terça-feira, abril 12, 2005

HÁ COISAS QUE SÓ DEVEM ACONTECER EM PORTUGAL

1. Quando o telemóvel toca…
A freguesia de Gulpilhares do concelho de Vila Nova de Gaia, todos os anos, organiza um encontro de teatro amador. Tem sido assim, desde há sete anos. Durante todos os sábados e alguns feriados dos meses de Abril e Maio, sobem ao palco grupos de pessoas que amam (é esse o sentido etimológico da palavra amador) o teatro.
Estas companhias de teatro são compostas por pessoas comuns, que trabalham e que decidiram “sacrificar” os seus tempos livres a decorar falas por amor à arte, recebendo apenas em troca o calor dos aplausos.
Sendo eu uma “amadora” de teatro, nunca poderia perder estes espectáculos, muito menos quando são grátis. Note-se também que, apesar dos poucos meios que estes grupos teatrais dispõem, tenho sido brindada com não poucas brilhantes actuações e encenações, muitas de clássicos da dramaturgia mundial.
Lá estávamos eu e a Manuela a assistir à primeira peça, quando um toque de telemóvel, ainda por cima, uma daquelas músicas maricas que por aí andam, interrompe a concentração da plateia e a dos actores, pois certamente deve ser uma das coisas mais irritantes para quem está a tentar dar o seu melhor.
Todavia, o pior ainda estava por acontecer. Não só o telemóvel não parava de tocar, como a dona de tal bichinho ruidoso resolve atender! Enquanto se levantava e saía da sala de espectáculos, tivemos de ouvir a chamada telefónica.
O pior é que, pouco depois, reparei que um senhor, sentado na fila em frente à minha, estava sempre a bichanar e, olhando melhor, descobri que também atendia um telefonema!
Mas pior pior, foi que, no sábado seguinte, tamanha barbaridade voltou a acontecer, pois uma senhora de provecta idade não só atendeu o telemóvel, que não parava de tocar, como se deu ao luxo de falar alto e, nem com os protestos dos outros espectadores, se coibiu de desejar uns ruidosos “beijinhos à família”!!!
Os momentos que acabei de descrever eram dignos de, à semelhança de um desenho animado, cair um piano em cima de tão grandes cabeças ocas. Ou também podia acontecer como no anúncio publicitário e o meu indicador ganhasse poderes mágicos e a meu bel-prazer cosesse aquelas matracas. Enfim, estas pessoas deviam ser proibidas de usar telemóvel, sob pena de pesada coima. É uma falta de respeito por quem assiste, mas em especial por quem actua.
Curiosamente, já levei jovens ao teatro que, durante a peça, demonstraram um comportamento irrepreensível, muito diferente do destes “adultos responsáveis”!


2. Quando o telemóvel toca… e a saga continua!
Gostava de saber o que o código da estrada diz sobre o uso de telemóveis. É claro que o binómio telemóvel-veículo motorizado é proibido. Mas e se for num veículo não motorizado? Digamos uma bicicleta? Pensava eu que já era difícil estar agarrada ao volante e ao telemóvel ao mesmo tempo, logo, impossível fazê-lo agarrada a um guiador. A pensar, a pensar…
A verdade é que os portugueses são muito engenhosos e parece que as artes circenses são uma tradição lusa! As nossas habilidades estão para além dos “robots” que jogam futebol ou de perder com a Grécia no final do Euro2004!
Estava eu à espera de um transporte público, quando ouvi um daqueles muito característicos toques de mensagem recebida. Não era o meu, mas era o de um senhor que se aproximava, pedalando afoitamente. Com uma acrobacia digna do “Circo Chen”, tirou o telemóvel da mochila, que levava às costas, e leu a mensagem, sem nunca parar de pedalar. Por esta altura, já eu tinha aberto uma banquinha de apostas: iria o telemóvel despedaçar-se no chão?; demoraria muito a que o estóico ciclista caísse, pois ziguezagueva constantemente no meio da rua?; ou seria atropelado por um automóvel? No entanto, é bem verdade quando se diz que a sorte protege os audazes! Não lhe aconteceu nada, mas, pelo menos, conscientemente ou não, lá acabou por parar para responder à mensagem.
Apesar de tudo ter corrido bem, caros leitores, não experimentem isto nas vossas bicicletas.
Entretanto, era bom que se propusesse uma nova alínea ao código!

Maria Ortigão



2 comentários:

Anónimo disse...

Sucedeu há tempos algo de parecido num concerto de Pedro Burmester. Mas aí o homem teve a decência de se levantar e ir embora. É evidente que aquelas pessoas não estavam ali para ouvir Piano... Talvez esta fosse uma boa medida para tentar irradicar a praga

Anónimo disse...

Estas coisas das leis não podem ser todas feitas ao mesmo tempo, cobrindo todas as situações - não é humanamente possível. Isto do telemóvel só há pouco foi legislado, pois, também só há pouco (um bocadinho mais longo) começou a suscitar problemas. Portanto, acho que, quando a utilização do telemóvel se tornar, porventura, perigosa por parte dos (loucos) ciclistas, talvez saia nova legislação.
Pela tua ordem de ideias, também devias querer um lei que proíbisse o uso de telemóveis pelos peões!!! Não sei se já viste, mas existe quem atravesse a rua a falar ou a escrever mensagens no telemóvel - também é perigoso!!!

Um dia destes no Inimigo Público caricaturaram a situação, pois são proíbidas actividades susceptíveis de perturbar a condução, mas o uso de telemóveis está agora especificado há parte. Ou seja, não podes falar ao telemóvel em qualquer situação, mas podes, por exemplo, pintar as unhas dos pés, desde que isso não perturbe a tua condução!!!
É este o problema de tentar especificar demasiado as situações.