quinta-feira, setembro 28, 2006

Há muito tempo que queria publicar isto

Amor
Neste baralho de cartas
Há Reis
Rainhas
Damas
Valetes
Ouros
Espadas
Paus
Só nos restam os palpitantes corações das vermelhas copas.
E. Melo e Castro
Tomei conhecimento deste poema em Serralves, copiei-o na hora e decorei-o, coisa rara em mim. Era um manuscrito e tivemos dificuldade em perceber a letra, não sei se está correcto. Procurei na net mas não achei, ainda.
Manuela.

terça-feira, setembro 26, 2006

O VERDADEIRO GIL VICENTE


Após as últimas notícias que abalaram a sociedade portuguesa, resolvi ir ao encontro de quem tanto se fala – o próprio Gil Vicente. Não fui à procura de respostas para o caso Mateus nem estou interessada em saber quem tem razão. Limitei-me a trocar umas ideias com aquela grande figura da história e da literatura portuguesas.

Maria Ortigão: Mestre Gil, muito obrigada por nos ter dado a honra da sua presença.

Gil Vicente: Ora essa! Muito me apraz viajar no tempo. Além disso, há uns anos, fui entrevistado por José Jorge Letria…

MO: Uma entrevista que deu um belíssimo livro, “Conversa com Gil Vicente”.

GV: Pois foi! Por isso, resolvi voltar.

MO: Sabe que, hoje em dia, todos falam de si?

GV: Sinto-me emocionado por atestar que, depois de tantos séculos, as minhas obras ainda são lidas!

MO: Lamento dizer-lhe que as gentes portuguesas estão mais interessadas em seguir as desventuras de Floribella do que em ler os seus escritos.

GV: Esse nome não me é estranho! Ah, já me lembro! O José Jorge Letria mostrou-me alguma poesia do século XX e agradei-me dessa Floribella Espanca.

MO: (risos) Está a fazer confusão, Mestre! Se bem que a Floribella devia ser espancada por ser uma das causas da estupidificação da juventude portuguesa.

GV: Não estou a perceber…

MO: Esqueça a Floribella. Há uma equipa de futebol que se chama Gil Vicente e que está a provocar muita confusão…
GV: O que é futebol?

MO: É um jogo que foi inventado pelos ingleses. Defrontam-se duas equipas de onze jogadores e ganha aquela que conseguir introduzir mais vezes uma bola por entre os dois postes adversários. Só se pode jogar com os membros inferiores, tronco e cabeça.

GV: Que jogo estranho! Mas confesso que quase só percebo de teatro.

MO: Modéstia a sua. Dizem à boca pequena que foi mestre da balança da Casa da Moeda, um notável ourives e organizador das festas palacianas.

GV: Diz-se muita coisa… Sem dúvida que o teatro é a minha grande paixão.

MO: Ficaria espantado se soubesse a quantidade de teatro que os jogadores de futebol fazem. O melhor actor é, sem dúvida, João Pinto.

GV: Bons actores é muito difícil de se encontrar.

MO: E entre os dirigentes de futebol encontraria excelentes farsantes!

GV: Soa-me a ironia e de ironia percebo eu.

MO: É a mais pura das realidades.

GV: Então, o que aconteceu à equipa que tem o meu nome?

MO: Por problemas que teve na utilização de um jogador, foi condenada a entrar na barca do Inferno, ou seja, a descer de escalão.

GV: Que lástima! Depreendo que devia ter pelejado sob a cruz de Cristo.

MO: A cruz de Cristo é o símbolo do Belenenses, outra equipa metida nesta confusão.

GV: Belenenses? De Belém? De onde saíram as caravelas em busca de novos mundos?
MO: Sim, é dessa zona.

GV: Oh, grandiosos tempos! Os nossos marinheiros eram os mais valentes, descobrimos o Brasil…

MO: Achámos. Agora, diz-se achamento do Brasil.

GV: Chegámos até à Índia por mar; Lisboa fervilhava de actividade comercial; éramos das nações mais ricas do mundo!

MO: Tempos muito longínquos!

GV: Mas também havia problemas. Por exemplo, o número de frades dissolutos era elevadíssimo!

MO: Entre frades e leigos, temos o processo Casa Pia.

GV: A corrupção era prática corrente nos cargos administrativos.

MO: Desde o século XVI, os portugueses aperfeiçoaram-se bastante nessa arte: Apito Dourado, Saco Azul…

GV: Os ricos estavam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

MO: Há coisas que nunca mudam.


Fim da primeira parte.

Maria Ortigão

quarta-feira, setembro 13, 2006

Para a Isabel, Parabéns

Identidade

Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que ha' no sofrimento.

Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Da' beleza e sentido a cada grito.

Mas como as inscrições nas penedias
Tem maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção.
Miguel torga.

Manuela.