terça-feira, julho 19, 2005

AGUENTA-TE COM ESTA!


Resolvi escrever a presente farpa na sequência de um comentário de MRA e de um acontecimento recente por mim presenciado.
Antes de começar, agradeço a visita que MRA e que Celemen fizeram ao nosso cantinho, na grande rede.
No texto “Top 5 dos automobilizados”, as frases citadas são perfeitamente inocentes, no fundo, são pequenas piadas do dia-a-dia. Por outro lado, a que MRA nos deixou – após um acidente, há quem profira a pérola “Logo hoje que eu ia devagar!” – é mais preocupante, porque revela a má educação, o pouco cuidado, a irresponsabilidade, em resumo, a falta de civismo que, em Portugal, é sinónimo de condução. Conduz-se sob o efeito de álcool, em excesso de velocidade, acontecem manobras perigosas e, no fim, só há um culpado para os acidentes – as estradas, essas assassinas! Sim, sei que há vias em mau estado, mal sinalizadas e até mesmo com defeitos, mas é tapar o sol com a peneira ao não se admitir que é a imprudência que mais mata nas estradas portuguesas.
Eu, para além de ser pendura, sou uma pendura chata, melga, impossível de aturar. Resmungo quando o condutor atende o telemóvel, quando vai muito depressa, quando quer beber antes de conduzir, grito “Cuidado com o gato!”, quando o bichano está a um quilómetro de distância e a cinco metros da faixa de rodagem… Custa-me ter de fazer esse papel, mordo-me toda, pois sei que para os outros estou a ser histérica, talvez impertinente. Custa-me, mas a minha vida custa mais. Sempre fui muito sensível nisto de se conduzir com segurança e mais sensível fiquei depois de quase ter sido atirada para uma cadeira de rodas por alguém que estava com pressa e resolveu fazer uma manobra perigosa.
Recentemente, entre amigos, um condutor bebeu vinho ao jantar e depois mais um copo num bar. Aqui a Super-Melga alertou logo para o facto de ele ter de conduzir. Resposta brilhante: “Eu aguento bem!” Quando se fala em alterar o código da estrada, há sempre duas facções distintas: uns defendem que é necessário investir na informação e formação dos condutores, outros acham que se deve aumentar as multas. Pois bem, ao ouvir aquela resposta (de uma pessoa, ainda por cima, bem formada) só me apetecia aumentar as multas e depois perguntar-lhe: “E com esta aguentas bem?” E será que aguentará bem quando destruir o carro, quando for parar ao hospital, quando matar alguém ou se matar a si próprio? “Tá-se bem?”
Lembrei-me agora de um episódio mais antigo, em que, também num grupo de amigos, um espertalhaço resolveu, muito ufano, relatar as suas façanhas ao volante, nomeadamente, manobras perigosíssimas, macho que é macho não anda a menos de 100 km/h e outros atentados à sanidade pública. A referida pessoa até já tinha tido acidentes, mas, sabem como é, o verdadeiro herói não se deixa abater pelas contrariedades da vida. O mais engraçado de tudo é que a maior parte da audiência ouvia-o atentamente e achava-lhe imensa graça!!! É claro que eu estava de trombas e com vontade de transformar o copo de vidro que tinha à minha frente numa arma de arremesso. Para relaxar, deixo algumas frases que me devem ter passado pela cabeça:
- Quanto é que ele terá tirado na cadeira de Estupidez Aplicada à Condução?;
- Se a estupidez for contagiosa, posso estar descansada que ele está muito longe de mim!;
- Será que alguém repara se eu for lá fora esvaziar-lhe os quatro pneus?;
- O que vai ser o meu almoço amanhã?
Para terminar, deixo uma pergunta que me passou pela cabeça, quando estava deitada numa maca, num corredor do hospital, à espera de saber se tinha a coluna partida: Por que motivo os irresponsáveis que provocam acidentes raramente se magoam, enquanto os que levam com eles em cima é que ficam feridos?


Maria Ortigão



2 comentários:

Anónimo disse...

"O que vai ser o meu almoço amanhã?" Ora aí está um pensamento que vou guardar em mente para ocasiões especiais ;)

MRA disse...

E estas são só algumas histórias...haveria tanto para contar. Só para vermos as diferenças, estava eu num destes dias, a ver um programa holandês sobre condutores inconscientes! O programa é tipo reality show, anda uma equipa, com cameras, à procura dos loucos do volante. Eis quando, descobrem um "louco" e seguem-no! Depois, quando o entrevistam, ele pede desculpa e explica que estava atrasado para algo! Sabem qual era a infracção, a loucura? 70 km dentro das localidades!!! Imaginem esse programa em Portugal!

Até breve