eu acabado de fazer o mesmo?! Ilustração! Pura ilustração.) Uma questão de paixão, suponho. ...Palavras de amor, ridículas são...
É o lugar do futebol nisto tudo o que realmente me incomoda. (Neste momento, estão esquecidos: ordenados astronómicos, prémios?! e obras obsoletas.)
Apaguem os holofotes, cesse-se o bombardeamento mediático, fechem-se as torneiras das multinacionais e o futebol continuaria sendo um "catalisador" de povos e culturas?! Tenho a certeza que não; um pensamento à La Palisse: «o que desconhecemos não existe». Poucos "fenómenos" ultrapassam fronteiras por si só.
«Afinal a universalidade do futebol deve-se à sua simplicidade, ao facto de o jogo poder ser praticado em qualquer superfície, em qualquer clima, em qualquer região e com qualquer coisa. Na cidade, as crianças dão pontapés em latas ou no cimento; no campo, os miudos pontapeiam uma bola de trapos jogando em terra, de pé descalço. (...)» Sean Wilsey, na publicação já referida.
Quem escreve assim, escreve com paixão, mas não sabemos nós que ela cega?
Quem escreve assim, tem a visão limitada porque nunca viu crianças que fazem bolas de baseball de qualquer coisa é certo, e que na ausência de um taco batem a bola com o punho cerrado e correm para as bases numa equipa de dois elementos. Ou crianças tentando encestar num quadrado imaginário numa parede qualquer; e o que dizer dos dribles?!
Porque o Mundial deve ser uma festa, não a festa.
Manuela Quierós.