É inacreditável! Absolutamente, inacreditável! Cá estou eu, outra vez, para contar mais uma enormidade daquela gente de uma espécie humanóide rara que dá pelo nome de empregado… desculpem, agora, ninguém é empregado, mas funcionário… que se conhece, dizia eu, como funcionário público da Segurança Social. É que estou completamente abismada com o último acontecimento. Quando se pensa que já não nos podem surpreender, dadas as suas tão limitadas capacidades…
O telefone tocou. Do outro lado da linha era a funcionária responsável pelo processo insólito que a minha mãe tinha aberto. “Oh, não!” – pensei eu – “O que é que perderam, desta vez? A réstia de inteligência que eu acreditava que eles ainda tinham?” Não, estava tudo em ordem. A simpática senhora tinha ligado para avisar que já estava tudo tratado e não haveria mais problemas. Ora muito bem, finalmente, uma boa notícia!
Pois, pois, simpática, não era? Eficiente, não era? Devia ter desconfiado que o telefonema trazia água no bico! A notícia de que a situação se tinha resolvido era apenas uma desculpa, pura fachada, para o que a funcionária queria. Não é que aquela BURRA, mostrando-se muito ofendida, começou por dizer que a minha reclamação no Livro Amarelo tinha sido uma bofetada que ela não merecia? Estupefacta, tentei explicar àquela ESTÚPIDA que o meu texto era muito explícito, ou seja, eu tinha reclamado da instituição, da maneira como os superiores tinham conduzido o processo e como (essa, sim, uma bofetada à minha mãe) tinham perdido as cópias que haviam sido levadas das primeiras vezes que lá nos deslocámos. Aliás, nem sequer referira o nome dela, porque simplesmente não havia motivo. Eu sabia perfeitamente que ela não tinha culpa do que acontecera, por isso não a visei na reclamação nem nunca o faria.
No entanto, aquela IDIOTA, com um discurso de virgem ofendida e com um tom de voz mais irritante que o de José Castelo Branco, não parava de dizer que era uma pessoa idónea, que tinha levado o caso a peito, que não descansou enquanto não o deslindou (como fazia sempre) e que não tinha culpa de as colegas não terem introduzido bem os dados no computador desde 2003 (data em que supostamente a minha mãe deixara de contribuir para a Segurança Social). A partir daqui, percebi logo que estava a falar com um CALHAU COM OLHOS. Bem me esforçava por lhe fazer entender que eu não tinha reclamado dela e que quem assim pensasse era ATRASADO MENTAL e que… espera aí! A senhora não tinha culpa de as colegas não terem introduzido bem os dados no computador desde 2003? Então e a alegada falha informática que não se sabia de onde vinha, quem era e para onde ia, que tentaram impingir-nos desde o primeiro dia? Afinal, eu tinha razão, o problema foi humano e não da máquina.
Aproveitando os comprometedores segundos de silêncio da ANORMAL, resolve desbobinar o meu discurso:
- era preciso ter muita lata para me censurar pela minha reclamação depois de tudo o que fizeram a minha mãe passar, sem sequer ter ouvido um pedido de desculpas; tinha todo o direito de reclamar e exerci esse direito;
- a senhora fez simplesmente o seu trabalho que consistia em resolver uma situação que as colegas criaram; não era tentar resolver, era resolver e ponto; diga-se de passagem que é muito pouco dignificante estar a auto-elogiar tudo o que fez como se fosse um trabalho hercúleo; afinal, é paga para isso mesmo; o que queria? Uma cerimónia ao estilo beija-mão ou estaria à espera de uma “recompensa” pela dureza dos escolhos que teve de enfrentar?;
- se é assim tão competente, não percebo porque toma as dores de parto das colegas incompetentes; se eu trabalhasse num sítio pejado de ABÉCULAS, não as defenderia quando alguém delas reclamasse;
- se ficou chocada com a minha atitude é azar o dela, pois já lhe tinha mostrado que não tinha razões para isso;
- se estava à espera de um pedido de desculpas, a espera seria infinita;
- e até tinha sorte se eu, amanhã, não fosse à nobre instituição fazer uma reclamação daquele inusitado telefonema.
E desliguei. Arre, que há ASNOS difíceis de aturar! Aquela gente é mesmo DEFICIENTE! A partir de agora, para mim, o pior insulto será chamarem-me filha de uma funcionária da Segurança Social!
Se houver alguém interessado em adaptar para cinema as farpas sobre este tema, pode ser que se faça um filme de terror digno do Fantas.
Ainda pensei seriamente em ir lá fazer outra reclamação, mas, coitados, é dos POBRES DE ESPÍRITO o reino dos céus…
Maria Ortigão