terça-feira, março 22, 2005

DESCRISIFIQUEMOS


1. Supermercados farmacêuticos e outras propostas
A primeira medida do anterior governo foi descentralizar algumas secretarias de estado. Por sua vez, a primeira medida do actual governo foi autorizar que alguns medicamentos possam também ser vendidos em grandes superfícies comerciais. Não há dúvida de que, tanto à direita como à esquerda, estão todos empenhadíssimos em acabar com a crise, dadas as medidas de fundo que implementam. De facto, o simples acto de comprar uma aspirina no supermercado pode ser um pequeno passo para o cidadão comum, mas é, na realidade, um passo decisivo para acabar com o desemprego, com o trabalho precário, com a fuga ao fisco, enfim com a injustiça sócio-económica.
Como é que ninguém tinha pensado nisso antes? É bem verdade quando se diz que as boas ideias só se desenvolvem nas mentes mais iluminadas. É espantoso que, com tantos génios (= políticos), Portugal está na situação que está!
Aguardamos, por isso, pelas próximas intervenções cruciais, que permitirão aos portugueses trocar a tanga por uns calçõezitos. Talvez:
a) clarificação de “sistema”, cujo coordenador dos trabalhos será Dias da Cunha, para que, de uma vez por todas, o população portuguesa saiba do que se trata;
b) remodelação do espaço da Assembleia da República (mais cor, mais flores, mais lacinhos…), tornando as transmissões televisivas mais atractivas;
c) proibição da venda de pastilhas elásticas a pessoas maiores de 75 anos, evitando custos desnecessários nas suas pensões de miséria.
Espero, desta maneira, ter contribuído para o programa do governo e, consequentemente, para a melhoria de vida dos portugueses.

2. Debaixo do secador, lendo a “Maria”.
Através de blocos informativos, fiquei a saber que a manhã parlamentar de hoje ficou-se por um único assunto: será Freitas do Amaral um anti-americano primário?
Para quem teve a sorte de não assistir à discussão (eu infelizmente fui vítima do destino, porque estava no sítio errado, à hora errada), o quadro cénico resume-se em poucas palavras. Assim, um deputado popular salta da sua cadeira e diz que o ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que Bush era parecido com Hitler, Franco e Pinochet. Por sua vez, Freitas do Amaral reitera que não disse nada disso, que estão a deturpar as suas afirmações. Volta o deputado à carga, munido de um livro, prefaciado pelo ministro, e lê algumas frases que, segundo ele, provam o seu ponto de vista. Em seguida, responde o ex-amado líder do PP que o seu interlocutor não está a ler convenientemente a citada passagem… e por aí adiante. Uff!!! Aposto que foi tão chato para mim como para quem acabou de ler!
Longe de mim intrometer-me em arrufos de ex-namorados, mas o país precisa é de discussões sérias sobre temas que valham realmente a pena. No estado em que a nação se encontra, não é lícito perder-se uma manhã de debate parlamentar a discutir parecenças entre líderes estrangeiros.
Não quero ser deputada… bem, passar o dia sem fazer nada, fazer umas viagens de borla e ainda receber um ordenado chorudo… como estava a dizer, acho que não quero ser deputada, mas se, hoje, estivesse no Parlamento, certamente que diria qualquer coisa do género (desculpem, agora diz-se tipo):
Senhor Presidente da Assembleia da República, caros deputados:
Mas está tudo parvo ou quê? As meninas desonradas do PP importam-se de parar com a conversa de cabeleireiro? O país está a contar com o novo Parlamento, espera dinamismo, vontade de mudar e, é claro, ideias concretas. Não queremos mais prima-donas, mas sim carpinteiros de barba rija.
Valha-vos (completar com o nome do santo protector dos políticos). Talvez Mefistófeles?

Maria Ortigão

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