quarta-feira, fevereiro 07, 2007

O Inventão

«Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é tudo o que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há:
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram a tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, paises por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu não posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sitio onde só eu ia...»


Às vezes é assim, saimos para comprar pão e levamos com poesia, numa bela iniciativa, de não sei qual organização, as sacas da padaria eram impressas com poemas portugueses, só três ao que parece, mas suficientes para fazer a diferença, este é de Manuel António Pina, "O Inventão", Lisboa: Afrontamento, 1987. 77 p.
O negrito é meu, talvez o meu verso favorito nesta composição.
M.Q.

1 comentário:

Waldir disse...

É realmente um poema notável. Todo o livro o é, aliás. Obrigado por colocar este poema online e dar-nos a oportunidade de reviver um dos momentos da experiência magnífica que foi ler este livro :)