sábado, agosto 06, 2005

6 de Agosto de 1945

« Little boy, nome sinistro para uma bomba que ia matar milhares de pessoas, rebentou a 580 metros de altitude, mesmo por cima do hospital Shima, com uma força correspondente a 15 mil toneladas de TNT. Uma bola de fogo com uma temperatura de vários milhões de graus centígrados no momento da detonação, registando sete mil graus centígrados passados 0,3 segundos, e lançando raios térmicos que iriam queimar carne humana a uma distância de 3,5 quilómetros. Quinze por cento de energia foi libertada como radiação, seguida imediatamente por uma explosão de ar vindo da atmósfera superaquecida que viajou à velocidade de 28 metros por segundo mesmo a três quilómetros do hipocentro, arrasando praticamente tudo o que encontrou à frente.
Yasuhiko Takeda
Nascido em 1932, tinha 12 anos na altura do bombardeamento de Hiroxima.
«De repente, um clarão. Uma luz branca azulada que cegava. Por um instante, os carris, as carruagens, a plataforma, tudo desapareceu da minha vista. Depois a explosão. A pele da minha barriga parecia que se ia rasgar e cuspir os meus intestinos. Partículas cor de laranja avançavam lentamente. De repente, aumentaram e trasformaram-se numa enorme massa de fogo que caía sobre sobre nós. Colunas de chamas saíam da terra em remoinho soltando setas de luz de todas as cores. Beleza feroz e terror indizível! Comecei a sentir arrepios de frio por todo o corpo e a tremer. Virei-me e pensei: tenho de fugir! O abrigo antiaéreo estava cheio de gente, por isso enfiei-me debaixo de um banco com as mãos a tapas os ouvidos. Ouvia "za za za za", com os disparos de uma metralhadora, eram as potentes ondas de choque.» »
In Notícias Magazine, # 688. Páginas 38 e 44.
Manuela Queirós e Maria Ortigão.

2 comentários:

Anónimo disse...

«Porque era uma arma nova, surpreendente e de uma capacidade destrutiva, em princípio, ilimitada, a bomba de Hiroshima acabou por se tornar, durante a guerra-fria, no símbolo por excelência da "barbárie americana". Um símbolo que ainda hoje a esquerda leva a sério e que, além disso, supõe representar arealidade histórica. Nunca ninguém se enganou a sobrestimar a imbecilidade humana. De facto, em 6 de Agosto de 1945 Hiroshima chegou no fim de uma longa campanha contra as populações civis dos países beligerantes, que Hitler já tinha experimentado em Espanha e continuou, metodicamente, na Holanda, na Bélgica, em França, na Inglaterra e na Rússia. Vale a pena dizer que, sobretudo na Rússia, morreram milhões? Parece que sim. Ontem mesmo houve quem escrevesse, "sem hesitação", e sem cérebro, que Hiroshima foi "o acto mais brutal de terrorismo da história contemporânea".
Ironicamente, a Inglaterra precedeu a Alemanha (para não falar da América) na convicção de que o "bombardeamento de massa" ou "de área" era o meio moderno de ganhar a guerra. O próprio Churchill aceitou desde o princípio (e na oposição a Chamberlain) esta doutrina básica e, em 1939, a força de bombardeio inglesa já superava largamente a alemã. Até ao fim, a RAF, arrasou, à noite e com crescente eficiência as cidades da Alemanha, sem grande preocupação pelo seu valor industrial ou estratégico. Hamburgo (50.000 mortos), Dresden (pelo menos, 40.000) e Berlim (à volta de 50.000) ficaram como um exemplo particularmente ilustrativo de uma guerra calculada e fria contra a população civil (de resto, ao contrário da lenda, bastante eficaz). No Oriente, o general americano Curtis LeMay obliterou Tóquio, Nagoya, Kobe, Osaka, Yokohama, Kasawaki e dezenas de outras cidades. Morreu quase um milhão de pessoas (contra 600.000 na Alemanha). Bloqueado e sem gasolina, o Japão estava perdido. Mas ninguém esquecera Iwojima e Okinawa. Em Okinawa (Abril-Junho de 1945), de uma guarnição de 120.000, 110.000 tinham morrido em combate (ou por suicídio) e só 7.400 se tinham entregue. No território principal do Império, o exército japonês estava intacto e bem municiado. Muito longe, na fronteira da Manchúria, os russos não podiam ajudar. Quanto custaria uma invasão? Alegam agora que o Japão se queria render. Se queria, não o declarou. A escolha era clara: repetir Okinawa numa escala imensa ou usar a bomba. Truman usou a bomba. Poupou milhões: de americanos e, principalmente, de japoneses. .»

Vasco Pulido Valente, Público de hoje

Esta questão é demasiado complexa para ser tratada com ligeireza dogmática. Como veêm, há muita gente inteligente, séria e honesta que não pensa como vós. Habituem-se...

Anónimo disse...

Já que estamos em maré de sugestões de leitura sobre esta matéria, atrevo-me a sugerir ao Sr. Anónimo uma leitura ao post intitulado "Bomba Atómica: Porquê?" no blog "Estranho Estrangeiro"...

Helena