Não gosto de touradas. Não percebo que objectivos têm. Não concebo como é possível alguém se entusiasmar com tal “espectáculo”. Penso que já basta os animais terem de morrer para nos alimentar, sendo, por isso, totalmente desnecessário torturá-los de um modo bárbaro e sanguinário.
Mas cada um é como cada qual, há quem diga.
No programa “A Voz do Cidadão”, abordou-se o tema das touradas, porque a RTP, sobretudo durante o Verão, recebe bastantes cartas e “e-mails” quer a condenar quer a incentivar a transmissão televisiva das corridas de touros. Promoveu-se, assim, uma série de entrevistas entre aqueles que estão contra e os que estão a favor. Muito bem, é importante ouvir os argumentos de ambas as partes para depois os analisar devidamente. O problema é que o tempo de antena dado aos apoiantes das touradas foi escandalosamente superior ao dos que reprovam tais actos. Convenhamos que, desta maneira, torna-se um pouco difícil abordar a questão com o mínimo de objectividade.
E foi entre o incrédula e o muito divertida que ouvi as razões dos aficionados. Decidi comentar algumas. As primeiras duas são já um clássico, enquanto as duas últimas não cabem na cabeça de ninguém.
1. A tourada é uma arte e uma tradição.
Consultei a lista das actividades que são mundialmente consideradas como arte e, claro está, não encontrei a tourada. Pode-se pintar um quadro sobre a tourada, fazer um bailado ou uma ópera (ex.: “Cármen”), escrever livros (ex.: Hemingway) ou realizar filmes, mas andar a espetar bandarilhas em animais não é arte.
No que toca à tradição, fiquem-se pela tradição do bolo-rei no Natal e pelo Algarve em Agosto e deixem os bichinhos em paz.
Na “Declaração Universal do Direitos do Animal”, pode ler-se que “o respeito pelos animais, por parte do homem, está relacionado com o respeito dos homens entre eles próprios.” e “A experimentação animal que implique um sofrimento físico e psicológico é incompatível com os direitos do animal quer se trate de experimentações médicas, científicas, comerciais ou qualquer outra forma de experimentações.” Fazer desta “Declaração” uma tradição era mais interessante.
2. A tourada não é uma luta, é um confronto.
Ah, pois! Agora ficou tudo mais claro. Se tivessem dito logo isso, as minhas reticências em relação à tourada desapareceriam num instante. A diferença entre luta e confronto é óbvia… está-se mesmo a ver que é em… no coiso… enfim, lutar não é o mesmo que confrontar, porque… são duas palavras distintas, pois… uma tem duas sílabas, a outra tem três… e tal…
3. O touro só sofre durante uns dez minutos.
Eu ainda estava a tentar descobrir o que distinguia luta e confronto, quando apareceu um jovem, bastante atraente, a dizer que o touro tem uma vida boa nos campos desde o nascimento e que, na arena, só sofre durante uns dez minutos! Se, um dia, encontrar este rapaz na rua e começar a pontapeá-lo e a socá-lo, ele que não se preocupe, porque só vai sofrer durante uns dez minutos. E o que é isso comparado com a vida boa que teve desde o nascimento?
Maria Ortigão
1 comentário:
Tenho a dizer que gostei bastante da tua "distinção" entre confronto e luta =) Mas, de um modo geral, um confronto não tem de ser uma luta! Associo a luta a algo mais violento e o confronto a algo mais racional. O problema é que, na ausência de racionalidade, o confronto resume-se a uma luta (se for físico) ou a uma birra (se não entrarmos no campo da violência física).
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