quinta-feira, abril 05, 2007

O MENOR PORTUGUÊS DE SEMPRE



Não vejo grande interesse em eleger o maior português de sempre, mas fui acompanhando o programa televisivo. Pelo menos, produziram-se documentários que deram a conhecer algumas das nossas mais importantes figuras. Apesar de, por exemplo, a biografia de Fernando Pessoa ter sido emita depois da meia-noite por causa de um jogo de futebol. Trocar o horário da bola é que não! O futebol é sagradinho! Escritores que só servem para nos dar cabo dos neurónios no 12.º ano e que, ainda por cima, não sabem muito bem que personalidade assumir, ficam lá para os confins da madrugada! Se calhar, foi o amor (quase doentio) dos lusos pelo futebol que deu a vitória a Salazar, ou não tivesse este “grande” português celebrizado a máxima “Fado-Futebol-Fátima”.
Quaisquer que sejam as razões que levaram a esmagadora maioria das pessoas a votar em Salazar:
- boicote ao programa;
- manifestação de desagrado pelo estado do país, quando já lá vão 33 anos de democracia;
- admiração pelo “senhor”;
- pura ignorância…
considero vergonhoso considerarem-no o maior português de todos os tempos. E arrepiante também!
Entretanto, andei a pensar e, caso algum estrangeiro me perguntar sobre esta figura, resumi-la-ei assim:
- a única coisa boa que Salazar fez foi cair da cadeira;
- uma das piores coisas que fez foi não ter caído da cadeira mais cedo.

Permitam-me, para finalizar, a inclusão de um poema de Fernando Pessoa, ele, sim, um verdadeiro grande português:

António de Oliveira Salazar

António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular…
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu…

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho,
Nem sequer sozinho…

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé,
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho
Nem até
Café.


Maria Ortigão

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