sexta-feira, fevereiro 18, 2005

A CULPA É SEMPRE DO JORGE

Interrogado sobre a percentagem de desemprego, que disparou nos últimos quatro meses, o nosso ex-primeiro teve a brilhante resposta de que nada disto teria acontecido se o presidente da República não tivesse dissolvido o governo. Apesar de tudo, há que admitir que o homem até tem piada!
É uma boa táctica culpar o Jorge por todos os males da nação. Conclui-se, portanto, que fiascos como a colocação de professores, as portagens nas SCUT, os hospitais SA, as constantes subidas dos preços dos combustíveis – acho melhor não continuar, porque não quero ser acusada de contribuir para a depressão nacional – estão directamente relacionados com a incompetência do presidente, pois não deu oportunidade a Santana de mostrar o que valia.
Além disso, o líder do PPD ainda se mostrou orgulhoso de ter havido, no mandato laranja, um acentuado decréscimo nas greves. Ora, se há cada vez mais desempregados, é lógico que há cada vez menos greves, porque, exactamente, não há pessoas que as façam. E os que ainda têm emprego, ao olhar para a conjuntura do país, estão demasiado assustados para protestar, não vão mas é ficar sem o pouco que têm. Pedrinho, isto é tão certo como Chopin tocar piano!
No entanto, tenho a impressão que a culpa é do presidente que não deixou o governo dar um novo alento às greves!
Aliás, por este novo prisma, não tenho dúvidas de que a coligação PSD – PP foi guilhotinada pelo presidente, quando se preparava para enobrecer a nação. Assim, Jorge Sampaio é culpado, entre outras coisas, de:
- haver seca em Portugal;
- o campeonato de futebol estar bastante equilibrado;
- a carta de Santana não ter chegado até mim, o que é um óbvio indício de que os CTT não funcionam bem;
- a selecção portuguesa ter perdido o Europeu de futebol;
- a Terra girar em volta do Sol;
- D. Afonso Henriques ter proclamado o reino de Portugal;
- os cães ladrarem e os gatos miarem.
Ah, não houvesse intervenção presidencial e Santana teria mudado o mundo!!!
Brincadeiras à parte, Sampaio tem culpa, sim, e muita. Isto de fazer Santana primeiro-ministro, quando a maioria da nação pedia eleições, era digno de prisão perpétua. E justificar a sua decisão em nome da estabilidade… Jorge, estamos a falar de Pedro Santana Lopes, certo? Até Lobo Antunes disse que pior que este executivo era impossível!
No fim de contas, o que o dirigente laranja precisa não é de colo nem de carinho, como ele gosta tanto de referir, precisa é de uns bons tabefes, que, às vezes, educam mais que umas palmadinhas nas costas.

Maria Ortigão

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